quarta-feira, 20 de abril de 2011

Medo


Ainda me lembro dos dias em que, quando criança, me assustava com a ideia da morte, com a escuridão que meus olhos não conseguiam transpor. Gelavam-me os ossos e o sangue ao imaginar o que poderia surgir daquela escuridão, do monstro que poderia sair de lá e vir em busca de mim.

O medo era meu melhor e único companheiro de todos os dias, quem me cortava a carne e quem também a servia aos convidados do banquete. Todos os dias a carne branca estava à mesa, servida aos abutres que vinham atraídos pelo odor do medo, da podridão que me embriagava as entranhas desde cedo. A imagem serena e clara da carcaça escondia a ausência de qualquer tipo de pureza e beleza interior, mas o espelho me apresentara a face lânguida do meu maior inimigo e com quem eu travaria a mais longa e tórrida guerra.

(Max Araújo).

Singulares dias...


Ao fim da tarde,
O toque do sino,
Anunciando o dia
Que termina,
Alertando a noite
Que começa.
A vida
Parecia grande festa.
Amanhecer...
E o Sol,
Único despertador,
Na fresta, anunciando
Que o dia começa.
O jornaleiro passando
Na porta, anunciando
A notícia que mais importa.
Ímpares manhãs;
Singulares dias,
Onde a dor
Fazia a diferença
Da festa;
Hoje; recordações vagas
Que, de vez em quando,
Me trazem os sinos.

(Ednar Andrade).