domingo, 26 de junho de 2011

Cadê o dedão que estava aqui?


Cadê o dedão que estava aqui?
A porta comeu! – a avó respondeu
Como comeu? Comeu de verdade? – perguntou Julinha
Que nem o doce de coco que eu lambuzo?
Sim e não!
Ai vovó, que distinção!
Então a porta achou que o dedão era doce?
Quem sabe purê de batata?
Humm, melhor: biscoito de nata
Ou pensou que era almoço depois da aula?
Quão faminta esta porta, vovó!
Tira ela da nossa casa, senão,
tudo o que for grandão...
Vai ficar pequenininho!
A cortina florida vai virar lenço.
A minha cama voltará a berço.
Minha Emília, quem sabe uma barbie
Meu vestido de xita, um laço
Meu milho cozido, um bagaço
Explica logo, vovó: como comeu?
Julinha, é que a porta caiu no meu pé e comeu o dedão
O dedão virou dedinho
Nisso, o pé ficou todo fofinho:
Primeiro a porta faminta bate
Depois o dedão fica moidinho
Posto que o que era grande esmaeceu...
O pé todo então cresceu.
E esta bota branca?
É para ele não explodir de tão grande.
Vixe, vovó! É um pé-bexiga ou um pé-balão?
Querida, você tem quase razão.
Mas eu já sei o que a porta é.
E o que é?
É um martelo.
E por quê?
Porque bate, empurra, encaixa e tortura.
Faz sentido, Julinha, mas ainda não é.
Então é uma sanguessuga.
E por quê?
Faz tudo pra sugar, come do outro e ela só a aumentar...
Também faz sentido, mas ainda não é.
Então é um novelo de lã
E por quê?
Trabalha quieto, só a gente que mexe nele: puxa, empurra, puxa, empurra...
Também faz sentido, mas ainda não é
Então o que é?
É uma porta faceira. Finge-se de segura, mas no fundo é frouxa
Quando menos se espera, ela desaba
O que tiver no meio ela esmaga
E diminui?
Digamos que sim.
Então o homem vira menino?
Também não é assim...
E como é?
Tá bom. É (a avó embarca na viagem. Lembra que consertou a porta. Acidentes assim não mais ocorrerão).
Então eu já sei o que desfará o estrago da porta.
E o que é?
É a fada da chave
E o que é isso?
Eu li no livro. A fada não cresce, por isso ela conseguiu a chave do tamanho
E daí?
E daí que ela muda o tamanho de tudo, só não de si
Tadinha da fada...
Mas ela até gosta, vovó.
Pequenina, ninguém vê-la a trabalhar
Todas as astúcias dela pairam no ar
Se você tentar ver, achará que é um mosquito
Melhor nem tentar fazer isto
Quando a gente pede, ela pode aparecer
Mas só à noite, quando ninguém vê
E você vai pedir por mim?
É claro que não, vovó. Pedirei pelo seu dedão.
Eu pedirei à noite, e de manhã tudo estará resolvido.
O dedinho voltará a dedão. Amanhã você verá.
Que bom que assim será! (a avó esconde o medo na exclamação. Arrependeu-se da concessão ao sonho da neta, mas não quer destruir o simbolismo da leitura)
E qual é o livro desta fada?
La petit Fée  (Julinha caprichou no francês, que está aprendendo).
Ótimo, querida. E você entendeu tudinho?
Sim, vovó. O que eu ainda não sei ler em francês, li nos desenhos.
Ahh... Também quero ver o livro.
(Olhada vai, olhada vem...)
Julinha, você não observou este detalhe importantíssimo?
Qual detalhe? (A menina espichou os olhos)
La petit Fée entrou de férias!
(a menina coçou a cabeça, em sinal de confusão)
Veja, querida: ela aparece de malas feitas aqui, pronta para viajar...
Mas ela não estava indo visitar a tia?
Não. Ela está viajando para Teotihuacam! Cidade antiga do México. Foi escolhida patrimônio cultural da humanidade, por ser tão importante.
E Por que ela é importante?
Ela já foi uma grande cidade, ou melhor, uma metrópole cosmopolita.
O que isso quer dizer, vovó?
Antes de os europeus descobrirem a América, ela era uma das maiores cidades do mundo. As pessoas nem imaginavam que existia Teotihuacan, pois suas ruínas estavam em baixo das montanhas.
E como eles descobriram esta cidade?
Através de escavações, assim como todas as civilizações antigas.
E eles conseguem cavar tão fundo assim?
Sim, julhinha. Foi no seu subsolo que descobriram-se ruínas dos astecas, uma civilização muito antiga.
E por que La petit Fée viajou para lá?
Provavelmente para aprimorar o trabalho dela (arrematou a avó).
De que maneira?
Teotihuacan é uma cidade de grandes monumentos. Lá há a Pirâmide da Lua, que tem a altura de um prédio de quatorze andares.
Nossa, deve ser a maior pirâmide do mundo!
Não, lá mesmo há a Pirâmide do Sol, que mede sessenta e um metros, a altura de um prédio de vinte e um andares.
E por que lá é o lugar certo para a fada da chave “aprimorar” seu trabalho?
Por que diante de prédios tão altos, ela poderá testar sua chave em objetos maiores, entendeu?
Sim, agora sim.
Não se preocupe, querida, dentre poucas semanas eu lembrarei a você do retorno das férias dela.
(passadas quatro semanas e dado o retorno avisado da fada...)
Aahhhhhh! - Julinha, acordou só bocejos.
Bom dia, querida.
Bom dia vovó. Ao olhar em volta, Julinha encantou-se ao ver Vovó Ednar entrar no quarto com seu dedão inteiro novamente.
Vovó, funcionou! A fada da chave transformou o dedinho em dedão novamente!
Sim, querida, agradeça a ela por mim.
E sua bota branca?
Ela deve ter carregado com ela, mas como você aconselhou-me a não tentar ver...
Risos.

(Denise Araújo).

*Presente enviado pela minha amiga Denise. Denise, carinhosamente agradeço o seu presente.