quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Canto



Deixe que o tempo
Apague as minhas
Rimas sem cérebro.

Deixe que, no silêncio
Da noite, o ruído dos besouros
Organize uma orquestra
Para acompanhar meu desalento.

Deixe que eu diga
Todas as palavras
Que já não cabem
No meu desvario.

Deixe que eu transforme
Dor em beleza.

Deixe que o vento arraste,
Para bem longe, este silêncio
Que não quer calar.

Deixe que eu diga
Ao meu travesseiro
Segredos que só ele
Pode escutar.

Que eu cante,
Como quem chora,
Para me fazer dormir,
Uma música esquecida
Que só eu posso ouvir.

Deixe que eu escute uma ave
Atrapalhada com a alvorada,
Que lá fora já canta
E o dia nem chegou.

Deixe que, na quietude
Da minha cama macia,
Eu perceba, vindo de longe,
O marulhar do mar
Que ouço agora.

Sente, fica quieto
Para que possas contar,
Uma a uma, do meu coração,
As batidas e da noite fria, o vão.

(Ednar Andrade).