segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Autocídio




Morro-me a cada instante
Da desesperada dor da fome
Morro-me em cada semblante
Que se consome
No desesperado desabrigo
Morro-me nos olhos
Da criança abandonada
Morro-me na juventude drogada
Morro-me no pai sem trabalho
Morro-me no filho sem atalho
Morro-me na mãe
Que se morre na família
Morro-me na falta da floresta
Morro-me quando se morre
O lago,
O riacho,
O rio e o mar 
Morro-me, enfim,
Quando Pandora morre-se
(...e de tanto me morrer a cada instante
Morro-me na palavra que se morre!)

(João Batista do Lago).


Presentinho do meu amigo Ismael.



18:01

 

Ave Maria... Mirai...
E por ele rogai,
Agora que o Sol se vai,
Aqui neste final de tarde.

Ave Maria!
Que as contas deste rosário
Não cabem no meu sentir.
Sufoca-me uma agonia
E caem-me no olhar em gotas
Que não sei contar.

Ave Maria!
Nos vai caindo a tarde.
Esta saudade, de mim toma conta
E invade.

Ave... Maria...
Olho da janela,
Só vejo lembranças
De uma fresca tarde,
Onde me debruço
Neste meu soluço
E teço um terço
De esperança.
Penso que é quase tarde
Para esta longa estrada
Que a escura noite traz.

Ave Maria!
Como ficou triste
Sem você aqui.
Pássaro errante
Voou tão alto
Que caiu no abismo
E partiu as asas.
Voar livre, já não pode.

Ave Maria!
Nestas horas tristes
Em que paro
Num silêncio todo meu
Tira de mim este cálice
De tão amarga aflição
E toma-o em tuas mãos
E me ensina a fazer prece.

Ave Maria!
Maria... Rogai por ele... Rogai
Por ele agora e sempre
Amém.

(Ednar Andrade).