quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

As Mãos





Há mãos que sustentam e mãos que abalam.
Mãos que limitam e mãos que ampliam.
Mãos que denunciam e mãos que escondem os denunciados.
Mãos que se abrem e mãos que se fecham.

Há mãos que afagam e mãos que agridem.
Mãos que ferem e mãos que cuidam das feridas.
Mãos que destroem e mãos que edificam.
Mãos que batem e mãos que recebem as pancadas por outros.

Há mãos que apontam e guiam e mãos que desviam.
Mãos que são temidas e mãos que são desejadas e queridas.
Mãos que dão com arrogância e mãos que se escondem ao dar.
Mãos que escandalizam e mãos que apagam os escândalos.
Mãos puras e mãos que carregam censuras.

Há mãos que escrevem para promover e mãos que escrevem para ferir.
Mãos que pesam e mãos que aliviam.
Mãos que operam e que curam e mãos que “amarguram”.

Há mãos que se apertam por amizade e mãos que se empurram por ódio.
Mãos furtivas que traficam destruição e mãos amigas que desviam da ruína.
Mãos finas que provam dor e mãos rudes que espalham amor.

Há mãos que se levantam pela verdade e mãos que encarnam a falsidade.
Mãos que oram e imploram e mãos que “devoram”.
Mãos de Caim, que matam.
Mãos de Jacó, que enganam.
Mãos de Judas, que entregam.
Mas há também as mãos de Simão, que carregam a cruz,
E as mãos de Verônica, que enxugam o rosto de Jesus.

Onde está a diferença?
Não está nas mãos, mas no coração.
É na mente transformada que dirige a mão santificada, delicada.
É a mente agradecida que transforma as mãos em instrumentos de graça.

Mãos que se levantam para abençoar,
Mãos que baixam para levantar o caído,
Mãos que se estendem para amparar o cansado.

São como as mãos de Deus que criam, que guiam,
Que salvam, que nunca faltam. 
Existem mãos, e mãos.
As tuas, quais são?

(Josefa Prieto Andres).

Texto enviado por Dan.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009



Quanto mais calo, mais falo (Ednar Andrade).


Estou querendo ficar comigo, preciso por ordem nos meus pensamentos... E organizar minha gaveta da alma. (Ednar Andrade).

Saudade



    Eterna saudade do meu irmão Eli.

Esta saudade toma conta do meu sorriso.
Uma grande saudade; um eterno adeus...
A tua partida apagou meu arco-íris:
O Natal tem uma estrela a menos;
Um Natal sem brilho.
Enquanto viver, estarei morta contigo.
Não devias ter partido, era tão cedo...
És a minha eterna saudade;
És o riso que perdi;
O Adeus que não pude dar;
O abraço que não tive;
A surpresa que não gostaria de ter tido
E um deserto que ficou comigo;
Uma lágrima na garganta; uma voz que já não canta.
Todas as tardes são iguais e o Sol que te levou não te traz;
Não te verei nunca, nunca mais.
Meu coração ficou assim, como um navio:
Uma saudade à deriva;
Numa noite sem cais;
Fostes; não voltarás.

(Ednar Andrade).

Trecho do poema "Aqui"





Só aqui onde o vento balança as folhas do meu cajueiro.
Lá fora onde o mundo não existe
Aqui, o meu mundo não tem porta
Aqui, neste simples lugar, onde os meus netos me viram cantar...
Aqui, onde parece que conheço cada folha, cada caju, cada silêncio...
Aqui, onde este terraço sabe tudo que penso
Quero, depois de morta, o meu corpo descansar.


(Ednar Andrade).

Aqui





Aqui, onde não tem bonde, nem praça...
Aqui, onde tudo parece sem graça.
Aqui, onde festejo a alegria.
Aqui, onde a porta parece ser apenas porta...
Aqui onde a vida começa... e qualquer hora é morta,
Pois a felicidade habita onde poderia ser morta.
Aqui, em cada canto, em cada silêncio, em cada objeto.
Aqui, onde tudo parece ser deserto.
Só aqui sou feliz... só aqui a vida importa...
Só aqui o verde é verde... só aqui a arte não é morta.
Só aqui, no mesmo ninho... pássaros fazem ninhos.
Só aqui onde o Sol chega e... me desperta
Só aqui onde o vento balança as folhas do meu cajueiro.
Lá fora onde o mundo não existe
Aqui, o meu mundo não tem porta
Aqui, neste simples lugar, onde os meus netos me viram cantar...
Aqui, onde parece que conheço cada folha, cada caju, cada silêncio...
Aqui, onde este terraço sabe tudo que penso
Quero, depois de morta, o meu corpo descansar.
Aqui, plantei meus sonhos,
Vivi meu melhor luar
Plantei flores simples que até hoje cultivo.
Aqui vivi o meu mais lindo luar,
Aqui onde cantei as mais doces canções de ninar para os meus netos dormirem
Aqui, onde a minha alma habita quando o meu corpo não está
Aqui habitam comigo todos os silêncios, toda a alegria
Aqui, onde nasceram meus netos, onde vivi toda minha paz,
Vivi todos os meus conflitos
Aqui, onde elevo minha alma e com o coração contrito
Quero sempre estar, só aqui neste lugar
Sinto-me quem sou e onde estou, sem hora para voltar.
Aqui, onde o meu coração sempre está, mesmo que o corpo vagueie por caminhos distantes.
Aqui, onde vivi tantos sonhos, onde o inverno foi tão quente,
Onde os meus olhos viviam contentes, só aqui quero estar.
Só aqui a vida é bela, só aqui repouso a alma e o corpo já cansado.
Aqui, onde tudo parece um sonho, onde a lagoa me rega a alma,
Onde o silêncio me diz poesias, onde Julinha tem alegria,
Onde Gabriel compõe meu sonho.
Aqui, neste lugar, onde vi Bruna mamar,
Onde aprendi a tanger gado,
Onde os grilos cantam canções que nunca esqueço,
Onde os sapos contam segredos em seu coaxar das noites escuras
Onde as águas do inverno banham de poesia a minha porta
Onde o riacho derrama as lágrimas que hoje choro,
Onde o perfume das flores do  meu cajueiro me levam
Sem passaporte para sonhos tão verdadeiros
Aqui, onde Deus atendeu minha prece
E me deu como presente este lugar como abrigo.
Aqui, onde o mundo se perde e eu encontro-me comigo
Aqui, onde passo a passo, tijolo por tijolo vi nascer a o meu castelo de sonhos.
Aqui, onde a argamassa foi temperada com lágrima.
Aqui. onde o chão tem minhas digitais.
Aqui, onde a saudade nunca será a minha paz.
Aqui, só aqui, neste recanto tão simples
Sinto-me bem e sou feliz.
Nas águas desta lagoa, mornas, ternas e tão boas
Me banho e me restauro
Aqui, onde os amigos cantaram
Aqui o vinho regou a festa,
Aqui , onde tudo calo, onde tudo sei, onde nada digo,
Aqui é o meu abrigo.
Aqui, onde vivi com meu irmão uma grande comunhão de amor,
Onde eu o escutava e aqui, eu e Eli tão sós e por sermos sós, ficávamos
Aqui, onde as mangabas perfumavam as manhãs,
Onde os sabiás cantavam uma canção tão linda, tão bela, tão singela.
Aqui quero viver, aqui quero morrer,
Entre a lagoa e o mar, ser apenas Ednar,
Mulher feita para amar.

(Ednar Andrade).

Cântico Negro




"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"



(Poema de José Régio interpretado por Maria Bethânia).

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Frases



“Não me perguntes da vida; ela me conta casos, que estranhamente escuto” (Ednar Andrade).



“Sou incapaz de plagiar; a dor nos fez parecidas” (Ednar Andrade).


“Meu melhor momento é quando esqueço quem sou e apenas me entrego ao encanto de ser como sou” (Ednar Andrade).



“O meu coração é uma casa sem porta. Para mim o que importa é que você chegue e queira entrar” (Ednar Andrade).



“Ter razão é secundário, quando ser feliz é importante” (Ednar Andrade).


Ser quem sou





Vou dormir,
Quero acordar como uma flor que desabrocha,
Olhando o verde em minha volta
E feliz, feliz, feliz

Abrir a porta do dia e ver a vida
Com alegria.
Olhar tudo em minha volta
E entender que o Criador

Me fez no mundo para ser quem sou
Feliz, livre e solta
Como uma ave que voa no céu

Feliz porque existo,
Feliz porque sou
Parte da natureza,
Vou dormir

E quando acordar,
Quero sorrir, cantar,
Agradecer ao Criador
Por ser quem sou. 


(Ednar Andrade).

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

*****É Natal o ano inteiro*****







Então, não é que seja Natal. Você teve 365 dias para desejar o bem, ser feliz, fazer feliz também... amar, dizer que ama, dar presentes, distribuir sorrisos... Louvar ao Criador, agradecer a benção de Jesus ser o Senhor. Mas só em dezembro você resolve dizer tudo isto? O aniversariante, este não é aplaudido? O que mais importa é o valor do seu vestido? 

Por isso e por tudo isso, para mim o ano todo é Natal. Amo a todos o ano inteiro, desejo o bem a qualquer um. Façamos assim: a felicidade, o bem querer, a bondade, o amor, não apenas em dezembro deve nascer. E sem mais, declaro que ele veio para mim e para você. Então, é Natal? O que é o Natal? A ceia? O cartão de crédito? A mesa farta? A roupa nova? 

O Natal poderia ser... Não direi, diga você! Por que para mim, o ano inteiro, a vida é o renascer. 


(Ednar Andrade).


sábado, 19 de dezembro de 2009

Vou-me Embora pra Pasárgada




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá um Existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei nenhum pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando cansado Estiver
Deito na Beira do Rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir uma concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei --
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


(Manuel Bandeira)

Texto inspirado em conversa com Paulinha.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Uma Festa Dentro de Mim




    Foto de Danusa Leão, na Revista Contigo!


Resolvi dar férias para as dores, 
tristezas e decepções. 
Cansei de ficar reclamando, de achar 
culpados para a minha angústia. 
Resolvi mandar tudo plantar batatas e decidi: 
vou fazer uma festa dentro de mim! 
Prá começar eu vou para o espelho 
ensaiar o meu melhor sorriso, 
vou retirar essas marcas da minha testa, 
vou jogar fora essa máscara de dor 
que me acompanha há tantos dias, 
e preparem-se: eu quero é ser feliz, 
quero conhecer pessoas como você que é alegre, 
pra cima, alto astral, pra falar a verdade, eu também era assim, 
até que uma decepção me jogou para baixo. 
Mas, hoje eu não quero falar de tristeza, 
quero saber é de coisas boas, quero ir ao cinema, 
sabe há quanto tempo eu não vou ao cinema ? 
E tem mais, eu vou escolher o filme, chega de "gente" 
ficar escolhendo o que eu quero. 
Hum ! Acho que vou passar no cabeleireiro antes, 
vou pintar os cabelos, cortar umas pontas, 
vou me agradar, só para o meu prazer. 
Engraçado, agora que eu falei nisso, 
sabe que eu estava em um relacionamento 
onde eu fazia tudo para agradar a pessoa que estava comigo, 
fazia isso, não fazia aquilo para não magoar, 
não usava aquela roupa, usava aquele perfume, 
tudo para acertar, para manter o "clima", 
para fazer o gosto da pessoa e resolveu o quê? 
Ganhei um pé no traseiro, e perdi a vontade de viver. 
Você sabe onde eu errei ? Hoje eu sei ! 
Eu errei na hora de anular os meus desejos, 
em transferir a minha vida para as mãos de outra pessoa, 
e é lógico, quando eu percebi que era o fim, 
fiquei sem chão, sem mundo, sem vida. 
Mas, hoje é dia de festa 
e só para o meu prazer vou tomar um banho demorado, 
e vou fazer de conta que 
a água do chuveiro é água de batismo 
e vou "renascer para a vida". 
Sai da minha frente que eu quero viver !!! 
Quem quiser que me acompanhe.


*Danusa Leão*