domingo, 12 de setembro de 2010

Talvez precisemos eleger um poeta






Talvez precisemos eleger um poeta.

Alguém que cuide dos interesses de todos, mas que também tenha interesse na benevolência, na paz, no amor, na justiça... Mas as pessoas só sabem rimar bem, quando o assunto é candidato, quando o assunto é guerra, fome, plano do governo, “aqueles bem planejados” que nos têm conduzido ao caos... E poesia, assim como se fosse um trem, tem que andar na linha dos interesses das editoras. Desculpe, aqui não cito nomes, portanto, estou nocauteando a quem de direito. E com isso e por isso, é feio falar de amor, falar de sentimentos, de prazer, de orgasmo, é feio tanta coisa que é bonita... Hoje, lendo aqui no meu blog, um dos blogs que sou seguidora, dei de cara com este texto de Saramago, onde ele - não sei se por alguma necessidade - justificava-se, alegando que não é possível matar o amor:

“Não se pode matar o amor


Eu acredito que o sentimento é como a Natureza. Não podemos, em nome da experimentação, da frieza científica, da objectividade e de todas essas coisas, expulsar o sentimento das nossas preocupações e das obras que vamos escrevendo. O sentimento estará sempre na moda, porque homem e mulher sempre sentirão amor. Não se pode matar o amor. Por isso tem uma presença tão importante nos meus romances. (José Saramago)”.

Eu – humildemente - peço desculpas, claro não sou Sara, nem Saramago, mas penso assim e assim que me sinto: vítima ou vitimada pela vida, pela decrepitude humana e encontro-me tantas vezes falando de amor, quando o momento é de guerra, é de dor, de total desolação da espécie humana, com distanciamento absoluto e visível dos reais interesses que não nos cerca, distanciam-se de nós a cada dia. Culpas com desculpas dos seus causadores na total ausência de sentimentos. E retomando a minha sugestão de candidato (poeta), também estive pensando em Platão, quando sugere que os filósofos administrassem as cidades (pólis). E diria mais, o momento é de euforia, as promessas voam pela cidade, em forma de panfletos, contribuindo para o acréscimo de lixo, bem como na poluição sonora que a ninguém interessa, só a quem a produz, sobrevoam as cabeças dos desinformados... São tantas euforias, tantos carros alegóricos, é quase uma escola de música, com vergonhosos refrões, alienando, aliciando a mente dos “crentes no bem” que nas promessas que jazem. Cada candidato escolhe uma música, não respeitando o sono das criancinhas, o descanso dos que trabalham, o que importa é divulgar rimas mentirosas, feitas de “prosas”... Saem pelas ruas prometendo céus e estrelas num “lirismo” que não perdura... (...)

E, reafirmando a idéia de Platão, muito justa e sábia, digo que falta filosofia, falta sentimento, faltam verdades nas intenções, e digo mais onde há sentimento a verdade não escapa; onde a mentira está, a verdade se esconde. Um governante-poeta ou um governante-filósofo poderia substituir os sentimentos vis que alimentam as vísceras e sangue dos “interessados na política injusta”. Sonhadora? Lírica? Ou metafórica? Não me importo como me classifiquem, aqui na política interna da minha família, por exemplo, tudo funciona bem, isso porque acreditamos nesta política: respeito, justiça, liberdade de ser. Todos são líderes dos seus direitos, das suas justas vontades e isso funciona e não perdemos o lirismo e nem o maior sentimento: o amor; quem ama liberta.

Assim, falta-nos um candidato que não entenda de política, mas que faça política com sentimento.

 (Ednar Andrade).