segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Quintais do tempo


Calendário sem páginas,
Relógio em descompasso,
QUINTAIS DO TEMPO,
Caminhos de rosário, conto tuas contas
Em cada uma há uma história... Bordada no linho
Como digital- água não -lava
Folha por folha, viajante ébrio
Areia  nos dedos,
Riacho e ponte...
Hoje a água está quente.
Paisagem na parede, parecendo um olhar,
pintada pelo barro, casebres  vazios.
Mirando o nada
MAR, DESAFIO...
Tecendo teias, aranhas  trabalham
Misteriosamente-mente 
Mente quem diz que não sente
Quem não parece vê
E CRÉDULO DO INCRÉDULO
O pêndulo.
"As horas psseiam "
NO VELHO ARMÁRIO
Que guarda como um diário o que não vê,
Mas sente... Horas  de vagos silêncios
Tilintar dos sinos,
Esquizofrênico,
Caduco
Sem calendário,
Ampulheta louca.
Deserto, invento...
Pinto a areia no tempo.

(Ednar Andrade).

sábado, 29 de janeiro de 2011

Metade


Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Osvaldo Montenegro).

sábado, 22 de janeiro de 2011

Borboletas



Sobre o verde as borboletas,
Numa maestria natural,
Como flores saltitantes,
Balançam... Dançam... No meu quintal...
Coisinhas miúdas, ternas, suaves,
Coloridas... Amarelinhas e azuis... Lilases e branquinhas...
Há uma festa no verde, feliz–cidade,
Murmúrio de lagoa,
Cantiga das águas,
Magia pra encantar,
Fazendo rodeios em volta das flores,
Dizendo em versos poemas...
Pro meu '"amor" encantar...
Leves, distraídas,
Felizes como pequeninos anjos... Vão e vem...
Passam por mim; beijam-me...
Sorrio  com uma lágrima o olhar.
Chegaram com a chuva
Festejam o cheiro das folhas molhadas
Banquete feito pro simples...
No desmaio desta tarde,
Cigarras...
No regaço da natureza
Terra molhada, conchinhas d’água
Zumbido de besouros, cintilantes vagalumes
Os passarinhos cantam, a tarde então descansa...
A noite vai dedilhar versos, os sapos seu coaxar...
Na mata  não  há tristeza.
Só uma canção no ar...
A natureza em festa.  

(Ednar Andrade)
 
(*22*01*2011*)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Quimera



Sisuda  mágoa .
Espelho do meu pálido sorriso,
Nem devaneio, nem dispersão...
Nem prazer és... És quimera ...?
És-me cálice de longe e tardio olhar desigual 
Que lanço sem saber o desatinado tremor...
Espada aguda e cega.
És-me chama, 
Fogueira de bruta e rubra violeta cor.
És-me guerra...
Enfadonho  trilho  ...
Mescla de carne em conflituoso escárnio.
Sombra....  Ave de rapina
Soberbamente carregado de engano
PORQUE (?) Porque?
Em calmas nuvens, não traz-mes brisas?
Podias ser anjo, podias ser inerente paz...
Mas fugitiva força, me atrais...
Oceânico  sonho...
Distante cometa sem brilho ,
Sem vida própria.
Imperfeita  e amputada luz...
És como a primavera sem flores,
És o chão estéril,
O abismo  e o sofrimento  dos esquecidos,
A carência do pão que foi"cuspido..."
O aborto, o peito que arde e queima pelo latejante leite contido.
O filho pródigo,
O rio irreverente  que segue, sem  se importar com o que arrasta...
Torrente...
Devastando tudo sem rastro deixar´
És... O começo e o fim do nada ...
És, sobremaneira, estúpido, mortal sentido
Venerado e soberano  sem de nada seres Rei...
Crucificado e escarlate sacrifício...
...Também calvário ...
És cruz.
(Ednar Andrade)
(21*01*2011*)

Lama e Cães


De verde, olhar ...
Incógnta:
Raivosos... Crueis e frios.
Quem sabe ou saberá lê-los...(?)
Caminham pelas sombras da noite, sem afeto, sem saudades...
Rimando solidão e desgraça 
Seus pensamentos ruminando,
Perdidos  na cama da lama
Mornas calmas, desejariam  ter.
Mas já não podem, nelas crerem...
Seguem... Seguem o destino que teceram nas caladas da infeliz gestação
...Assim parece que nasceram.
Têm pés cansados, sorrisos duvidosos...
Seu mundo é puro  desabrigo,
Sua unica companheira  não lhes beija as feridas ...
E delas escorrem suas vidas
Cães largados nos dicionários... Dimensão perdida.
Fomes vorazes  lhes tingem as víceras e células que descamam em quase-morte.
Miseráveis  bichos...
Envoltos na pobreza que lhes trouxe a sorte...(?)
Não olham para trás, nem para os lados,
Têm olhos vendados pra não mirarem seu infinito  (fim)
São podres  como um túmulos por dentro...
Nas suas estranhas, entranhas deslizam vermes ...
Que aguardam o banquete final.
Sobras de homens,
CÃES NA LAMA...

(Ednar Andrade)

(21*01*2011)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nua



Escrevo, em linhas retas, minha torta emoção,

Declino...
Como um raio que se perde no horizonte em fim das horas;
Flutuo... Divago.
Caio em meio ao verde do campo, desigual, incontida, alheia...
Como uma folha  descuidada,
Deslizo... E...
Suave, bebo o sabor da ausência...
Há  um vagar na solitude deste desencanto que leva ao (oposto...)
SEM DESALENTO.
Apenas , uma sutil presença , um devaneio  que sofrejo...(...)
És-me como  o brilho do Sol,
 És-me como a noite em plena lua.
E... Eu ao luar,
Tua lua, nua...
Já é noite... Ou quase isso... Eu,
Vagueio e sonho...
COM BRANCAS RENDAS AO CHÃO.
Com estrelas: minhas e tuas soltas na escuridão...
...Reclamo,
...Declaro, declamo sussurro e chamo...
Minha paz em desatino e guerra,
Minha mórbida canção...
Tenho mãos cálidas e olhar disperso...
Minha carne geme,
Meus dedos inventam versos,
(HOJE NÃÕ HAVERÁ ESTRELAS...)
...E para sempre no universo: encanto e encantamento...
HAVERÁ
Distante estou do meu ser mais profundo,
Sou como  a estrela cadente... (:),
Faças um pedido, e eu, adivinho o desejo estrelar...
Metáfora, lirismo, fantasia...
Vivo  espaço na minha amplidão...
Fio de água, doce riacho, veio...
Sou como o sofrimento,
Sou o impróprio,
Sou o que não digo,
Sou o que rejeito, sou e apenas... Sou...
Sem  ilusão,  com sentimento em palma;
Busco.
Quem sabe, o doce descanso que virá... Ou, vira  calma...
...E assim:
És-me tudo, és-me  o nada.
Faz-mes maldita,
Faz-mes santa...
ANJO OU DEMÔNIO, SOLTA À LUZ DA LUA.
Luar...
Meu sorriso sonha...
Com um canto lírico, uma trova um verso,
Meu reverso...
Minha suprema magia,
Meu  suplício e vida,
Calvário sem cruz... Encontro-me crucificada...
PERDIDA.
Largada, feito trovão; assombro... Relâmpago  vazio...
Amplidão.
Clarão...

"Nua."

(Ednar Andrade)

(19*01*2011*)