quinta-feira, 25 de março de 2010

Johann e Maria (Parte VII).


Foto pesquisada na web.

Maria, fechou o piano, foi até a sacada, colheu um jasmim. No bilhete que recebera de Johann, havia, no rodapé, o número do seu celular. Por vezes, Maria sentiu-se atraída, com imensa vontade de ligar. Faltava-lhe apenas coragem para ligar e dizer para o seu amado que a saudade a incomodava tanto... Discou o número que esgotou todas as possbilidade de ser atendido, por certo Johann dormia. Mas, como não resistiu, deixou-lhe um recado na secretária eletrônica: amigo, saudades... Chamava-o de amigo, pois entre eles nada existia. Apenas em seus momentos silenciosos, dentro da madrugada, chamava-o de meu amor.

Esta seria uma noite que ela presumira, de paz, depois da visita de Eleonor, pois ela deixara consigo a sensação de suavidade. Entrou abriu as janelas, deixou aquelas brisa mansa da noite. As cortinas transparentes batiam-lhe na face como se fosse um carinho. Maria sentiu um aperto, veio-lhe de súbito uma vontade de chorar. Parece que seu corpo todo ardia de desejo por aquele homem nunca tocado, pois a única certeza de tocá-lo fora aquele abraço, quase que ousado, que demorou segundos, quando sem querer suas bocas quase se tocaram. Era a sua sensação de haver beijado aquele homem; sua memória única de intimidade com aquele rosto iluminado. Hoje a saudade deste momento veio-lhe visitar. Queria tanto beijar pela primeira vez aquela boca, sentir o seu hálito, sentir qual aroma sairia daquela boca, daquele beijo. Desejava ardentemente ser abraçada por aqueles braços fortes de homem. Segurou os seios e os apertou como que oferecesse a Johann, num gesto mímico. Apertava-se, sentia-se contraída. Da sua boca saíu um sussurro. Ela disse: "Johann, meu amor, como te quero"... Maria estava, pela primeira vez envolta por uma sensualidade ímpar. Agora tinha a certeza que, da alma, passava à carne aquele anseio. Como a incomodava aquele homem, aquele quase estranho. 

Sentia um descontrole na carne. Rolaria naquele tapete com Johann, até o raiar do dia; ofereceria a Johann seus seios como o néctar do amor. Imaginava aquela boca quente a beijar-lhe o corpo. Estava neste enlevo, quando seu telefone toca. Num gesto impetuoso corre. Na sua alma havia uma certeza: - Era ele. Achou até que seus pensamentos haviam chegado àquele coração tão distante. O seu desejo viajara para tão distante que o fez acordar e desejá-la também. Atravessou a sala, o telefone ainda estava sobre o piano. Não era Johann. Alguém ligou errado. Maria entristeceu e o seu desejo de ouvir aquela voz,como uma tempestade, evoluiu e ela ligou para Johann. Uma voz rouca e mansa disse-lhe: - Alô! Johann reconheceu a voz de Maria. - Alô Maria, eu precisava tanto ouvir a tua voz; a saudade me consome. O silêncio fez o texto. Entre sussurros de felicidade, fizeram confissões, disseram coisas lindas, como queriam este momento que, com certeza, definiram no inconsciente desde o primeiro encontro.

Maria diz-lhe segredos que guardava durante todo este tempo. Confessa por ele o seu amor platônico. Johann, por sua vez, confessa: - Tu também me incomodas tanto Maria, quero o teu amor a cada dia. Não sei medir o quanto; só sei que te quero, que te quero tanto... te quero mais a cada dia. Como te desejo, Maria, como quero beijar-te a boca quente; dizer sussurros de amor ao teu ouvido. Meu corpo te quer; és como a água que a minha sede de amor mataria.

Maria silencia e chora; uma lágrima não de tristeza, mas de satisfação, pois agora conclui que seu amor é correspondido.

O amor para Maria e Johann chega assim de forma súbita. Como no poema de Ednar Andrade:

O Amor


O amor dorme/
No leito de um rio que corre dentro da alma de quem cala/ (...)
Vagueia ...e delirante nos ofusca/
Diz que não ama, mente/
Faz com que as nervuras das águas molhem corações/
Mente...minto, mentes.../
Mas calma , apenas sinto/
O amor desperta/
Quando o sol da vida encontra uma fresta/
Invade irreverente/
Ele apenas chega/
Assim chega as vezes sutil/
te pega , te deixa/
Abre ou fecha a porta/
Mas é o amor/
Nada a mais importa/
Quando ele chega *

(Ednar Andrade)



Nada mais importa para Johann e Maria a não ser viver com intensidade esta chama de amor. Esta loucura que muitas vezes transforma-se em luxúria em seu sonhar. Querem-se tanto; desejam-se tanto; como é bom amar...