quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ruínas Aladas





"Minha alma escorre como em um rio de palavras. Sou uma metáfora que ressoa como um gemido de uma Fênix em pedaços. Há uma chama que consome minha imagem, meu reflexo e meu aroma. Estou perdido, sem memória possível, desaparecido e pulsando. Não há mais sóis nem templos de ilusão. Existo como um EU, que se reconstrói entre cacos e silêncio". 

(Clarice Lispector).

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Teu Silêncio


Sim, farei...;





I


Sim, farei...; e hora a hora passa o dia...
Farei, e dia a dia passa o mês...
E eu, cheio sempre só do que faria,
Vejo que o que faria se não fez,
De mim, mesmo em inútil nostalgia.

Farei, farei... Anos os meses são
Quando são muitos-anos, toda a vida,
Tudo... E sempre a mesma sensação
Que qualquer cousa há-de ser conseguida,
E sempre quieto o pé e inerte a mão...

Farei, farei, farei... Sim, qualquer hora
Talvez me traga o esforço e a vitória,
Mas será só se mos trouxer de fora.
Quis tudo -- a paz, ilusão, a glória...
Que obscuro absurdo a minha alma chora?

II

Farei talvez um dia um poema meu,
Não qualquer cousa que, se eu a analiso,
É só a teia que se em mim teceu
De tanto alheio e anónimo improviso
Que ou a mim ou a eles esqueceu...

Um poema próprio, em que me vá o ser,
Em que eu diga o que sinto e o que sou,
Sem pensar, sem fingir e sem querer,
Como um lugar exacto, o onde estou,
E onde me possam, como sou, me ver.

Ah, mas quem pode ser o que é? Quem sabe
Ter a alma que tem? Quem é quem é?
Sombras de nós, só reflectir nos cabe.
Mas reflectir, ramos irreais, o quê?
Talvez só o vento que nos fecha e abre.

III

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre o sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

(Fernando Pessoa, in: Novas poesias inéditas, 1933).

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

Pais que viram filhos



Hoje eu vou falar com você, que tem pai ou mãe idoso. É um privilégio a gente envelhecer com os nossos pais perto da gente, né?
Mas tem um momento em que eles deixam de ser nossos pais, pra virarem nossos filhos.

É claro que nem todo idoso fica debilitado ou exige cuidados especiais.
Mas o herói da sua infância pode ser tornar frágil e indefeso.
A mulher ativa, que cuidava de você, pode virar uma dependente sua.
Ninguém está preparado pra ser a mãe ou o pai dos próprios pais.
Mas chega a hora em que é necessário.
Alguns velhos viram crianças e dão trabalho!
Eles precisam do nosso tempo. Que é um tempo muito menor do que eles dedicaram a nós, não é verdade?

Então eu torço pra que você tenha muito amor e paciência pra cuidar dos seus velhos, se eles precisarem.
Mas não porque eles esperam que você retribua.

Amor e dedicação não se cobram de volta.
Eles são a sua matriz, a sua origem.
Virar as costas nessa hora é negar a sua própria história.
Eles podem não ter sido os melhores pais do mundo...
Mas cabe a você ser o melhor filho do mundo, agora.
Se a sua vida for longa, um dia você pode virar filho do seu filho.
E quando a idade chega, é bom poder contar com alguém que cuide da gente, não por obrigação...
Mas por amor.

(Lena Gino).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

É Verão






Quantas vezes eu disse: "É verão"
A estação mais bela do ano
É quando as manhãs e as tardes são da cor do Sol
E as noites frescas...
Verão é uma estação, assim como a Primavera,
Onde os amantes sonham e vivem
Romances com cara de novela
 Onde os namorados passeiam de mãos dadas.
Aqui, na praia, acontecem as grandes paixões
Os corações, assim como os vulcões, acordam
Os velhos passeiam rebuscando, quem sabe, um tempo
Onde não tiveram tempo de serem felizes...
A minha alma assume uma cor dourada.
Fico feliz e enamorada da vida,
Do mar, das noites...
Ás vezes sinto uma saudade morna
Que não me incomoda,
Me faz rir...
Faço longas caminhadas,
Como que catarses
Assim como quem faz um reparo,
Um conserto em algo que quebrou
Ou como um escultor
Que busca lapidar a obra
Ou quem sabe achar a perfeição:
Perfeição, palavra que não existe!
Palavra que não busco.
É verão... Aqui da areia assisto
Um céu colorido de aves gigantes
São Parapentes
E tudo isso por que é verão
As noites se iluminam,
As casas silenciosas ganham vida.
Aqui vivo uma grande felicidade
E me misturo à natureza
E me embriago do perfume do mar...
A vida não tem pressa;
A festa vai começar: é verão!


(Ednar Andrade).

Ah! o amor...



Imagem por Cris Kowalsk

Quem dera o amor não fosse um sentimento e sim uma equação matemática:
Eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Mas não funciona assim.

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem.

Caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo à porta.

O amor não é chegado a fazer Contas, não obedece a razão.

O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Costuma ser despertado mais pelas flechas do cupido que por uma ficha limpa.
Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã de Caetano.

Isso são só referências.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Amar não Requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.

Ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinível.
Milhares existem aos honestos, generosos tem às pencas,

Bons motoristas e bons pais de família tá assim, ó ...

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor de sua vida é ...


Simplesmente maravilhoso!

(Autor desconhecido).

A cegueira do amor




Todos os sentimentos dos homens, reunidos num lugar da terra, tiveram uma idéia:
Vamos brincar de esconde-esconde?
A curiosidade sem poder conter-se perguntou:
Esconde-esconde?
O que é isso?
É um jogo, explicou a loucura, em que eu fecho meus olhos, conto até 100 enquanto vocês se escondem.
Quando eu terminar começo a procurá-los, e o primeiro que eu encontrar ocupa o meu lugar no jogo.

O entusiasmo dançou, a alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a dúvida e até a apatia, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos participaram.
A verdade preferiu não se esconder.
A soberba opinou que era um jogo muito tolo e a covardia preferiu não se arriscar.

Um, dois, três...
Começou a contar a loucura.
A primeira a se esconder foi a pressa...
A fé subiu ao céu e a inveja se escondeu atrás da sombra do triunfo, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
O esquecimento... Não me recordo onde se escondeu...

Quando a loucura estava lá pelo número 99, o amor ainda não havia achado lugar para se esconder...
Até que encontrou um roseiral e decidiu ocultar-se entre as rosas.

- 100! Terminou de contar a loucura. E começou a busca. A primeira a aparecer foi à pressa.
Depois escutou a fé...
Num descuido encontrou a inveja e, claro, pôde deduzir onde estava o triunfo.

A dúvida foi mais fácil ainda.
Encontrou-a sentada numa cerca sem decidir em que lado se esconder.
E assim foi encontrando a todos:
O talento, nas ervas frescas;
A angústia numa cova escura...
Apenas o amor não aparecia.

Quando a loucura estava quase desistindo encontrou um roseiral, pegou uma forquilha e começou a mover os ramos.
No mesmo instante ouviu-se um doloroso grito.
Os espinhos tinham ferido o amor nos olhos.
A loucura não sabia o que fazer para se desculpar...
Chorou, rezou, implorou e até prometeu ser seu guia.

Desde então o amor é cego e a loucura sempre o acompanha.



(Autor desconhecido).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010




Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Eu acho tão bonito isso
De ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz

É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
E eu vou sobreviver...
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Os Filhos




Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."

E ele falou:

Vossos filhos não são vossos filhos.

São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.

Vêm através de vós, mas não de vós.

E embora vivam convosco, não vos pertencem.

Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,

Porque eles têm seus próprios pensamentos.

Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;

Pois suas almas moram na mansão do amanhã,

Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.

Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,

Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.

Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.

O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força

Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.

Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:

Pois assim como ele ama a flecha que voa,

Ama também o arco que permanece estável.

(Gibran Kahlil Gibran).






























quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Mania de Explicação




Foto de Adriana Falcão. In: lesoutien.files.wordpress.com/2009/11/adriana...




Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.

Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.

Pouco menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.

Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.

Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.

Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.

Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.

Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.

Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.

Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.

Renúncia é um não que não queria ser ele.

Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.

Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.

Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.

Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.

Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.

Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.

Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.

Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.

Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.

Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.

Alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro.

Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.

Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.

Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.

Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.

Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.

Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.

Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.

Desatino é um desataque de prudência.

Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.

Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.

Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.

Emoção é um tango que ainda não foi feito.

Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.

Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.

Desejo é uma boca com sede.

Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.

Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.


(Adriana Falcão).


Texto enviado por Dan.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Recado ao meu amigo Bruxo



"As flores sempre nascerão... E o verde me anuncia que sou feliz"
(Ednar Andrade). Foto de meu arquivo.

Boa noite amigo, estou melhorando, viu?
Tenhas um bom descanso.
Acordes belo, pois a vida é linda.

As flores sempre nascerão.
E os pássaros cantarão todas as manhãs
Para que eu retorne à minha felicidade.

O Sol me desperta e da minha janela
O Verde anuncia-me que sou feliz.
Vai passar. Eu sei que vai passar.


Meu coração de poetisa é feito de encantos e desalentos.
Os encantos permanecem;
Os desalentos vão-se embora quando chega o vento.

Por isso, boa noite!

(Ednar Andrade).

Starry, Starry night (Estrelada, estrelada noite)



"Auto-Retrato com Chapéu de Feltro" de Vincent Van Gogh.


Noite estrelada
Pinte sua paleta de cinza e azul
Dê uma olhadaem um dia de verão
com os olhos que conhecem a minha alma em escuridão
Sombras nas colinas

Esboce como árvores e os narcisos
Sinta a brisa e os calafrios de inverno
Nas cores da terra de Linho enevoado

Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você Sofreu pela sua sanidade
E como você tentou libertá-los
ele não ter escutado pueden, pueden não ter sabido como
Talvez agora ouçam ...

Noite estrelada
Flores chamas flamejantes brilhando em
nuvens circundantes em um embaçamento violeta
refletidas nos olhos azul-claro de Vincent

Cores oscilantes
Campos amanhecidos de grãos de cor âmbar
enfrenta dor em deterioradas alinhadas
Tornam-se realidade pelas mãos adoráveis do artista

Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você Sofreu pela sua sanidade
E como você tentou libertá-los
ele não ter escutado pueden, pueden não ter sabido como
Talvez agora ouçam


Para aqueles que não Poderiam te amar
Mas ainda assim seu amor foi verdadeiro
E quando não havia mais esperança em Vista
Naquela Noite Brilhante
Você tirou sua vida como os amantes fazem com freqüência

Mas eu poderia te te contado, Vincent,
Esse mundo nunca foi significante para alguém
tão lindo como você

Noite estrelada
Retratos pendurados em salas vazias
Disformes cabeças em enomeadas Paredes
Olhos mundo com o que observam e esquecer Não podem
Como os estrangeiros que você conheceu
O homem calejado roupas batidas em
O espinho prateado das Rosas Sangrentas
Enterrado esmagado e quebrado, na neve virgen

Agora acho que sei o que você tentou me dizer
Como você Sofreu pela sua sanidade
Como você tentou libertá-los
Enguias ouviram não, eles continuam ouvindo não
Talvez enguias nunca ouçam ...

(Don McLean).



Texto recebido do meu amigo Precipício da Luz

Metade



E que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
E a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
E a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
E a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é a canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

(Oswaldo Montenegro).

Vai Passar


1º de janeiro de 2010. *"O verão está aí, haverá Sol quase todos os dias" (Caio Fernando Abreu).

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'" 


(Caio Fernando Abreu).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Assim sou







Nasci para ser flor, espinho ou relva;
Quem sabe cactus?
Do sertão o verde; do mato a cor.
Não sei, não sei se sou da rosa o rubro;
Da vida a cor, nasci; assim sou.
Do mar, a concha; da vida, o amor.
... O riso...
Quem sabe a dor?
Não sei, assim nasci.
A estrada longe...
O amor, o desamor.
Assim nasci, assim sou.
A flor do campo; da brisa, o orvalho
A noite; o dia.
A luz, não sei.
Assim sou.
A mata; a duna; o perto; o longe;
O silêncio; o canto;
O barco; a vela; a saudade
Ou a felicidade?
Não sei, assim sou.
O silêncio; o riso;
O Sol; o fim da tarde;
O olhar que partiu; que ficou;
A onda do mar;
O barco que surge; a felicidade;
O pescador; A areia;
O ficar; o verso e o inverso;
O que nem sei dizer se sou;
Assim... sou!

(Ednar Andrade).