domingo, 14 de março de 2010

Johann e Maria (Parte II)


Foto do meu arquivo.


Maria, de uma beleza silvestre; sua presença, naquele lugar simples, era como parte da paisagem. Vivia em sintonia com a natureza. Suas manhãs eram sempre feitas de longas caminhadas pelo campo, parecia conversar com os pássaros. Entendia aquela sinfonia matinal como ninguém. Às vezes falava só em suas caminhadas, como que falasse ao vento. Poemas ternos, cheios de amor. Carregava no coração um apego sem par ao contexto natural daquele lugar. Às vezes nas noites de luar, ficava a mirar, na sua varanda, o céu de prata, como que para fazer-lhe sonhar com um amor que já previa, mesmo sem saber como seria Johann, pois em seu sonhar, ela ouvia a sua voz como se um pássaro fosse.

Um amor que surgiu do encanto, como sendo o seu abstrato namorado. Maria, que não o conhecia, apenas gostava de ouvir falar o seu nome: Johann... Daí, então nascera em seu coração, esta utopia que ela alimentava com grande emoção. Neste contexto de paixão platônica vivia Maria os seus dias... 

Eleonor, sua melhor amiga, sempre fora a grande companheira das tardes frias ou das manhãs de Sol. Por ela é que Maria passou a ouvir histórias sobre Johann. 

Johann, por sua vez, estava envolto em suas viagens, que roubavam-lhe todo o tempo. Até que, um dia, amigas que tudo falam, fizeram um acordo, que Maria aceitou sem duvidar da chance que, sem saber, traria-lhe o destino: apresentar-lhe Johann. 

Aquela manhã, já citada, em que olhares disseram coisas, nunca por Maria, faladas passava agora a ser a realidade tão esperada. Estavam ali, frente a frente, as palavras não saíam, era diferente de ouvir os pássaros cantarem. Maria falava com o coração, pois a voz, de tanta emoção, fugiu-lhe da garganta. Viveram em poucos instantes, momentos intermináveis. Depois daquele longo passeio matinal, despediram-se, com um simples olhar. 

"Porque, por tantas vezes, o que o coração diz o ouvido não escuta", pois o amor chega assim de forma súbita. Chega, simplesmente, sem avisar. Ele vem, não importa de onde. Chega, e tantas vezes, chega para ficar. Johann despediu-se de Maria num abraço tímido e num beijo tácito. Seguia Johann uma viagem longa sem hora para voltar. Enquanto Maria, nem ela mesma sabia por quanto tempo ela ficaria sem ver, outra vez, aquele doce olhar. 

Já era quase noite; Maria em seu sonhar... Mas agora e ainda, com aquele perfume nas mãos, único fragmento que restou daquele encontro tão fugaz... e tão sonhado, carregava consigo a certeza de que amava aquele estranho. Um amor de tão platônico que parecia um meteoro. Mas que deixara em seu peito aquela sensação de saudade ainda maior; sensação que lhe faria companhia durante muito tempo...

Maria abriu a janela, olhou por entre a folhagem o céu e nomeou uma estrela de Johann, quase pondo na estrela uma digital, para reconhecê-la, em suas noites de saudade, o seu amor distante. Ali ficou por pouco tempo, pois 0 cansaço cobrava-lhe o repouso merecido e adormecia e rezava, para que a noite entrasse pela janela um anjo que lhe trouxesse em sonho, mais uma vez a presença forte daquele abraço. Quem dera, pudesse no seu sonho, beijar com ternura aquele homem. Passaria por entre os cabelos, os dedos com tanta suavidade e pediria-lhe para que sussurrasse com aquela voz que mais parecia um poema. E Maria adormeceu, envolta por aquele enlevo de saudade e amor... E a sensação que o vento lhe causava na face parecia-lhe o toque suave das mãos de Johann...

Até que Maria acorde, vamos sonhar...