quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oração do dia (Carta ao Criador)



Senhor, leva-me para a suave brisa desta oração de amor. Que meus olhos fiquem cegos da mágoa desta tristeza, que minha boca alcance o beijo do meu tão sonhado “poema”, que meu abraço chegue em forma de oração ao coração dos que amo, que eu possa transmitir o calor que há no meu querer... (Um querer que independe da minha vontade) (Amar), amar o gesto silencioso de cada amigo, o olhar de cada irmão, amar o sacrifício sublime dos que amam sem ser amados, doar compreensão ao desprezado, fechar os olhos para o desprezível... Que eu saiba enfeitar de alegria a alma aflita do meu amigo, do meu irmão e até do que se diz meu inimigo. Senhor, mas que, acima de tudo, que eu possa perdoar o que ninguém perdoaria, que eu chegue até ti na minha oração, que eu sorria num gesto de doação, que minha mão não se feche para outra apertar, não me deixes desistir de sonhar... Mesmo quando a dor vier me visitar. Ensina-me a não ser triste, ensina-me a caminhar no deserto dos jardins que, mortos, já não são belos. Ensina-me a colher sementes para ter rosas, a ser como a chuva que rega a vida nas florestas, a ser como o rio; que se mistura a terra sem deixar de ser natureza, mostra-me como ser nuvem para proporcionar água aos que têm sede de carinho... Ensina-me a ser como os caminhos que levam os pés cansados a um remanso, um ninho... Meu pai, quero ser sem vaidade um anjo bom, uma mãe, uma avó, uma amiga fiel (amante), uma mulher barulhenta de esperanças... Sonora como a passarada nas manhãs de setembro. Ser como as orquídeas que, mesmo depois da primavera, ainda assim, enfeitam de saudade os corações. Como o outono, ter no peito meu um vasto tapete de folhinhas ternas, em sépia para que eu deite nele os versos que faço com amor... Ser um acorde na canção da poesia... Ensina-me também a ser silêncio, também a ter a palavra certa no meu silenciar, a ser pausa, a ser corajosa, a não ter medo do escuro, que eu não olhe para trás jamais... Que eu possa seguir com fronte erguida o resto dos meus dias; que eu saiba cantar quando me sentir só; acreditar neste amor tão forte que carrego comigo; guardar o segredo do verso que não digo; continuar olhando o “Sol” sentindo-o um Rei *e louvando a sua chegada*. Olha Deus: tudo que te peço é para mim muito, é como um tesouro que quero ter comigo, só não me tires dos olhos o mar, o verde da minha ilha, o canto dos teus pássaros, o riachinho que corre na porta da minha casa pobre, a lagoa onde me banho. Senhor, também não me tires a capacidade de sonhar, não me deixes cética de amar, ainda que cedo ou tarde eu morra; os ventos possam espalhar a minha poesia, que ela chegue a quem precise de amor, como uma oração, que ela vá até o mais fundo de algum coração, que algum dos meus versos possa trazer paz, trazer contentamento. Senhor, sei que sou pequena, sou como no deserto a mais frágil florzinha... Sou obra das tuas mãos, irmã do teu amado filho “Jesus”, aquele que por nós padeceu na cruz.

Por tudo isto Senhor, é que te peço nesta longa e simples oração, que é quase um poema de emoção, é uma cartinha feita para ti com muito carinho. Senhor, guarda contigo os segredos que te digo, dá-me a força para não ser vencida, e mostra-me a luz que preciso e peço. Que eu não morra distante do Sol, que eu possa me banhar nesta fonte de vida por todas as minhas manhãs.

Amém...

(Ednar Andrade).