domingo, 25 de julho de 2010

Orquídeas




Um frio que aquece,
Uma saudade que enternece
A minha alma já tão sem certeza da prece
Que reza.
Volto, mas não há em mim sorriso,
Apenas o poema, o gemido da frase que digo,
Com vontade de ficar.
Uma eterna saudade do cantar das aves,
Do coaxar dos sapos, do murmúrio da cachoeira que rola,
Do simples silêncio da lagoa.
E volto e deixo lá a minha alma partida
E trago no meu corpo uma dor
Que me suprime, há tanta saudade...
Uma eterna vontade de ficar, sem partir.
E eu não sei o que reviver para não morrer.
É a memória das noites em que me deito
E como se fosse um barco, flutuo em pensamentos,
Memória viva, da felicidade que perdi.
É um querer-ficar, não ter que partir
É uma dor mais aguçada que um punhal,
Que invade meu peito e traspassa
O meu irreal.
Ai... Que choro e neste gemido
Há muito mais que uma simples dor.
Há um querer-estar na terra,
No abrir de cada flor.
Ai... Há uma tristeza
E uma inevitável certeza
Da felicidade que voou.
Ilhota, casa minha,
Pátria, ilhota,
Como sinto de ti, saudades.
Mãe-pátria, casa minha, como te quero
E como choro, este não-poder-ter-te em mim e voltar...
És a minha aurora, o meu melhor poema, "lual...",
Onde a noite nua, consagra-se com a Lua
E derrama no meu peito
Este afã, desejo de feliz-ser.
Ai, meu Deus, quanto sofrer neste meu calar,
Quanta vontade de ir e ficar,
Sem precisar jamais voltar.
"Verde" que tanto amo... Hoje vi que minhas orquídeas
Preparam-se, como que, numa solene exaltação da natureza,
Agonizam-se para ser vida em plena Primavera que virá.
Como quero, olhar-te vida, subindo pelos cajueiros.
Lilás, lilases sinais, de orquídeas florescidas no amor.
Ai... Como desejo que em setembro, que anuncia a vida,
Que no calendário do meu coração partido
A vida que soa em notas, como uma lilás canção.
Brisa mansa que passa por mim, trazendo memórias
De cravos, jasmins...
Como quero de ti, doce poema, ser a rima
Que em ti tudo encerra neste meu ser
Que vive de amor, em guerra.


(Ednar Andrade).