Minha mãe bordava ao
bastidor, lençóis da nossa casa, bordava florais azuis, tão lindos.....
Com pássaros e
borboletas, bordava um mundo, enchia, de sonhos e cores, a nossa casinha tão
simples e tão esmerada por ela.
À noite, depois de
todos os cansaços, abria a porta da frente, olhava para mim e sorria; nas mãos,
uma caixa com linhas, agulhas e poesias, para nós, ela tecia contente.
Havia na sala grande,
e quase vazia, uma rede sempre armada e poltronas azuis de veludo, bordadas...
Era ali onde ela escrevia, com linhas, as cores que nos enfeitava.
...E se deleitava
distraída ouvindo valsas. Ao seu lado havia sempre uma magra menina com cabelos
longos e pretos, com duas longas e mal feitas tranças: eu as fazia como quem
bordava -o rosto- Não sabia de mim, apenas existia e era feliz.
Ela gostava de bordar
os panos da casa, era muito linda e ainda é.
Mas naquelas noites, naquelas
tarde de frescas e variadas linhas e cores, enquanto eu ficava sentada olhando,
querendo aprender, às vezes eu dançava, dançava, ficava tonta e adormecia
.Rs....
Minha mãe não era
mulher prendada na cozinha, isto era trabalho para Zefinha.
Era minha mãe aquela
mulher magra e forte, que durante toda a sua vida acordou cedo e, a pé, ia
trabalhar.
Mãe de cinco filhos, séria,
mas risonha, tinha segredos no olhar, tinha um poema no peito e a vida para
ninar.
Em outras noites,
quando chovia e tínhamos medo do trovão, ela ao nos ver assim, esticava-se
numa rede e punha-se a nos embalar, cantarolando
rezas, cantigas para aquietar, dormir e sonhar.
Tinha alma de anjo, candura
de santa e mãos pálidas, com ela cresci sabendo que sem amor e perdão a vida
não é vida, não.
(Ednar Andrade).
Poetisa sempre iluminando, com certeza pelo fruto se conheçe a arvore Beijoão mães
ResponderExcluir