quarta-feira, 24 de março de 2010

Johann e Maria (Parte VI).


Foto pesquisada na web.




As amigas abraçam-se, sussurraram frases naturais (há quanto tempo? saudades) comportamento de quem sente saudades. Na verdade, depois da apresentação a Johann, estiveram ausentes. Eleonor sempre muito ocupada em suas tarefas de dona de casa e mãe, exercia a profissão de professora, o que a tornava mais ocupada. E mesmo que não falassem sobre aquela manhã, existia entre elas uma cumplicidade; um silêncio necessário; um silêncio dos amigos; um silêncio que deixa o outro à vontade para falar ou não. Eleonor percebia que Maria mudara, pois notava que a amiga estava abatida; carregava no olhar uma interrogação que quase expressava em letras, mas nada dizia. Maria respirou aliviada ao ver a amiga que tanto ama e que esteve ausente. Aquela visita, que nada tinha a ver com a sua fantasia, era como se trouxesse de volta a presença de Johann e aquela manhã. Eleonor, meio sem graça, e sem ter a certeza do silêncio de Maria, perguntou-lhe sobre o que fazia nos últimos dias, pois passara-se já dois meses. Elas carregavam naquele silêncio toda uma cumplicidade, pois desde muito jovens compartilhavam os sentimentos. Eleonor percebeu que, desta vez, Maria mudara. Passou a ser reticente, fez-se todo um silêncio em torno das duas, pois sendo tão amigas não falavam mais dos sentimentos. Algo de novo acontecia e que, com certeza, seria um novo sentimento. Eleonor só não sabia que proporcionara aos dois um encontro que se prolongaria e, quem sabe, seria transformado em amor.  Sem conter-se de curiosidade, Maria não resistiu e, quase num ímpeto, fez a pergunta inesperada a Eleonor: - Tens notícias de Johann? - Sim, temos falado, temos tido poucos contatos, pois ele está na Europa, participando de um congresso que parece sem fim. Maria relutou, mudou de assunto, mas sentiu-se satisfeita, de alguma maneira chegou aos seus ouvidos a maviosa notícia do seu amado: Johann viajava. Fez-se um silêncio, amigas falavam de trabalho, falavam de coisas amenas, mas existia agora entre elas um espaço, uma lacuna. Maria sentia-se como uma adolescente que guarda um segredo; Eleonor percebia um distanciamento, mas não conseguia captar os sentimentos da amiga que agora, levada pelo elo reforçado dos sentimentos, amava-a cada vez mais, pois era Eleonor a válvula propulsora para este evento em sua vida; este sentimento que nasceu do nada. Era quase como um sentimento impróprio; um sentimento que oscilava entre o platônico e o carnal. 

Maria, em suas noites de insônia, desejava Johann. Isso a incomodava tanto que ela não dormia; eram pensamentos lascivos, desejava aquele homem. Imaginava a sua boca naquela boca; pensava como seria ouvir coisas obscenas ao seu ouvido. A excitação era total; seu corpo tremia nas madrugadas em que acordava subitamente sonhando com Johann. Olhava para Eleonor com medo que ela adivinhasse tanta luxúria, tanto desejo e esta sede de prazer desconhecido, mas que ela queria, queria tanto beijar aquele homem; imaginava seu corpo nu e o queria; e o queria tanto que seu corpo era tomado de excitação e dor; uma dor na carne, aquela dor de quem deseja e não tem o objeto amado. Agita a cabeça, volta a si, respira fundo e diz: - Que bom que felizmente ninguém tem esse poder de invadir minhas emoções. A noite caíra lentamente. Dirigiam-se até a sala, tomaram uma taça de vinho; vinho tinto, enquanto aguardavam o jantar. Agora falavam de música. Maria como que, para reviver aquele momento com Johann, começou a dedilhar La vie en rose. Em silêncio tomaram uma taça de vinho. Eleonor falou de Vítor, seu marido. Falou das suas viagens, relembrara alguns momentos da faculdade. Até que chega a hora de jantar. Jantaram despediram-se com um beijo e a promessa de voltarem na próxima semana. Maria a acompanhou até o portão. Despediram-se. Naquela noite, Maria sentiu-se aliviada. Claro, não era Johann, mas Eleonor carregava em si, sem que soubesse, parte da sua emoção. 

(Ednar Andrade).