quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Viver



Quero apenas e só apenas viver... Sem sofrer, nem me preocupar em saber se há, ou não, amanhã.

Antes assim, sem sofrer, sem drama, sem chorar, e não é melhor? Viver cada dia sem as incertezas do amanhã? Sim, claro, sempre... O hoje está de forma efêmera, aqui, comigo, contigo, onde quer que a hora esteja.

Não, não há motivos para querer antecipar o tempo, ou sofrer pelo que passou. O que passou foi bom, o que virá pode ser bem melhor. Então: hoje é o calendário do tempo... Vivamos com graça e felicidade cada data, cada dor, cada sorriso, cada amanhecer, mas o hoje é o melhor momento, o hoje nos diz da verdade de estarmos vivos, de sermos o que realmente somos e termos o amor que temos, o abraço que recebemos, o carinho que realmente existe. O resto são gotas de saudades ou lamentos, são sobras de um vivido tempo que chamamos passado.

Não é mero saudosismo, não é isso. É que a vida nos faz como a pedra: duros, marcados pela própria existência, nos mostra rumos que no começo da estrada nos parecem percalços e, no entanto, são rumos certos que sinalizam abrigo. Abrigo que interfere na calma do desabrigo, com muita proeza, com muita certeza e daí, e com muita felicidade, descobrimos o quanto somos frágeis... E como precisamos do certo, mas nada é tão certo quanto as improváveis incertezas da vida.

O tempo passa, e com ele fiquei mais esperta, mais doce, paciente... Tudo que antes me parecia aflição hoje nada mais é que um banal acontecimento.

Olho para a garrafa de vinho, e vejo que já tomei todas as taças... Rs... E sei que assim como o vinho quanto mais velho melhor, quanto mais vivemos, mais entendemos que tudo passa... E o que fica é o que realmente valeu: viver.

(Ednar Andrade)

Les feuilles mortes/ As folhas mortas

 Les feuilles mortes

Oh, je voudrais tant que tu te souviennes,
Des jours heureux quand nous étions amis,
Dans ce temps là, la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui.

Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Tu vois je n'ai pas oublié.
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi,

Et le vent du nord les emporte,
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié, 
La chanson que tu me chantais... 

C'est une chanson, qui nous ressemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Nous vivions, tous les deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.

Et la vie sépare ceux qui s'aiment, 
Tout doucement, sans faire de bruit. 
Et la mer efface sur le sable, 
Les pas des amants désunis.

Nous vivions, tous les deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Et la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit.

Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis...

(Jacques Prevert / Joseph Kosma)



As folhas mortas

Ah, eu só quero que se lembre
Dos dias felizes e nós éramos amigos
Naqueles dias de vida foram os mais bonitos
E o sol mais quente do que hoje

As folhas mortas são recolhidas por uma pá
Você vê, eu não esqueci
As folhas são recolhidas por pá
As memórias e se lamenta também

E o vento do norte os vence
Na noite fria do esquecimento
Você vê, eu não esqueci
A canção que você cantou para mim

É uma canção que se assemelha a nós
Você, você me amou e eu te amei
E todos nós vivemos juntos os dois
Você que me amava, que me amou

Mas a vida separa aqueles que se amam
Lentamente, silenciosamente
E o mar apaga na areia
Os passos dos amantes distantes.

Vivemos, juntos,
Você que me amou, eu que te amei.
E a vida separa aqueles que se amam,
Baixinho, baixinho.

E o mar apaga na areia
Os passos dos amantes separados...

(Tradução de Ednar Andrade).




O 1º livro



Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão-cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É gérmen - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar.

(Castro Alves).


Eu contava com 7 ou 8 anos – não sei ao certo, pois longe vai no tempo os meus 7 ou 8 anos... Rs – quando meu pai chega do trabalho com uma novidade: um presente para mim: um livro! O livro era um clássico de Júlio Verne: “A Volta ao Mundo em 80 dias”.

O livro tinha algo atraente para qualquer criança: além de letras tinha figuras. Como toda e qualquer criança, eu não tinha uma disciplina de leitura, uma vez que estava sempre envolto em vários compromissos (jogar bola, brincar de pião, correr com carrinho feito de lata de leite ninho, etc) – uma agenda cheia... Rs. Mas, lia e lia porque gostava. Qual criança que leu este livro não se encantou com as aventuras de Philias Fogg?

Ah! E como foi importante para mim este incentivo à leitura. Passei, a partir de então, a me interessar mais por literatura, por livros, por autores. Claro que, anos depois, pude assistir na televisão a versão de “A Volta ao Mundo em 80 dias”, mas não é a mesma coisa. O livro tem o mérito de mexer com a imaginação do leitor, fazendo-o explorar lugares, a vislumbrar situações, a visualizar pessoas que só é possível por meio do imaginário.

Isto sem falar, é claro, que por meio da leitura o indivíduo enriquece-se culturalmente, espiritualmente, evoluindo individualmente, o que tem reflexos não só para si, mas, também, para a sociedade, uma vez que uma pessoa culta tem mais possibilidades de mudar o seu destino e influir no de sua sociedade. É o olhar para o Sol e abandonar a visão da parede da caverna, como demonstrou Platão, ou seja, sair do lugar-comum e descobrir um mundo novo.   

Lendo este clássico de Júlio Verne eu ficava a imaginar os perigos nas selvas africanas, os combates com os antípodas asiáticos, os passeios de elefante na Índia, os rituais dos ameríndios, os animais da Amazônia... Enfim, descortinava-se diante de mim um mundo rico em culturas, povos, lugares, aventuras.  

Já li muito, principalmente os clássicos: Júlio Verne, Agatha Christie, Cervantes, Shakespeare, Machado de Assis, dentre outros. Gosto dos mais variados aspectos literários: poesia, contos, crônicas, romances, etc. Alguns livros e autores me impressionaram, tais como: Memórias Póstumas de Braz Cubas, onde Machado de Assis conversa com o leitor; Eu e Outras Poesias, onde Augusto dos Anjos aborda de uma forma crua e original as principais indagações humanas; Angústia, onde Graciliano Ramos mostra a realidade social de uma forma contundente, tornando o livro merecedor do titulo que tem; Ensaio sobre a Liberdade, onde John Stuart Mill demonstra a importância para o homem e para a sociedade deste direito individual, dentre outros.

Mas, coube a Júlio Verne ser-me o anfitrião deste mundo abrangente, rico, singular e fantástico que chamamos de Literatura.

(Danclads Lins de Andrade).