quarta-feira, 19 de maio de 2010

(O jiló da vida)



...E já disse o “velho e sempre novo” Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.”

É o jiló da vida que, por vezes, te faz vomitar as entranhas, revirar o estômago com nojo. Abrimos os olhos para ver a boca do dia, e ver “tudo”, parece inevitável, tudo azeda, tudo amarga, pois o dia-a-dia é um manjar cheio de surpresa, está sempre entre o doce e o fel, entre o amargo ao acre, entra pelos olhos, passando pela boca e sem pedir licença vai até a garganta em direção ao nosso coração que nada tem de intimidade com esta pimenta... Neste dia tudo parece ter um único sabor; salada de perguntas, questionamentos tantos, que o café que poderia ser doce e suave recebe um açúcar com porção de areia, que te faz travar até os dentes... Uma refeição feita de sabores escondidos que sabemos ter no armário, mas, sem jamais querer provar, fingimos não saber, ficam ali as doces frutas. Parece que tem olhos e tu as olhas, como se te traíssem ou omitissem, nada dizem, o seu doce aroma perde-se no jiló desta hora em que num segundo tudo é vomitado, e se abres a janela para respirar o dia, não está com cara de feliz, até o Sol, conspira contra ti... É quando percebes que o banquete está amargo, alguém errou na dose deste café desencantado, sais da mesa, atravessas até a sala; uma olhadela no jornal... Tentativa de leitura, nada diz-nos nada, quem sabe cala quem omite faz cara de bom, e nenhuma borboleta, nesta manhã sem graça vem te visitar, concentro-me no que tento em vão ler. Quem sabe hoje pelo menos lerei algo de novo, quem dera algo bom aconteça em outro lugar, a mesma bobagem, o mesmo governo, as mesmas intenções, tudo continua podre... Muita mentira, pouca ou nenhuma verdade, rs. VERDADE que palavra é esta que já não existe... Que virou sorvete, Maria mole, doce de coco - coco com acento no ultimo “o”-, que, de delicia, nada tem-, tudo enlatado, tudo mofado, química mal elaborada, contagiante, contagiada, de maldades recheada, segue esta mentira, que agora aliviada por “Dunga”, conversa do momento, a anestesia com longa duração, o bálsamo das próximas horas diante da tela (nada contra a copa), digo pois que ela talvez seja o ”refresco” que todos beberão para esquecer ou mudar o sabor deste jiló. A copa vira pão na mesa dos que não comem, melhora o capital e as capitais, continuam no caos e eles dizem que no âmbito geral desta mentira tudo melhora toda esta euforia vira motivo para aumentar o alcoolismo, crianças nascerão e terão nomes famosos (nomes de jogadores). Nos dias de jogo, macarronadas maravilhosas, regadas por “vinhos que alguns não beberão”.
E a vida vai assim, pintada com cores transparentes, hoje parece que “entender e ler a vida” é beneficio dos cegos, pelo fato de fazerem leitura em braile, só eles sentem no tato a leitura, só eles tocam as palavras com tamanha sensibilidade e prazer... Só eles podem acreditar no verde destas matas (extintas) já sem tintas verdes que as pintem com emoção (...).(Brasil!!!!!)...
...Fecho o jornal, encaro a porta, lá fora quem sabe ávida esteja a vida colorida. O amargo fique doce, mas antes volto à mesa tomo um café sem açúcar, por que hoje fiquei “P” e sei com descontentamento que nem eu nem tu, nem ninguém pode adoçar o jiló ou deste sapato apertar o nó, é como querer Sol em dia de CHUVA; é não ter pé e querer usar sapato, ou como diz a velha e batida frase é “correr atrás do vento” e o cordão dos condenados cada vez aumenta mais...


(Ednar Andrade).