Deixe
que o tempo
Apague
as minhas
Rimas
sem cérebro.
Deixe
que, no silêncio
Da
noite, o ruído dos besouros
Organize
uma orquestra
Para
acompanhar meu desalento.
Deixe
que eu diga
Todas
as palavras
Que
já não cabem
No
meu desvario.
Deixe
que eu transforme
Dor
em beleza.
Deixe
que o vento arraste,
Para
bem longe, este silêncio
Que
não quer calar.
Deixe
que eu diga
Ao
meu travesseiro
Segredos
que só ele
Pode
escutar.
Que
eu cante,
Como
quem chora,
Para
me fazer dormir,
Uma
música esquecida
Que
só eu posso ouvir.
Deixe
que eu escute uma ave
Atrapalhada
com a alvorada,
Que
lá fora já canta
E
o dia nem chegou.
Deixe
que, na quietude
Da
minha cama macia,
Eu
perceba, vindo de longe,
O
marulhar do mar
Que
ouço agora.
Sente,
fica quieto
Para
que possas contar,
Uma
a uma, do meu coração,
As
batidas e da noite fria, o vão.
(Ednar
Andrade).