sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal



Festa de plebeus e nobres.
Nozes, luzes, presentes, árvores,
Papai Noel, as lojas em promoção,
Corre-corre nos shoppings,
Sapatinho na janela, guirlandas, a cidade em festa,
Profusão de cores, expectativas, sonhos,
A felicidade na efeméride da confraternização.
Na parede, Jesus, em uma cruz,
Aguarda o convite da festa.

(Danclads Lins de Andrade).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Festa divina?




Todos falam de festa (Festas) O mundo parece que espera uma fusão de felicidade e sonhos... Luzes e cores em toda parte, anjos de papel, pura arte.
Sinos e sons, canções e versos. É tudo tão controverso. E onde mora a paz?

Papai Noel é o rei ou o aniversariante? Parece que há uma con-fusão no sentido da data.
*
Quem nasceu em Dezembro?
Quem trouxe a paz e as promessas?
Quem deu pelo homem a vida?
Quem acendeu nos corações o amor?
Quem tão humilde em simples manjedoura nasceu e brilhou?
Quem anunciou a paz entre os homens?
Quem é o menino tão pobre e lindo?
(............)
*
PAPAI-DO-CÉU
“Sempre novo” nos abençoa e enche de graça e de paz.... Sempre paz......
Nos dá todos os dias, mesmo que não mereçamos sua benção e raros presentes.
Nos dá flores, Sol e mar, pássaros, rios e verde. Tudo enfim ...E como se não bastasse, Deus deu ao mundo seu amado filho, seu grande e único amor.
Mas o homem tudo faz errado, nada agradece, não aprendeu o mandamento que salva a todos de tudo que está errado: AMOR.
Natal Festa divina, festa de amor fraterno, festa ao Deus menino...
É festa do alter-ego, deuses inflados.

Festa na mesa de alguns...
Fome na rua dos meninos,
Fagulha apagada nos abandonados...
Nos bêbedos, nos viciados: a fome voraz cracoolizados....
Mas é Natal e nas lojas tudo é colorido e caro, tudo é de alguns...
E o que resta é encher a cara de festa, engolir falsos sorrisos, usar o melhor vestido, rir louco, desordenado, - sem aplausos o menino - sem se importarem com os velhos, com os pobres descalços e sujos...
Aqueles que não têm lar, nem bolo, nem panetone. Comem do lixo o que sobra da festa mentirosa e porca.

...Então é Natal e o que você fez?

(Ednar Andrade).

domingo, 2 de dezembro de 2012

Ser rei



Espero a esperança
Do meu lado ficar,
Como eu sempre sonhei.
Amar uma criança
É melhor que se amar;
É como ser rei.

(Ana Júlia Barreto Coelho Andrade Dos Santos).

sábado, 1 de dezembro de 2012

Dezembro




Mais uma vez, Dezembro.
Mas uma vez, Promessas...
Mais um Dezembro e fé.
Uma vez mais, a vida.
Mais uma esperança.
E brilha, nos olhos, uma eterna estrela *
Nasce e renasce, em todos, a luz....
Nasceu o menino.
Seu nome é Jesus*

Feliz natal.

(Ednar Andrade).

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Livro









"Vai passar, eu sei que vai passar"
(Caio Fernando Abreu).


Respiro profunda e inutilmente
E balbucio um texto
("Vai passar, eu sei que vai passar")
Mas eu apenas
Balbucio;
Certeza que passa,
Não tenho.
Preciso comer este texto
Para alimentar a esperança
Que não tenho
E, dizendo a mim mesma,
Tudo passa, inclusive
Eu
Que sigo...
Olhos abertos;
Peito fechado;
Punho cerrado.
Em certos pontos da vida,
Somos como um livro jogado.
Uma história,
Digamos,
Até interessante...
Mas, largado num canto,
Lá está:
Esquecido, empoeirado
E dentro dele
Toda história,
Todos os silêncios,
Todas as exclamações
E uma inútil interrogação
Insiste
Em contar fatos.
Suas verdades
São como contos
Mal-assombrados
Bizarros,
Macabros.
Um dedo na narina;
Outro na ferida.
Assim, respira
Um livro fechado.
Uma porta,
Duas insinuações de janela,
Uma caixa com fendas
E uma teimosa alma
insistindo em vazar pela fresta.
O dia dorme;
A noite acorda.
Feito de contrastes,
O relógio parece querer enganar
O tempo veloz
Que,
Irreverente, nada tem a ver
Com a indiferença
Que permeia
O desabitado
Mundo meu.
Feriado é como dia de enterro:
Morto,
Posto entre as paredes
E a luz fluorescente
E através das escadas sujas,
Mal postas que me dão acesso
Às batidas do coração,
Implodo
Numa busca que me parece inútil
E é inútil tentar
Fazer e dar sentido
Ao que está morto.
É inútil adoçar o café,
Mastigar o pão.
Inútil é, também,
Abrir os braços
Para doar
E pedir abraço.
(Há braços estendidos
Que abraçam apenas o vão
E mãos vazias de corpos gelados
Que desfiam sorrisos vagos).
... Não quero me enganar;
Não gosto da mentira.
Dela tenho total pavor,
Mas a feia verdade é bela,
Penso nela
Como alguém que num deserto ]
Entende
Que a verdade é:
Ainda posso respirar,
Mesmo que por uma narina.
Passar, talvez, não passe.
Mas, deixará nos pés feridos, calejados
De quem pisa em brasa,
De quem beija espinhos,
Marcas,
Como troféus
E dentro das feridas,
Um livro jogado, esquecido
Entre a poeira e o sangue.

(Ednar Andrade).

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Silêncio de caboclo


   ("O Caipira", de Almeida Júnior).

Sentado, naquela pedra,
O caboclo chora e sonha;

Sentado, naquela pedra,
O caboclo chora e ri;

Depois, como quem come,
Faz um cigarro e pita

E brinca de que acredita
No que a vida faz sentir.

Sentado, naquela pedra,
O caboclo, para ninguém, mágoas, conta

E o vento, apenas o vento,
Passa e lhe sorri.

Depois o cigarro apaga,
O caboclo engole a mágoa...

Cospe, olha em volta,
E deitado, naquela pedra,...

Olha pro céu... Assovia...
Faz dela, cama macia;

Cobre-se de desencanto, encolhido no seu canto,
Olha o sol...; já é dia.

(Ednar Andrade).


sábado, 3 de novembro de 2012

Amanheceu...



Amanheceram noites e sombras
... E desde então todas as noites são espera,
São versos que compomos
De saudades e quereres tristes e sós.

Amanheceu...
E eu te amo muito mais.
- seguimos as noites dentro do sonho
Abertos ao sonhar.

A noite é como um navio,
Como o leito de um rio
Se esvaindo na busca da correnteza
Com toda desventura da escuridão.

- meu ser solitário,
Tristonho em desabrigo
Busca no desvario que componho
Um pequeno gesto teu.

Como leve brisa,
Estrelas vagueiam na noite; sonho,
Buscando no nada,
Esquecidos carinhos.

Meu sorriso é raro...
Meus cabelos soltos
Exalam perfume, como um dueto,
Sou eu o vento; és ninguém.

(Ednar Andrade).

Onírico

    (Maia Flore, na série Sleep Elevation).

Acho que sonhei
Um sonho que não lembro agora,
Mas acordei sentindo um gosto,
Não sei se feliz,
Amarga-me a boca
Pesam-me os ombros e o corpo.

Acho que sonhei,
Mas não me lembro
Do haver sonhado.
Era algo que me tira
A calma ou me deixa
À flor da palma.

Não sei, não me lembro agora,
A que objeto entreguei o meu cansaço;
A que fragilidade expus minh’alma;
Em que momento viajei
Nas vastas asas.
Acordei, não sei...

(Ednar Andrade).


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Lá*


Lá, onde o silêncio é rei, 
Não há saudade do sol, 
Não há medo,
Nem talvez, 

Nem eu,
Nem tu,
Nem nós.

Lá, seremos sempre “eu”,
Depois do pranto e do adeus.
A tarde mora,
Morna, morta.

(Ednar Andrade).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nem rio...


(Desenho de Ana Júlia).

Pedra sob os pés,
Chuva de verão,
!!!!!!!!

Nem mar,nem ver-te.
Nem rio...

(Ednar Andrade).

sábado, 13 de outubro de 2012

Oblast



Ela escrevia
A simplicidade
Da gente,
A austeridade
Da taiga,
O aconchego
Das casinhas,
A monotonia
Da neve,
A dureza
Da vida,
A equidistância
Das relações...
Sua oblast
Era seu lugar!

(Danclads Lins de Andrade).

N.A.: Homenagem a Anna Akhmatova, poeta russa.
N.A.2: "Oblast" é uma palavra russa que significa província.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Canto para sonhar



Silêncio, por favor.
Não vês que o príncipe dorme?

Silêncio, por favor.
É dia, mas para ele é noite,
Não vês que a noite raiou?

E agora sonha...
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
Em seu sonhar ele desfia
Sonhos coloridos.

Silêncio
Por favor, não cante
Por favor, não fale.

Mais uma vez,
Por favor,
Não o incomodem,
Acomodem-se.

O príncipe dorme.

(Ednar Andrade).

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Histórias para Julinha


   (Foto do meu arquivo).

Ela ouvia atentamente, enquanto degustava o ovo mexido com total desinteresse. Dedinhos frágeis, mãos expressivas, inteligência em permanente ebulição.

Seus olhos giravam e criavam imagens que aquarela alguma podia trazer de volta. Ela parecia flutuar. Ouvia atentamente... Com a mãozinha sob o queixo, olhinhos inchados, pois acabara de acordar.

– Vó, hoje é domingo?
– Gosto das manhãs de chuva.
– É tão bom estar aqui, tomar café e conversar, acordar com você...
– Nas manhãs chuvosas sinto algo que não sei dizer.
–Parece que tem uma saudade, mas também não sei do que.
– Vovó, fale da vida, conte-me sua história.
– Conte vó, conte mais.
– Você vai contando e eu vou tomar café.

Mas eu tentava, com toda dedicação de uma avó, que quer dar de presente a uma criança, uma história verdadeira. As manhãs chuvosas sempre trazem, aos mais antigos e aos pequeninos, um doce perfume que exala memórias, faz renascer histórias, faz rebuscar o que foi vivido.

Há todo um fascínio, toda uma magia que mesmo sendo suaves ou duras verdades, trazem consigo um toque de fantasia, como nos contos de fadas, um lúdico agora, que nos vem no vento, como lembrar do cheiro do café quentinho, feito no fogão à lenha, aquele pão com manteiga que, da sala, dava para sentir o perfume da manteiga, quase o crocante do seu assado e seguimos no nosso café, entre pausas e questionamentos e perguntas. Ela ficava espantada. Seus olhos amendoados e castanhos tomavam forma de interrogação.

E tudo começou, porque em algum momento, algo precisava ser contado para que ela comesse aquele ovo. Então lhe falei dos tempos da minha infância, contava-lhe como era difícil e ao mesmo tempo bela, a vida, mesmo com todas as suas dificuldades, dentro de todo um contexto que hoje só para quem prefere o simples, continua sendo bom, continua sendo vida. Perguntava-me com curiosidade natural sobre todas as suas dúvidas e eu ia lhe respondendo com a paciência das avós.


Então narrei pequenos tópicos desta minha estrada (vida), contei-lhe como eram as noites, o que faziam as crianças depois do jantar, as brincadeiras na rua. Contei-lhe que as crianças cantavam cantigas de roda, como “ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar”, contei-lhe que em minhas noites, mesmo não havendo perigo, mesmo podendo brincar nas ruas, as brincadeiras como amarelinha, garrafão e melancia, prenda e tantas outras, em algumas noites a festa era particular.

– Particular, como particular vovó?
– Particular, porque nestas noites não havia brincadeiras nas calçadas. Na sala da minha casa reuníamos com alegria, cantando e tocando. Haviam instrumentos musicais: violão, acordeon e escaleta. Fazíamos nosso próprio sarau e cantávamos as canções mais doces. Assim passávamos as noites, tínhamos nossa própria festa. Ela suspirava...

 E o seu olhar doce e meigo parecia viajar, enquanto a sua curiosidade aumentava.

– Vó, e o que se fazia quando não existia internet?
– Vó, e como passava um recado urgente, quando não tinha celular?
– Esperava, Julinha.
– Sim, vó, mas se a notícia era urgente?

Falei-lhe, então, dos telegramas, das cartas, que tantas vezes perdiam-se em sua trajetória. Perguntas quase sem fim brotaram do seu olhar, que as minhas tantas respostas não conseguiam-lhe saciar.

Julinha comeu o ovo... Rsrsrs... E como toda criança, olhou para mim, de repente, e disse:

– Vou brincar.
– Mas, vó, antes de ir quero dizer uma coisa:
– Queria tanto ter nascido em seu tempo, ser como você e saber histórias para lhe contar.

E foi arrumar as suas bonecas, distraída e feliz.

(Ednar Andrade).   

domingo, 16 de setembro de 2012

Desaporta



As horas mortas
Que penso em ti
São como fardos,
Oh! Vida tola!

Teus rios mortos
São leitos frios, tortos...,
Onde correntes
Ao nada levam...

Os dias vagos
De águas tortas,
Sortes, torturas
Te batem forte.

És nau, és não,
És hoje, amanhã talvez.
Oh! Vida! Oh! Porta!
O que importa, desaporta.

Vem, nem sei se volta.
Teus “sims” - nunca sãos -
São badaladas,
Interrogação.

(Ednar Andrade).

domingo, 9 de setembro de 2012

Alma minha gentil, que te partiste


   ("Camões", por Fernão Gomes).

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões
(1524-1580)

Nenhum lugar



É nato em mim
Este desejo de amar,
De ser somente,
Apenas, sem nada
Perguntar, pedir ou querer.

É como um caudaloso rio
Que desce e se espalha
Por entre tudo e todos.
É como a chama e o fogo
Que consomem e tudo queimam,

É como um vago que não habito
E estou.
É como um riso que choro
E dou.
É como a quietude...

Que acolhe e faz pensar.
É como a guerra
Que mata e faz recomeçar.
Há em mim uma estrada
De abismos natos

Entre espinhos, flores e abstratos.
Uma seta que me leva
A nenhum lugar
E volto somente
Para te encontrar.

(Ednar Andrade).  

Canto de sal



Dançam folhas,
Dizem versos
E eu esqueço
A dor do tempo.

Esqueço de lembrar
O desencanto
Neste balanço
E encanto.

Que a morna tarde
Me dá.
Murmuram as ondas
E o canto de sal,

Vindo do mar
E o meu coração atento
Descansa neste velejar.
A vida é verde

Nesta ilha azul,
Onde a dor se esvai
No meu canto azul.
Mata quem me mata

E desmata os sonhos
Que silencio.
São como afagos
Na minha pele

Ansiando pelo sol perdido.
Todos repousam
Em diversas cores
E sonhos,

Mas eu bebo,
Na taça,
Um brinde calado
Ao que permanece vivo.

E quero
E espero
Em tardes
E pores-do-sol.

- lentos sóis -,
Serenas noites
Antes, nunca,
Tarde.

(Ednar Andrade).

Fugitiva



Todos dormem.
A quietude é como lei.
Eu burlo este sussurro,
O pensamento
E a razão.

Tudo sossega...
No meu desassossego,
Habito o deserto
Da desarmonia.
A vida parece um filme,

Onde assisto
O desenrolar
Do imperfeito
Sentido meu.

Há um descompasso
Que sigo passo-a-passo.
Há uma incerteza
Que me impulsiona
Para a certeza que me habita.

Não há guerra.
Há, apenas
E tão somente,
Uma certeza latente

De que tudo é
Quando não parece ser e estar.
E eu, fugitiva
Dos mais vários sentimentos,

Refugio a agônica
Alma transcendente
No que calo
Para suportar.

(Ednar Andrade).

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Poesia



diante da palavra
espelho arte fato
fazer-se verbo
o deus em cada
oração sem sujeito
nem silêncio
em busca de quem ouça
além de mim
ecos de ecos
primeira vez
norma riscos
porque poesia
seção descontínua
seleção cultural
aprender no em si no
era uma vez
talvez outra
navegar o nunca

(Marcos Silva).

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Primavera Azul



Daria a ti o azul turquesa que nos fascina
E as flores desta nova primavera,
Seriam, sim, feitas de todos os tons de azul...
E da verde esperança que alimenta nossa espera.

É mais uma vez primavera
E o lilás, ainda enfeita a memória das últimas orquídeas...
Dos últimos sorrisos, os sons dos florais... Segredos nossos...
Sussurram na espreita do amanhecer cheio de sóis...

Giram Sóis - em sonhos - dourando as tarde e os seus fins...
A natureza espera pela aurora que virá,
Trazendo o perfume de cada sonho e o sal de cada dor sentida.
...E o oceano será sempre nosso amar...

O primeiro dia será sempre o impulso vital para as novas floradas,
As incertezas e o tempo; uma busca infinita do real...
E entre o mar e seus tons verde e turquesa, uma única certeza:
Sépia, nunca será a cor da primavera nossa.

(Ednar Andrade).