domingo, 29 de novembro de 2009

Me Encante


    Foto da casa de Pablo Neruda em Ilha Negra, no Chile.
Foto postada no site http://naturalpatriot.org




Me encante da maneira que você quiser, como você souber.
Me encante, para que eu POSSA me dar ...

Me encante nos mínimos detalhes.
Saiba me sorrir: aquele sorriso malicioso,
Gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos,
Gesticule quando for preciso.
Me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser ...
Vou fingir que não entendo,
Que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos ...
Me olhe profundo, mas só por um segundo.
Depois desvie o seu olhar.
Como se o meu olhar,
Não tivesse conseguido te encantar ...

E então, volte a me fitar.
Tão profundamente, que eu fique perdido.
Sem saber o que falar ...

Me encante com suas palavras ...
Me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres.
Me conte segredos medos, sem,
E depois me diga o quanto te encantei.

Me encante com serenidade ...

Mas não se esqueça também,
Que tem que ser com simplicidade,
Não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma,
Sem pressa. Tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com o seu primeiro namorado ...
Sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certeza.

Me encante na calada da madrugada,
Na luz do sol ou embaixo da chuva ....

Me encante sem dizer nada, ou até dizendo tudo.
Sorrindo ou chorando. Triste ou alegre ...
Mas, me encante de verdade, com vontade ...

Que depois, eu te confesso que me apaixonei,
E prometo te encantar por TODOS OS DIAS ...
Pelo resto das nossas vidas!



(Pablo Neruda).

Texto enviado pelo meu amigo Batista.  

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

JADE




Já de idade...

Nos aconselha sapientemente.
Com voz mansa, em quase declamar,
Deleita-nos com suas palavras
Algumas suaves; outras nem tanto.
Porém, desobedientes que somos,
Apesar de ouvirmos atentamente seu falar,
Nos perdermos em meio ao dia-a-dia
E deixamos de seguir conselhos tão sábios.

Já de idade...

Presenteia-nos com o seu saber dividir,
Qualidade esta invejável.
Tudo que já viveu, tudo o que tem e tudo o que sabe
Vem para nós, como forma de preparação à vida.
Ela é assim...
Já de..., a pedra da imortalidade
Imortal? Não sei... Talvez...
Em nossos corações e em seus ensinamentos, com certeza.

Já de idade...

Mãe, amiga, amante, linda, louca, sábia, apreciadora de uvas, jardineira, praieira, poeta e avó...
Assim é nossa Jade.
A qual amamos e muitas vezes deixamos de dar e/ou demonstrar o seu verdadeiro valor
Mas mesmo assim amamos...
VC É MUITO ESPECIAL.
TE AMO MUITO.

(Marliene)
 
Postagem em gratidão à homenagem da norinha Marliene. Obrigada, Marlouca que eu... rsrs... Também te amo, vc sabe...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Os Pescadores






O mar azul sem fim/
O sol vermelho quase se pondo/
O barco chega/
É uma festa /
Homens falando/
Cantando em prosa/
Com som e versos/
Pés na areia /
Roupas surradas/
Olhares que dizem poemas mudos/
Cabelos brancos .../
Suor na testa/
Contam histórias de mar, de pesca/
De grandes peixes/
E até de sereias/
O fim da tarde é sempre festa/
Ancoram barcos, ancoram barquinhos/
Com velas coloridas/
Algas no caçoá e peixes também.../
No coração deles, amores/
São eles que chegam/
Mãos diligentes, sempre contentes/
São os pescadores/
Rostos marcados e o sol nas testas/
Felizes, cantantes e contentes/
Seguem na vida /
E sentem suas dores e seus amores/
No Norte ou no Sul /
Do meu Pirangi*

(Ednar Andrade)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E aí?



Pra que tanta bobagem?
Tanta etiqueta, se no fundo tudo é uma faceta
Pra que tanto ódio, tanta agonia?
Tanto corre-corre, em vez de euforia

Se não se leva nada, nem a etiqueta,
Nem o ódio, nem a farsa
Tudo que se leva está na caixa
Vamos amar mais, elevar as mentes para as coisas boas

Porque qualquer dia o sopro acaba
E você meu chapa... o que fez de tudo?
A não ser: Não fez nada?
Não sei porque te falo

E aqui tentando...
Acho que falei,
Mas se ainda tens tempo, faz como te digo
Sejas mais amigo, ame, isto faz bem

Tenha para o próximo um sorriso amigo
Porque qualquer hora vai chegar o trem
E aí? Como é que fica?
(02.06.1982).

(Ednar Andrade).

Ponta Negra em 1957


    Ponta Negra em 1957


     * Presente do meu amigo João Evangelista.

Aeroporto de Natal em 1957


    Aeroporto de Natal em 1957
     
     * Presente do meu amigo João Evangelista.

Pirangi do Norte em 1957


    Igreja de Pirangi do Norte em 1957.


   * Presente do meu amigo João Evangelista.

Pirangi do Norte em 1957


    Praia de Pirangi do Norte em 1957.


    * Presente do meu amigo João Evangelista.



Lições para a vida.

EU APRENDI que a melhor sala de aula do mundo está aos pés de uma pessoa mais velha; 
EU APRENDI que quando você está amando dá na vista; 
EU APRENDI que basta uma pessoa me dizer "Você fez meu dia" para ele se 
iluminar; 

EU APRENDI que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa é me cercar de gente mais inteligente do que eu;
EU APRENDI que cada pessoa que a gente conhece deve ser saudada com um sorriso; 
EU APRENDI que ninguém é perfeito até que você se apaixone por essa pessoa; 
EU APRENDI que a vida é dura, mas eu sou mais ainda; 
EU APRENDI que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu.
EU APRENDI que quando o ancoradouro se torna amargo a felicidade vai aportar em outro lugar; 
EU APRENDI que eu gostaria de ter dito à minha mãe que a amava, uma vez mais, antes dela morrer;
EU APRENDI que devemos sempre ter palavras doces e gentis pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las;
EU APRENDI que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar sua aparência; 
EU APRENDI que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito; 
EU APRENDI que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você está escalando-a; 
EU APRENDI que só se deve dar conselho em duas ocasiões: quando é pedido ou quando é caso de vida ou morte; 
EU APRENDI que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.



(Tradução do texto "I have learned", de William Shakespeare).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Conversa de amigos






"Ô!!! que saudade de tu meu amor....rsrs" (Ednar Andrade).


"Vc é minha amiga mais criativa, mais alegre, mais companheira...
Beijo grande, minha linda, minha querida amiga
Vc transforma minhas noites numa festa"(Zé da Silva).



"Eu te amo amigo"(Ednar Andrade).


"Quando tu somes quero saber do teu silêncio, mas quando tu falas, minha alma sossega" (Ednar Andrade).


"Minha poetisa Maria 
que é toda sentimento
que a gente nem desconfia
que entre o sopro e o vento
a sua palavra anuncia
que é questão de momento
pra tudo virar poesia.
Minha poetisa Maria
Teus versos são só encanto
A enfeitar o meu dia
A fazer cessar o meu pranto" 

(Zé da Silva).


"Vc é tão linda. Em todos os sentidos da palavra. Minha alma reconhece a tua e canta e dança e ri e sente tanto a tua falta quando não vens" (Zé da Silva).

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ilhota




É verdade, confesso;
Que, quando à noite,
Os olhos fecho,
Minha alma se muda ...


É verdade confesso, não me importo;
Toda magia, encanto
Tudo naquele canto
Cheio de encantos.


É verdade que, na minha rede,
Na minha varanda, olho o céu
E quando não estou lá
Sinto uma saudade intensa
Tão grande, é mesmo imensa.


Se estou aqui; minha alma, lá
Se olho o céu e vejo a Lua
Sinto-me como ela, tão nua...
Longe daquele lugar.


É verdade, não mentiria
Sou do mato, sou da Relva
Das lagoas, dos rios
Á noite me arrepio.


Sinto saudade da festa,
Do silêncio e do ar
Do cheiro, da mata verde
Esta ausência me maltrata


Quero ficar; voltar não!
É verdade que na Lagoa
Minha alma fica à-toa,
Encantada do Luar


Ai como é tudo verdade...
Como tudo é saudade...
Na minha mata tão verde...
Dos grilos, dos pirilampos...


O coaxar dos sapos,
Das Aves, o canto
Meu Deus! em mim há tanta saudade...
Não sei viver noutro lar.


(Ednar Andrade).

Saudades do Mar

Só uma coisa eu gostaria
Nesta noite que começa,
Pisar aquela areia
Sem pressa...
Caminhar na escuridão da Praia,
Sentir o perfume no vento 
Das algas daquele mar.
Andar assim distraída
Sem nada para pensar,
Sentar nos barcos solitários
Que moram lá mais que eu.
Só uma coisa
Me faria mais feliz agora
Deitar, me enrolar na areia,
Olhar para o céu,
Contar as estrelas,
Sentir o carinho do vento
E assim, sem pressa, 
Sem tempo, ficar no mar,
O mar e eu.
Esta que sente saudade
Das tardes, das mornas tardes...
Ver os barcos, os movimentos das velas
Verdes, azuis, amarelas,
Harmonizar o que sinto
Com tudo isso que é meu.
Barco, vela, mar.
E assim, passaria a noite
Sonharia nesta brisa
Com tudo que Deus me deu.


(Ednar Andrade)*****








segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Arte de ser Avó

Homenagem merecida a duas avós maravilhosas e, sem pretensão de fugir à realidade, me incluo; é doce    ser avó!  E alguém me disse que: "Netos, a sobremesa da vida".


Quarenta anos, quarenta e cinco. Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as sua compensações – todos dizem isso, embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto – mas acredita.


Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.


Não de amores nem de paixão; a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas, que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda.


E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choro, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que se lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito sobre ele, ou pelo menos o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo ou decepção, se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.


Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis.


Aliás, desconfio muito de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos. Se o Doutor Fausto fosse avô, trocaria calmamente dez Margaridas por um neto…


No entanto! Nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, o entrave maior, a grande rival: a mãe. Não importa que ela, em si, seja sua filha. Não deixa por isso de ser a mãe do neto. Não importa que ela hipocritamente, ensine a criança a lhe dar beijos e a lhe chamar de “vovozinha” e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais. No fundo ela é rival mesmo. Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante nos triângulos conjugais. A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe banho, veste-o, embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.


Já a avó não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto. Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, “não ralha nunca”. Deixa lambuzar de pirulito. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso dos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia. Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido, antes uma maravilhosa subversão da disciplina. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café, mexer na louça, fazer trem com as cadeiras na sala, destruir revistas, derramar água no gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser – e até fingir que está discando o telefone. Riscar a parede com lápis dizendo que foi sem querer – e ser acreditado!


Fazer má-criação aos gritos e em vez de apanhar ir para os braços do avô, e lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna…


Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão defunto desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós com seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto!


E quando você vai embalar o neto e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz “Vó”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.


E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade.


Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menino – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beicinho pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.


(Raquel de Queiroz). 

sábado, 14 de novembro de 2009

Memória da Infância (Fotos)


A moça mais bonita a esquerda - minha mãe (Entre a raiz e a flor há o tempo .....)
À direita, certamente, dela, alguma amiga.

Memórias da Infância (Fotos)


Meu pai("... Eu sou o sorriso na face de um homem calado ..." )
E a direita meu irmão: Evandro.

Memórias da infância (Fotos)


Da esquerda para a direita: tia Nalva, aquela menina do sítio (Ednar), 
Luísa e tia Nirce.
Local: Pça. Cívica.

Memórias da infância (Fotos)


Da esquerda para a direita: tia Neide, Badeco, tia Nirce, Ceiça, tia Nalva 
e esta menininha (1 ano e 9 meses) ainda não brincava de cozinhado no sítio já citado.

Memórias da infância (Fotos)


Abaixo da esquerda para direita: Ednar, tia Nalva, tia Anália - já citada no texto -, tia Nirce.
Acima da direita para a esquerda: tio Jair - já citado no texto -, Terezinha Peixoto, 
Consuelo, tia Neide, D. Chiquinha (dona do sítio onde trabalhava Sebastiana).

Memórias da infância (Fotos)


Ednar aos 4 anos. Á esquerda tia Nirce.


Memórias da Infância (Fotos)


Ednar aos 8 anos. Á direita tia Nalva. Local: Pça. Padre João Maria.
Clique na foto para visualizar melhor.

Memórias da infância






Lembro-me de um tempo onde ser criança não era diferente de fazer parte de um conto de fadas; um tempo onde as ruas ainda não tinham os postes iluminados com lâmpadas fluorescentes ou de mercúrio. Ouviam-se apenas os grilos à noite, o coaxar dos sapos ou a ópera das pererecas na noite.

As ruas eram sem asfalto... Lembro-me de um barro vermelho, onde, vez por outra, os jipes - que eram os carros mais comuns da minha época – atolavam. Eles eram quase tratores e mesmo assim perdiam-se, atolavam naquele barro. Isso fazia o evento do dia. A meninada anunciava um ao outro o acontecimento e todos saíam para assistir, o que, para nós, era uma festa; para os adultos um sofrimento. A meninada torcia para que o carro atolasse, faziam elos com os dedos para que os carros afundassem cada vez mais... Isso não caracterizava maldade; era a única distração.

Outra lembrança linda de tantos contos de fada, porém com a conotação verdadeira, pois descrevo aqui apenas fatos reais, é ir cedinho ao curral de “seu João” pegar um leite quentinho. João Lopes era um senhor calado, simples, quase bizarro, chapéu escondendo os olhos, camisa da cor da calça, falava pouco, um tanto assustador, para a minha imaginação de criança. Mas ali eu me perdia, esquecia o leite, colocava a garrafa na calçada, ia correr atrás das vacas, observar os bezerros que mamavam; um cheiro de estrume no ar, aquilo era como perfume. O cheiro do feno; as cocheiras; o mugido dos touros; o eucalipto que formava um tapete... Eu sentava ao lado do Wilson, o moço que tirava o leite; sentava impaciente com uma certa dó da vaquinha, via o Wilson espremer as tetas da vaquinha e  a coitada mugia: mummm. Hoje não sei se era dor ou se era um mantra. Sei que de lá não saía leite sem emoção. Enquanto em casa a minha tia, talvez já impaciente, esperava sentada o leite, porque ali eu me perdia.

Aquilo tudo era meu mundo... Andar descalça, pisar no cocô quentinho das vacas, eu fazia por prazer... Lembro-me do mel de furo, uma substância tirada do melaço da cana, que as vacas comiam com prazer; os vaqueiros chamavam de torta. Eu daria tudo para lamber. Daquilo saía um cheiro... Era uma tentação, uma danação, um assédio, lamber, saber que sensação de prazer a vaca via naquilo. João Lopes dizia: “Vai pra casa menina. Entrega o leite a Anália e volta pra brincar”. Eu ia, então, chateada; voltar é que não podia, pois já encontrava pisando nos cascos, ralhando e dizia: “Amanhã tu não vais pegar o leite; vou eu no teu lugar”. Nossa isso era uma sentença!

Amanhecer, não pode ir ao curral, não poder brincar com as sementinhas caídas dos eucaliptos, não pegar as folhas ainda quase verdes, amassá-las só para sentir o cheiro, seria pior do que prisão... Então eu jurava: “Tia, prometo, amanhã vou, demoro não”. Ela me olhava assim, com um olhar de quem sorria e dizia: “Ednar, eu te conheço. Amanhã, você vai não!”. Eu dizia: “Deixa tia, por favor, deixa tia”. Negócio feito; eu sempre vencia.

Lá mesmo, na casa de “seu João”, D. Zefinha, sua esposa, foi minha professora. Minha tia alegava que era preciso aprender o bê-á-bá, momento de grande alegria, ia estudar na casa de D. Zefinha, ficar perto das vacas, correr atrás das borboletas. Eu as segurava, colocava num vidrinho e só na hora de voltar para casa, as soltava. Tudo muito lindo! Uma infância colorida, rica de emoção. 

E lá estava eu no meio dos bichos, magrinha, correndo, feliz, saltitante, cabelos compridos, tranças... Lembro que uma certa vez, como Narciso, me vi no espelho pela primeira vez, e foi aí que notei que não precisava mexer nos batons de minhas tias; minha boca era muito vermelha!

Bem, ia eu todos os dias, com um caderno e um lápis e uma borracha na ponta do lápis grafite, aprender a escrever (b+a= ba; b+e= be...) rsrsrs... Havia um momento mágico, um tal de ir à casinha, que era ir ao banheiro e lá eu ia e vinha, só para fugir do bê-á-bá.

Acordar era sempre uma felicidade... Enfim, eu ia estudar.

Nos fins de tarde, menina bem cuidada, cabelos limpos, perfumados, saía com meu tio Jair, para comprar pão quentinho na venda de “seu Adelson”... hummmm... que coisa maravilhosa: bolinho, pirulito, alfenim, biscoito champagne, pão doce, suco de maracujá, lá tudo isso tinha. E eu, sandália de dedos, shortinho colorido, laços de fitas no cabelo, saía de casa ouvindo uma recomendação: “Tem cuidado Jair, para essa menina não rolar no chão”, tia Anália dizia. Ele, grande cúmplice das minhas travessuras, era o primeiro a me incentivar e com todas as letras que agora escrevo, ele dizia: “Rola Ednar! Eita cabritinha!” O conselho de tia Anália soava ao contrário, com certeza eu voltaria produzida ao meu modo: pés descalços, roupa suja e pé no chão. Livre... rebelde, não.   

Voltava sempre de mãos cheias, colhia na ida e na volta flores silvestres, que encontrava pelo caminho: flores azuis, amarelinhas, brancas, lilases e, ainda, sorvia a aguinha acumulada nas conchinhas das flores. Este sabor, não esqueço. No tempo eu não sabia, mas hoje sei: era um misto de poeira e água morna; um chazinho da natureza, um chazinho de flores... Uma satisfação, uma sensação, sem preço, de liberdade.

Acabavam, assim, quase sempre, as minhas lindas tardes.

Continuarei na próxima postagem.