quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Outras flores


*Café fresco, pão com bastante manteiga. Vou ruminando os pensamentos, sem palavras dizer.*

Despertar cedo, abrir as portas e ver que a vida recomeça sem pedir licença. São gestos quase mecânicos: abrir o armário, buscar um velho e bem surrado short jeans, curto, bem curto e já, como eu, com sinais dos tempos.

Lá vem o sol*. Como é lindo!

É maravilhoso segurar sua pequena mão e sair pelas avenidas, explicando tudo ou quase tudo que suas perguntas exigem. Ávida de vida, plena de fantasias, busca em tudo uma história, um conto novo e os seus encantos pela vida, crescem com ela em cada escalada da escada que há na esquina no caminho da escola.

É assim quase sempre, salvo quando nestas manhãs chuvosas, o inverno ainda insiste em regar as flores da nova primavera.

Despertar com um olhar que me aponta os dias vividos no contar dos minutos em que as passadas largas, entre risos, fazem os dias serem  nova história. A caminho da escola desbravamos mundos estranhos, pessoas interessantes, muitos pássaros e cães largados nas calçadas. Os bichos assim como os homens tem tantas vezes contraditórios destinos: uns nascem para causar brilho; outros para viverem apagados.

Assim vamos, atravessando as avenidas, seguimos a três, intercalando as imagens dos lugares onde a vida conta com cores um arsenal depredado, praças abandonadas, os bancos ali permanecem, como digital ou trecho de uma canção: “a mesma praça, os mesmos bancos” (Ronnie Von), mas são outras flores, no mesmo jardim.

Eu ali, naqueles maltratados bancos, quantas vezes sentei para ser avó e esperar a noite chegar; outras, sentavam-me á aquela rendada sombra de palmeira imperial, para escrever imaturos versos que a dor ou  a  alegria causou.

A cidade move-se num giro veloz, passam carros e fumaça, parece que nem as pedras permanecem no lugar.

E a moça vida vai ficando senhora dos acontecimentos. Por lá passam e passaram tantos homens com seus sonhos. Eu também ainda passo a cada nova manhã. Olhar divagando sem pressa os raios de sol e as sombras, mão na mão, pausas e sem espanto, sem medo, o tempo passou, tudo passa.

Café quente
Pão sem queijo.
Para ela, todos os beijos.

Somos  trindade
Nas doces manhãs;
Reza.

Júlia,
Danclads
Ednar.

(Ednar Andrade).

sábado, 21 de setembro de 2013

Des-com-passo*

   (Imagem por Matin Sranska).

Está tudo perfeito fora do peito.
Em cada canto um desencanto.
Em cada rima , descompasso

Passo, disfarço olhar e cisma
Desfaço; o desfeito é arte de estática.
Sem métrica, con(m) texto.

Métrico (losos) Ter (cetos),teço
Tu-do
Es-tá-ti-co.


(Ednar Andrade).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Descuidada

    (Tela de Steve Hanks).

"Quem nos dera, hein??

“Sentar à sombra de alguma árvore, molhando os pés vez por outra para se refrescar do calor, comer uma fruta caída, morder uma goiaba verdinha, ouvindo o canto dos pássaros e, assoviando, tocar descuidada, os cabelos e tecer uma trança.”

Na mão um livro, no peito um amor, daqueles que faz vibrar a carne, daqueles que faz um dia de chuva ser poesia e/ou de repente sair pela avenida tomando banho nas calçadas sem se importar com os olhares (olhares disfarçados) e sorrisos necessários, necessários como o aplauso na hora final (Rs). Tanto faz. Suponho, pois na hora final nada mais faz sentido a quem, deitado em berço de terra apenas nada é.

As pessoas vivem o hoje e descansam à sombra das saudades que com elas moram, deitam, dormem e fazem imagináveis sonhos assumirem imagens com quase vida. São tantas as saudades que o homem carrega. O calendário é tão curto. Algumas flores nascem e morrem no dia em que desabrocham.

Hoje acordei, mascando pensamentos que o festejo da neblina me trouxe. E eu sei que quem poeta, diz coisas loucas e forasteiras. Fala de sorrisos quando chora, chora quando devia rolar de rir. Eu sei que, como uma ave solitária, a poesia se esconde no olhar calado do homem incrédulo de si, posto que a cada um, tantas blasfemadas dores, roubam-lhes o tempo do sonho, o tempo de permanecer verde e guardar na boca da memória o sabor doce que há nos frutos largados pelos caminhos. Mas o homem precisa de sonhos, de saudades, de fantasias, de amores. E até, dizem, de sofrimento para assim, como o ouro, reluzir perfeito (?) Rs. Dizem.

 *PERFEIÇÃO: palavra tola e torpe. De mim roubaria o direito a tantas loucas façanhas, tantas santas mentiras, que eu suponho ser preciso até um pouco de mentira. mas só aquelas que fazem crer no que não existe, quando é preciso continuar a batida na porta da coragem.

Daí louca e ousada, que insisto ser, paro, abro mais e cada vez mais a janela e ponho-me a mirar as ruas. As pessoas trafegam agitadas, parece-me que cada uma leva um fardo e que saibam todos não é para reclamar (?). Cada um tem na cabeça um mundo bisonho, um feliz e intransitável mundo delas, só delas. Graças a Deus! E ainda bem que nesta coisa de sermos todos cada um, cada um lê o seu livro à sombra do que lhe é sombra.

E eu quero ver o mar num balanço que, num vai e vem, me faz navegar na maravilha que há no infinito azul à sombra do meu pensamento, trançando numa dança avessa ao tempo um desigual contentamento.

(Ednar Andrade). (10.09.2013).