segunda-feira, 31 de maio de 2010

Com saudade do São João

 


“Maio, eu queria junho” E se junho desse milho desse milho
Eu comeria pra valer,
Mas como ainda é maio,
“Junho bastava ver”,
Mesmo que fosse um pouquinho,
De milho só um grãozinho...
Mas, mesmo assim, é junho (era)
“Junho... Maio, sabe por quê?”
Hoje eu sei, é mais maio, mas...
Eu flutuo, explodo, sou fogueira,
Queimo, estou ardendo...,
Adivinhações, fazendo,
Tá tudo no clima de junho,
Porque junho? Por quê?
Maio é mês de mãe, de noiva,
De flores, de amor...
Junho? Tem balão, fogo, fogueira,
Queira maio, ou não,
Hoje para mim é junho,
Até que termine maio


(Ednar Andrade).

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Cara do Dia




Acordei, e como quem faz um texto; abri minha janela.
Rsrs... E lá estava ele; o Sol, lindo para mim, sorrindo...
Ai! Meu Deus!
Que alegria! Que contemplação!
Tão lindo!!! Iluminando a vida, iluminando o céu...
Me dand0 a certeza de viver para esperar... E crer, no amor.
Para respirar a poesia que há... Nesta manhã;
Intenso e quente como o fogo;
Vermelho como a paixão que há no amanhecer dos apaixonados;
Mágico como o coração dos encantados;
E tão secreto como o coração dos poetas que vivem um amor pagão.
Uma sede, um afã, um desejo, um beijo,
O Sol que é tudo: vida ou morte.
A vida vista da janela.
Meu dia claro, minha paz,
Mesmo sem razão, minha fé,
Meu raio de Sol,
Minha janela de onde vejo a vida.
(Aqui, deste cantinho, assisto)
Da saudade, a fresta.
Aqui do meu canto assisto este espetáculo que o Sol me desperta.
Respiro...
Fico feliz, pura emoção;
Este aconchego entre nós e a natureza.
Minha dúvida não tem certeza;
Meu sentimento, razão.
Já que para ser feliz não preciso dela... Rsrs
Razão, razão para que?
Eu quero é viver, amar.
Amar da forma que sei...
Ser feliz e gozar da felicidade de pertencer à poesia
E ela a mim pertencer.
Se sou louca ou desvairada não sei, não quero saber.
A vida e o tempo já não cobram de mim nada que não tenha dado, sentido ou doado.
O amor, este me rega as veias de uma forma sem tamanho.
Busco sempre encontrar o calor da minha verdade
E ela é tão ardente que me inspiro no Sol
E a comparo com a minha vida;
Meu maior deleite nas manhãs:
Abrir a janela e deixá-lo entrar;
Entrar e aquecer.
É como um soluço incontido,
Sai da memória manhãs tão lindas...
Olhando por sobre as janelas,
Vejo as montanhas altas de verdes,
Paraíso que é chamado, por ser assim, de Sol.
Me encanto, me encanta e canto
Em notas que desconheço
Esta música matinal,
Que me dá de presente tanta melodia e prazer.
Sou amante do Sol, sou a própria Lua
Que neste alvorecer fica nua
E vestida de tanto sentimento...
Viagem de emoção;
Minha respiração muda
E meu coração se contrai com mais força e compreensão
E penso numa canção do Roberto, onde ele canta: “Além do horizonte”.
Sorrio, faço um tour, vou até o meu paraíso,
Onde a passarada com alegria certamente desperta e canta.
O Sol, sempre tão belo,
Meu mensageiro do amor...
Minha, quase sempre, inspiração;
Eterna e doce visão.
Talvez, por isto, eu goste tanto das janelas...
Pois são elas a moldura das manhãs...
Aurora boreal, temporal ou arco-íris.
Mas eu, daqui, assisto ao Sol que me deixa tão excitada e sonhadora...
Do Sol, amante;
De calor, plena.
Olho em volta, tomo meu café feliz.
Nesta manhã em que meus olhos despertam, assisto tão belo cenário.
Obra de Deus;
Fruto da vida;
Excelência da natureza.
Vivo em meu ser, és magnífico, és o rei da manhã,
A fotografia real do Universo; da minha visão, meu pomar de luz,
Transbordante de raios que cintilam dentro e fora do meu peito;
Festa do meu olhar; oração que digo em silêncio;
Minha paisagem divina; meu Sol.
A cara da manhã.

(Ednar Andrade).

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Editando no teu Corpo


Foto encontrada na web.

Deslizo poemas do meu idioma
No editor da tua pele
Rimas ardentes, quentes, estrofes rimadas
Harmonizando o “sol” em sua nota "la, sem dó" em versos da nossa música
Falo a língua do teu corpo com minhas mãos reproduzindo os teus gestos
Dormências dos dedos na grafia sonora
Respeitando teu ritmo e tempo no teclado musical
Poemas sem recatos escritos com as lavas do teu vulcão, em constante erupção
Rimas com o magma expelido em sons ungidos das tuas chamas
Poemas que cortam com seu fio de navalha teu decote e contornos
A figura de linguagem é a nossa do desejo
Grito a nossa língua em ardentes beijos


(El Brujo).

terça-feira, 25 de maio de 2010

Fins de tarde



... E à tardinha... Eles voltavam. Passavam em minha porta, chapéus rasgados, pés descalços, cigarro de palha... Um a um, olhavam para o meu sisudo pai que ali estava sentado em todos os finais de tarde, como quem fazia uma oração, postado à porta. Uma velha cadeira, como que saudando à tarde. Lembro-me do muro da minha casa, pintado em amarelo... Janelões protegidos por grades de ferro... De frente para o pôr-do-sol. Rua de areia, não havia asfalto e lá eles vinham... Eram os pescadores, que voltavam para o lar... Passavam um a um, nos cumprimentavam, com uma reverência incomum: - boa tarde, senhor! – boa tarde, sô – meu pai respondia.
 
Era um ritual que antecedia a Ave Maria de Gounod. Eu recostada no muro, achava maravilhoso aquele calor, para ver a tarde cair. Lá da cozinha, um perfume exalava... Batatas-doce, uma boa carne assada na brasa; um banquete nos esperava... Tia Zefinha, uma boa senhora que nos criou, companheira das lutas domésticas, fazia o café. Aquilo era como um incenso que sinalizava a noite... Meu pai, homem forte... Musculoso, bonito, cabelos lisos, bem-humorado – herdei dele o riso... Homem sério, homem calado. Parece que tinha o saber, para mim ele era o livro – havia nele um mistério, eu não conseguia ler. Mas era lindo o anoitecer. Ás vezes, ouvíamos um som, era o sinal, um aviso de que o navio aportado anunciava a partida. E ele me dizia sábio: “o navio está indo embora”. Relatos da minha vida, partes da minha história.
 
Este homem mudo e tão calado e falava dos astros, das estrelas, das estrelas cadentes e eu ficava contente; de tudo que ele dizia, era eu crente. Momento que não esqueço e quando assim, de repente, ouvia no rádio a canção mais bela, que até hoje escuto: “Ave... Maria... Maria, Maria...” Então minha mãe chegava à porta e anunciava o jantar. Ali começava uma ceia, meu pai, minha mãe, meus irmãos... Era uma comunhão que o tempo não vai apagar.



(Ednar Andrade)*****

domingo, 23 de maio de 2010

Na tua Geografia quero fazer Mestrado - Loucuras Geográficas

Imagem pesquisada na web.

Por Ednar Andrade

I – TESES DE MESTRADO EM VOCÊ

TUA GEOGRAFIA BIOLÓGICA I

Conceito, observação, olhos nos olhos, da tua geografia biológica, curvas, acidentes, temperaturas altas e baixas e a relação com outras ciências de intercurso, paciência ao interar-me dos organismos do meio. O aparecimento e evolução dos seres vivo, seus montes e picos em total elevação.

TUA GEOGRAFIA BIOLÓGICA II

Estudo zonal das paisagens biogeográficas nos teus vales. Os grandes biomas savanais, teus campos e desertos, períodos climáticos para tua colheita e estiagem. Estudo de toda tua vegetação, cerrado, savanas, selvas e zonas rurais. Descobrimento das melhores zonas... Irrigação das cavidades internas.

TUA GEOGRAFIA FÍSICA BÁSICA

Introdução, Sol na Lua, Terra no Universo. Orientação geográfica na tua rosa dos ventos. Novamente tempo atmosférico e clima. Estrutura da tua dinâmica das formas de relevo. Hidrografia, dos teus fluidos. Teus solos e tua flora tropical.

TUA GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA

Teus recursos naturais e seu aproveitamento completo. O aproveitamento econômico, economizando no teu-espaço, e gastando energia no seu interior. Caracterização e exploração das tuas grandes regiões sul e centro-oeste principalmente.

INTRODUÇÃO ORAL A TUA GEOMORFOLOGIA

Exploração da tua natureza, teus elementos e fatores geomorfológicos. O controle estrutural, tectônico e tátil-no-teu-cônico nas geoformastologias do teu prazer. A tua influência climática no controle litológico dos meus beijos. Processos dominantes nas vertentes dos teus lábios verticais. Beijos em processamentos nas tuas formas fluviais, troca de fluidos salivares, com suores e outros líquidos. Pesquisa dos teus rios e afluentes, bem como das correntes.

SISTEMAS DE INFORMAÇÃO DA TUA GEOGRAFIA

Informações especiais avaliadas no tato, mapas e sistemas de informação geográfica dos teus conceitos em nossas relações. Funções vitais, no vital momento, pra isso uma breve leitura da previsão do teu tempo. Coleta dos teus dados, feita visualmente ou através do estudo e contato do falo, geocodificação e tratamento do que tem dado, como e quando, e das contrações da superfície e das cavidades profundas. Gerenciamento de tuas informações geográficas e estruturas de suporte, suportando e se entregando do jeito que gosta (O quanto suporta e como suporta). Sistemas: aplicações e introduções lentas e rápidas na sua profunda cratera interior.

GEOGRAFIA DA NOSSA CO-PULAÇÃO

Bases teóricas, PRÁTICAS e conceituais da geografia da Co-pulação. Métodos e técnicas em práticas táteis, orais-corporais. Dinâmica de toda tua geografia em ritmos de entrega. Estrutura e crescimento dos relevos na excitação. Políticas de pulsos e impulsos e processo de procedimentos invasivos com instrumentos nas tuas cavidades, para colher teus dados científicos e obter o máximo de informações dos teus recursos naturais.

TEORIA NAS REGIONALIDADES DO TEU CORPO

Fundamentos epistemológicos regionais das tuas curvas e relevos. Métodos osculares em todas as regiões. Critérios clitórioso das sensações durante o tráfego palatal, conforme seus prazeres. Ocupando teus espaços linguisticamente.

(El Brujo).

Liberdade


A liberdade conduzindo o povo, quadro de Delacroix

Por Ednar Andrade

E ele estava ali! Cabisbaixo, olhos cravados no chão, mãos para trás: a representação visual da infelicidade e da vergonha. Seu advogado tinha falado em transação penal (um tal de prestação de serviços à comunidade, frase que de tão comprida e pomposa, terminou decorando) que o livraria da prisão. Mas ele continuava ali, sendo julgado por seu ato impensado, uma "tolice" (pensara antes de fazer), mas agora via a gravidade do mesmo. É certo que não foi um delito dos mais complexos ou comprometedores, mas ele, que nunca tinha experimentado uma situação assim, perdera bens mais preciosos que qualquer riqueza material: paz, liberdade, tranqüilidade, dignidade.

Absorto em seus pensamentos, lembrava-se do que seu pai dizia: "Com responsabilidade, você tem a liberdade para fazer tudo que quiser e puder". Então, ele começou a ouvir, ao longe, uma voz falar-lhe: era o juiz que estava a fazer uma síntese dos fatos para, depois, dizer-lhe dos benefícios da tal "transação penal" e só então indagar-lhe: "O senhor concorda?" Sua resposta durou o tempo que os neurônios levam entre o despertar para o fato de estar sendo perguntado e a pronúncia das palavras; respondendo (após este intervalo para o cérebro processar as ideias): "Sim". Um monossílabo que ainda não o demovia da angústia interior de ter errado; sentimento próprio dos homens honestos.

Pronto, agora assinara um acordo na Justiça e iria mensalmente trabalhar como carpinteiro - ofício que bem desenpenhava - em uma instituição de caridade, como punição por seu erro.

Para com a sociedade ele iria se redimir; mas de sua consciência, quem o absolveria? Que advogado seria tão brilhante a ponto de livrá-lo de seu próprio julgamento? Sabia que aquela assinatura não o eximiria da condenação de sua consciência ou, pelo menos, que um bom tempo seria necessário para o seu tribunal íntimo conceder-lhe o benefício de uma liberdade condicional: a aceitação de que, com o erro, crescemos.

(Danclads Lins de Andrade).  

sábado, 22 de maio de 2010

Caminhos e descaminhos



Para chegar aonde cheguei é preciso caminhar, pisar descalça no chão até ferir o pé (...), furar a sola com espinhos, fazer bolhas, criar calos; nunca calar; calar, não calo! Cantar chorando, dizer versos ao inverso, ser repentista de repente, ter um olhar no infinito e ir além... (Do horizonte). Rasgar a mata com dor, ouvir o lamento dos galhos que a foice corta sem dó. Ter no peito, em vez de rosário, um trançado de "nós". É preciso, além de tudo, viver a vida urgente, antes que o tempo chegue, a boca cale e os olhos silenciem a prece. Para chegar onde cheguei, minha tristeza deixei esquecida nalgum lugar. Segui trilhas solitárias, sem medo, esta navalha acariciei. Fiz de tudo, ainda faço, para viver neste regaço, onde a dor é o rouxinol e o labirinto trançado. Para pisar o que pisei, nem precisa ter chão, porque borboleta voa... Para pisar onde quis ir, fui até onde não pude. Ficar é que não fiquei.

Para chegar onde cheguei, subi montes, desci serras; fui ao pó, estive no inferno; comi o pão que o diabo não tocou, fiz da dor minha alegria; semeei neste deserto as sementes do querer, reguei com lágrimas todas para vê-las florescer. Os meus dias foram noites, noites sem boemia, sem encanto, luar sem poesia, carnaval sem fantasia. Para chegar aonde estou, morri e nasci para o amor e que ninguém me pergunte o que é ser como sou.

(Ednar Andrade).       

quarta-feira, 19 de maio de 2010

(O jiló da vida)



...E já disse o “velho e sempre novo” Chico Buarque: “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.”

É o jiló da vida que, por vezes, te faz vomitar as entranhas, revirar o estômago com nojo. Abrimos os olhos para ver a boca do dia, e ver “tudo”, parece inevitável, tudo azeda, tudo amarga, pois o dia-a-dia é um manjar cheio de surpresa, está sempre entre o doce e o fel, entre o amargo ao acre, entra pelos olhos, passando pela boca e sem pedir licença vai até a garganta em direção ao nosso coração que nada tem de intimidade com esta pimenta... Neste dia tudo parece ter um único sabor; salada de perguntas, questionamentos tantos, que o café que poderia ser doce e suave recebe um açúcar com porção de areia, que te faz travar até os dentes... Uma refeição feita de sabores escondidos que sabemos ter no armário, mas, sem jamais querer provar, fingimos não saber, ficam ali as doces frutas. Parece que tem olhos e tu as olhas, como se te traíssem ou omitissem, nada dizem, o seu doce aroma perde-se no jiló desta hora em que num segundo tudo é vomitado, e se abres a janela para respirar o dia, não está com cara de feliz, até o Sol, conspira contra ti... É quando percebes que o banquete está amargo, alguém errou na dose deste café desencantado, sais da mesa, atravessas até a sala; uma olhadela no jornal... Tentativa de leitura, nada diz-nos nada, quem sabe cala quem omite faz cara de bom, e nenhuma borboleta, nesta manhã sem graça vem te visitar, concentro-me no que tento em vão ler. Quem sabe hoje pelo menos lerei algo de novo, quem dera algo bom aconteça em outro lugar, a mesma bobagem, o mesmo governo, as mesmas intenções, tudo continua podre... Muita mentira, pouca ou nenhuma verdade, rs. VERDADE que palavra é esta que já não existe... Que virou sorvete, Maria mole, doce de coco - coco com acento no ultimo “o”-, que, de delicia, nada tem-, tudo enlatado, tudo mofado, química mal elaborada, contagiante, contagiada, de maldades recheada, segue esta mentira, que agora aliviada por “Dunga”, conversa do momento, a anestesia com longa duração, o bálsamo das próximas horas diante da tela (nada contra a copa), digo pois que ela talvez seja o ”refresco” que todos beberão para esquecer ou mudar o sabor deste jiló. A copa vira pão na mesa dos que não comem, melhora o capital e as capitais, continuam no caos e eles dizem que no âmbito geral desta mentira tudo melhora toda esta euforia vira motivo para aumentar o alcoolismo, crianças nascerão e terão nomes famosos (nomes de jogadores). Nos dias de jogo, macarronadas maravilhosas, regadas por “vinhos que alguns não beberão”.
E a vida vai assim, pintada com cores transparentes, hoje parece que “entender e ler a vida” é beneficio dos cegos, pelo fato de fazerem leitura em braile, só eles sentem no tato a leitura, só eles tocam as palavras com tamanha sensibilidade e prazer... Só eles podem acreditar no verde destas matas (extintas) já sem tintas verdes que as pintem com emoção (...).(Brasil!!!!!)...
...Fecho o jornal, encaro a porta, lá fora quem sabe ávida esteja a vida colorida. O amargo fique doce, mas antes volto à mesa tomo um café sem açúcar, por que hoje fiquei “P” e sei com descontentamento que nem eu nem tu, nem ninguém pode adoçar o jiló ou deste sapato apertar o nó, é como querer Sol em dia de CHUVA; é não ter pé e querer usar sapato, ou como diz a velha e batida frase é “correr atrás do vento” e o cordão dos condenados cada vez aumenta mais...


(Ednar Andrade).

segunda-feira, 17 de maio de 2010

(O velho amigo) Como um velho casaco jeans assim vivia...

 

Já conformado, marcado pelo tempo, esquecido de si mesmo, ali morava ele dentro da caixa, sem a memória real do seu valor. Ali ouvia histórias da vida, lembrava momentos, carregava no seu cheiro de guardado segredos e confissões, não havia nele novidades para contar; a vida o fez assim jogado, esquecido de sonhar... Foi já tão amado, tanto amou, tanto viveu... Agora seu universo era apenas um armário, portas que se abriam, pessoas que nem o olhavam, por ele passavam sem lhe tocar... Seria ingratidão assim pensar que foi esquecido? Ou, o seu valor mudara? e agora tantas outras coisas aconteciam... O que o fazia ali está esquecido, descartado? Foi companheiro de sonhos, deu tanta festa, doou muita euforia, via-se esquecido agora, dizia-se amarrotado, sem graça, um leve desbotar já anunciava que tudo era menos sem cor. Quem sabe no vai-e-vem das horas alguém poderia dele lembrar... Pura ilusão; descontentamento, e então... Lamentos, recordação, muita saudade. Saudade da felicidade de crer no sonho, de ir em busca do novo acontecimento, e assim olhar na cara da covardia, sair do seu lugar seguro, colocar-se à prova do desconhecido... É preciso recomeçar, pensava. Com muito medo quase morria no armário, na dor, todo perdido; vivia sem respirar... Até, que numa bela manhã, levado pelo descuido do seu destino, viu a fresta que o levaria para a sua liberdade, num gesto brusco e magoado sai da caixa; olhou em volta de si, há vida.

La fora, tudo é diferente... Mas nada é tão mudado que eu não possa retomar a minha já “suposta” (perdida felicidade). Fora do armário o dia tem outro cheiro, o Sol brilha e dá sentido à minha respiração, pulsa, remete, alerta-me a alma fraca quase doente... Olhos atentos, nas mãos os sonhos, uma vontade imensa de sorrir, alguém, por favor, conte-lhe uma boa piada, faça-o voltar a sorrir, pois é urgente ter vida, perder esta poeira que o tempo deu-lhe como uma camada protetora e falsa. Esteve tanto tempo renegado, renegando-se, perdendo-se da magnífica palavra: “LIBERDADE”, liberdade sim! De ver-se vivo, de ir ou ficar, e apenas por querer ser o que é, sem dar explicação, com a cabeça sobre os ombros, sair do esconderijo, as ervas daninhas dos seus caminhos já tão batidos do seu tempo... Um tempo que jogou fora com tamanha ignorância da tal felicidade (felicidade? Que palavra é esta que já não me é pão?) Pensava , chorava, gemia na sua nova busca de viver. Nascera agora, passava pelo fogo da desilusão, para chegar ao frescor da aceitação do real (Realidade), palavra que a alguns assusta, pois ela trás consigo a pura flor, o direito de ser como ela se apresenta, sem pedir licença instala-se na vida , que por vezes lutamos em rejeitar.

Assim, e vestido de uma tentativa de reviver, saiu, abriu a porta, pegou o seu antigo jeans, deu-lhe umas batidas de saudação, pediu-lhe desculpas pelo abandono, sorriu para o velho amigo, e disse-lhe com um sorriso novo: “agora virás mais uma vez comigo, já não estaremos sós, direi e ouvirás, calarei e entenderás, pois nesta vida quem não precisa ter fora do armário um velho casaco jeans?” Limpou-lhe os cantos, arrumou, cheirou, vestiu e saiu buscando os novos caminhos. Descobriu portas, janelas, e reviu tantos rumos... Foi correr de encontro a tudo que deixou no desencontro, jogou sobre os cansados ombros o velho companheiro e partiu, agora consciente da inércia em que vivera, olha-se no espelho, põe na mochila a coragem e segue com a força e a certeza de que é preciso trilhar esta estrada: VIDA, sem olhar para trás, sentir-se bem-aventurado e seguir na direção do horizonte que o espera.

(Ednar Andrade).