sábado, 17 de julho de 2010

Memória (Memory)



Meia noite, nem um som da rua
A lua perdeu sua memória?
Ela está rindo sozinha
Na luz das lâmpadas
as folhas secas se recolhem aos meus pés
e o vento começa a se afligir
Lembrança, totalmente sozinha a luz da lua
Eu posso sorrir nos dias passados
A vida era bonita então
eu me lembro
do tempo que eu conheci o que era felicidade
Deixe a lembrança viver novamente
Todas as lâmpadas da rua
Parecem piscar
Um aviso fatalista
Alguém murmura
E as lâmpadas da rua se apagam
E logo será de manhã
Luz do dia, eu devo esperar pelo nascer do sol
Eu devo pensar em uma nova vida
Eu devo partir
Quando o amanhecer se aproxima
Essa noite será uma lembrança também
E uma nova vida começará
Queimar os fins dos dias esfumaçados
O frio envelhecer cheira a manhã
As lâmpadas da rua morreram
Outra noite se acabou
Outro dia está nascendo
Toque-me, é tão fácil de me abandonar
Sozinha com uma lembrança
Dos meus dias no sol
Se você me tocar
Você entenderá o que é felicidade
Olhe, um novo dia começou.


(Andrew Lloyd Webber).


Tradução de Memory, por Barbra Streisand.

Homo Lupus Homini.



Lobo, perdido na noite...
No eternal inferno
Mora o homem,
Devorando-se e devorando
A tudo e a todos,
Comendo e vomitando
A própria sorte.
Terrível exterminador
Da própria sombra,
Dos recantos vis
Da própria alma.
Poeta, como quem faz versos
Arquiteta a chacina trágica
Da traição.
Este animal que fala,
Beija, sussurra
E diz que ama,
Jura amor,
É réu confesso
De si mesmo é traidor.
Transita entre
A sorte e a paz,
Mas busca a guerra
- Manjar sangrento
Que parece correr-lhe
Nas veias.
Bebe em taça
Coquetel de fel
E brasas de inquietação.
Lobo que uiva (!!!!!!!!!!!!!),
Procurando, no tempo,
Aconchego ao coração.
Vagueia, buscando o nada
Ou encontra-se
Em total devassidão.
Lascivo, busca fora de si
O que não vê ter
Dentro do peito.
Engendra, transgride,
Aflige-se, tudo faz a si.
Dentro da sua noite,
Escura maldade.
Embriaga-se e bebe
A própria sina.
Para depois
Morrer da própria desgraça.


(Ednar Andrade).

Quimera Matinal



Deixa-me sonhar...
Deixa-me divagar
Nas asas da ilusão,
Enquanto posso... 

Deixa-me que eu coma as manhãs
Nesta ceia matinal
Com sabor de vida fresca. 

Deixa-me mergulhar
Neste azul de mar
Que invade minha janela

E que este vento
Possa passear todas manhãs
Na minha face
E beijar toda a manhã
Com essa ternura infinda
Que a natureza premia. 

Deixa que eu esqueça as dores,
O sofrer, as agonias, os dissabores
E me derrame nesta “doce poesia
De cada amanhecer.” 

Ai! que não quero esquecer jamais...
Este azul (quase violeta),
Que desta paisagem brota. 

Das águas doces da lagoa,
Possa eu sempre me banhar.

Que eu deixe neste mergulho
Qualquer desconforto
Da minha carne sofrida.

Deixa-me, mãe natureza,
Que em teus braços,
Assim como um pássaro, eu cante
Sem me queixar... Do que não tive
Ou do que não tenho.

Leva-me, terno sonhar...
Para teus bosques distantes...
Faz de mim flor,
Flor brejeira, flor do campo.

Que eu me sinta feliz
Como orquídea em Primavera,
Enfeitando a vida
Que há na morte e na dor.

Mas não me deixe
Vagar sem sonho,
Sem verde, sem o canto das aves
E sem versejar o amor que canto,
Sem a água deste mar...
Não me deixes.

Quero morar nas frias tardes
E dormir serena e morna nas noites,
No balançar destes ventos,
Nesta rede de contentamentos,
Refrescar meu coração cansado.

Beijar meus netos
E com eles dormir
Um sono sossegado...


(Ednar Andrade).