(Imagem de arquivo pessoal).
Na mesa, o banquete:
Um prato de chamas.
Os olhos famintos de luz
Bebem a escuridão.
É tarde e no vago da noite,
O sonho apago, queimo a ternura;
Incendeio a ilusão.
Se há brilho na prata da Lua,
Não vejo a festa pagã dos astros
Que derrama-se sobre o verde inerte.
E também, perdido
Dentro do caldeirão da noite,
Vagueiam os olhos dos bichos.
Em cintilantes cores
Os verdes olhos dos gatos
São tristes como a fagulha
Que pinta os meus.
Há uma estrada deserta e escura:
Poema feito de gemidos.
Fecho a janela dos olhos,
O sono foge e os versos são negros
Como os mistérios da noite.
O frio, vezes, chega.
Encolho-me, aqueço-me,
A madrugada aproxima-se,
Ela é desconhecida
Como um estranho;
Nada me traz de alento.
Das mãos cálidas
Transbordam gestos vazios
E a chama arde como uma louca
Inquietante dança que assisto
Com os olhos fechados.
Uma estranha calma...
O desassossego repousa
Na dança da folhagem...
(Ednar Andrade).