domingo, 2 de fevereiro de 2014

Decreto


Podes ir,
Bata a porta,
Não olhes para trás
E se puderes sigas,
Mas não esqueça
De arrancar teu coração
Por que ele te trai,
Tão falso quanto Judas,
Beija e causa morte.
Limpa a boca, cospe
E descospe o que vomitastes,
Depois nas horas de dor
Busques no esgoto, na vala onde tiver
Escorrido o teu vômito e coma-o,
Como se fosse bálsamo,
Como se fosse vida,
Pois por teu próprio decreto
Morrestes ao decretar-me morte.


(Ednar Andrade).

Nirvana


Piso descalça
Nas feridas
Para não machucá-las,
Pus band-aid nos extremos,
Anestesia no calendário.
Então, como quem nirvana,
Passeio sobre as chagas,
Sem deixá-las doer
E dos gemidos fiz um mantra
Que me encanta cantar
Ao desencanto disse: até;
À felicidade: quem sabe?;
À dor: nunca mais.
Não tenho tempo para ser chaga
E, como quem amanhece,
Apenas o Sol é luz.


(Ednar Andrade).