terça-feira, 29 de março de 2011

Vida & Movimento


Viver
E apenas
Comer o dia
Com o sabor
Que ele trouxer.
A vida é uma
Mesa farta
De fugazes
Momentos,
De invencíveis
Tentativas de ser
Feliz.
A felicidade é como
Um barco que se vê
De longe,
Mirando o horizonte...
Com eterno anseio
De alcançar a onda
Mais branda...
Assim, como o barco
Que parte e volta
Ao fim de cada dia,
Cada novo dia
Traz diferentes ondas,
Marés e marolas,
Movimento das águas...
O sabor das algas;
Na boca, o gosto do sal;
Nas mãos, as marcas da lida,
No deitar e puxar a rede,
Na esperança do pão;
No olhar, a vaga perdição
No verde.
Altas ondas...
Em cada azul, um novo tom;
Em cada fim de tarde,
A esperança marrom.
A vida é festa, é movimento;
Finita dança...

(Ednar Andrade).

Tons e cores


Você não entenderia os tons de azul e branco gelo que adornam as paredes de minha casa.

O órgão duro que cortava minha carne simbolizava a verdade de meu amor tão latente que existia entre essas paredes. Contra toda a moralidade, nenhuma patética regra maculava o santuário do amor expresso em meus atos... Em MINHA casa não havia necessidade de tanta luz, pois minha alma brilhava... Não havia necessidade de tanta água, pois seu suor supria minha sede; nossa ânsia não bastava, havia uma fome de nossa carne e comíamos um ao outro como em uma última refeição.

A esta fome do ser alheio, chamei amor e tesão... Não me envergonhava das palavras que diziam: quero comer você para te ter em mim e alimentar minha alma com a proteína de tua existência... Aquele momento era de forma egoísta somente meu... Meu canibalismo necessário, minha religião... Meu amor... Era meu de mais ninguém. Talvez tão dele e tão profundamente carnal e erótico quanto o meu, tão esplêndido e lindo quanto o meu... Talvez fosse de fato nosso; tão fácil quanto respirar era me permitir  ser capaz  do que nunca imaginei que um dia fosse capaz de ser: um em dois, mesmo que só no meu mundo e que, de tão meu, só eu pudesse vê-lo e mesmo que só para mim fosse tão incrível e real. Mesmo assim, a isso chamei amor e doença e a dor desta “crônica doença” me fez notar o quanto de fato estou vivo.

A isto que rasga e dói, dói, chamei, capacidade de amar e não entender. Nem quero, pois sei que vai além do que, para  mim, é possível.

(Andrey Jack Andrade).