sábado, 27 de fevereiro de 2010

Chá


Fotografia criada para este texto.

Chá... Não cura tristeza;
Não cura dor, nem desamor...
Chá... apagaria apenas o reflexo
Tão pequenino desta dor.
Chá? Não é remédio; remédio é amor.
Amor que não tenho, amor dos que amo.
É tanta incompreensão, tanta saudade...
No meu peito só saudade.
Tanta saudade de um tempo
Em que o amor era o pão;
Em que o amor era só emoção.
Agora nada que vem de mim presta.
Sou apenas da porta a fresta
Que vê o amor.
E assim não sou nada,
Apenas uma deserta estrada
Que é mais importante que o amor que doei.
Não sou Fernando Sabino, mas se ele disse
Que de tudo restaram três coisas,
Sem querer plagiá-lo,
Eu digo, de tudo restaram três coisas:
A dor, a ingratidão e... a dor.


(Ednar Andrade).

Nenhum Verão


Foto do meu arquivo. Imagem solar vista do Morro da Ilhota. 

Esse sol, porque tinha de tanto brilhar
Anunciar no meu peito o amanhã pra depois sumir
E deixar tão mais negro meu céu, minha noite
Porque foi minha boca beber, se embriagar da tua boca
Pra sobrar tão mais amargo o gosto de vazio, de solidão
Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem abrir minhas janelas
Pra nenhuma, pra nenhuma, pra nenhuma paisagem
Ah, porque me invadir como doce canção
Pra depois me ferir, me queimar com ardor de toda paixão
Eu assim te acolhi sem nenhuma defesa
Como nova estação quando chega, um belo dia, uma certeza
Um vinho dado à minha mesa
Uma palavra, um abraço de irmão
Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem deixar na minha pele


(Maria Bethânia).


Ai, Quem me Dera


Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor

Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais

Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim


(Vinícius de Moraes).

Foto do meu arquivo pessoal.

Mais Que Perfeito


Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)

Ah, quem me dera ir-me !

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...

Ah, quem me dera amar-te !

Ah, quem me dera ver-te
Sempre ao meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais : cuidado...

Ah, quem me dera ver-te !

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...


(Vinícius de Moraes).