*Café fresco, pão com bastante manteiga. Vou ruminando os
pensamentos, sem palavras dizer.*
Despertar cedo, abrir as portas e ver que a vida recomeça sem
pedir licença. São gestos quase mecânicos: abrir o armário, buscar um velho e
bem surrado short jeans, curto, bem curto e já, como eu, com sinais dos tempos.
Lá vem o sol*. Como é lindo!
É maravilhoso segurar sua pequena mão e sair pelas avenidas,
explicando tudo ou quase tudo que suas perguntas exigem. Ávida de vida, plena
de fantasias, busca em tudo uma história, um conto novo e os seus encantos pela
vida, crescem com ela em cada escalada da escada que há na esquina no caminho
da escola.
É assim quase sempre, salvo quando nestas manhãs chuvosas, o
inverno ainda insiste em regar as flores da nova primavera.
Despertar com um olhar que me aponta os dias vividos no contar
dos minutos em que as passadas largas, entre risos, fazem os dias serem nova história. A caminho da escola
desbravamos mundos estranhos, pessoas interessantes, muitos pássaros e cães
largados nas calçadas. Os bichos assim como os homens tem tantas vezes
contraditórios destinos: uns nascem para causar brilho; outros para viverem
apagados.
Assim vamos, atravessando as avenidas, seguimos a três, intercalando
as imagens dos lugares onde a vida conta com cores um arsenal depredado, praças
abandonadas, os bancos ali permanecem, como digital ou trecho de uma canção: “a
mesma praça, os mesmos bancos” (Ronnie Von), mas são outras flores, no mesmo
jardim.
Eu ali, naqueles maltratados bancos, quantas vezes sentei para ser
avó e esperar a noite chegar; outras, sentavam-me á aquela rendada sombra de
palmeira imperial, para escrever imaturos versos que a dor ou a
alegria causou.
A cidade move-se num giro veloz, passam carros e fumaça, parece
que nem as pedras permanecem no lugar.
E a moça vida vai ficando senhora dos acontecimentos. Por lá passam
e passaram tantos homens com seus sonhos. Eu também ainda passo a cada nova
manhã. Olhar divagando sem pressa os raios de sol e as sombras, mão na mão,
pausas e sem espanto, sem medo, o tempo passou, tudo passa.
Café quente
Pão sem queijo.
Para ela, todos os beijos.
Somos trindade
Nas doces manhãs;
Reza.
Júlia,
Danclads
Ednar.
(Ednar Andrade).