sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Branco como a Lua...


Este é o meu grito, meu lamento, meu   protesto e também a minha dor a todos aqueles que assim, como eu, sabem o que é ter um ente querido destruído por esta maldição que só é crack na obra de destruir.

(Ednar Andrade).




Volta lágrima, pois tenho na mão uma afiada espada, sou uma guerreira, preciso lutar. A batalha existe, já estou ferida, com pés cansados, olhar perdido, pisando os espinhos deste caminhar... Fiz-me feridas, fui ferida, estou mutilada, parte do meu corpo sangra, minhas pernas e meus braços estão sem valia, olhando para o infinito, buscando entender a dor do desgosto; minha alegria está distante de mim... Irremediável a desgraça aportou no paraíso do "meu sangue" e o que está posto é como um morto; de vida nada tem; o inimigo é voraz ninguém detém... Branco como a Lua, transparente e claro como sua verdade; cruel e letal, “crack” mata, sem dó. Arrasta para a lama o seu algoz, transita em liberdade e leva consigo os seus fieis servos, devasta e puxa. Puxa pela boca o coração dos que dele precisa.

O momento é de dor, mas meu coração precisa "também ser pedra" para não derreter em mágoas... Meus sentimentos jazem num velho vagão de sonhos. E misturam-se aos destroços de uma embarcação confusa; onde a minha bagagem mofa as ilusões. Ainda sou crente... Preciso desta arma, desistir da luta não faz parte desta minha batalha, alguém um dia porá fim nesta desgraça e nos olhos que choram nascerá o riso, e nas bocas que ficaram mudas nascerão palavras, nas mãos calejadas surgirão mãos saradas, nas famílias desoladas surgirá um novo Sol... Vomito o que hoje me deságua, olhando para o deserto que me deixa doente... És meu amor, meu sangue, minha falta de calma não mente... Preciso ser forte, preciso lutar para continuar vivendo e vendo a tua morte. Cobres com um negro manto o meu vermelho coração cheio de amor por ti. Estou presa contigo. Aqui fora é minha carne que comigo está, na sela da tua agonia também grito... O teu abraço forte, onde vou achar? Canto um mantra de infinita dor onde sussurro que te amo, mas a Lua ingrata deste teu luar te levou pra longe daquele nosso mar...

Minha alma ergue a espada da luta inglória e engulo o sangue na escuridão deste mar de aflição... É muito triste esta canção que canto, suprimindo a agonia que meus olhos fingem não fitar.  Um desespero mudo ergue-se numa avalanche e destrói a minha paz, um vendaval me arremessa de encontro ao rochedo. Estou encolhida como um feto no útero; tenho presos pés e mãos; meus movimentos não condizem com minha vontade.

Esta é uma manhã fria onde busco me aquecer; me acho perdida navegando o abismo da realidade imposta, quero dizer algo que me alivie, que faça não esquecer; mas, encarar o que não tem cura. 

(Ednar Andrade).