quarta-feira, 20 de abril de 2011

Medo


Ainda me lembro dos dias em que, quando criança, me assustava com a ideia da morte, com a escuridão que meus olhos não conseguiam transpor. Gelavam-me os ossos e o sangue ao imaginar o que poderia surgir daquela escuridão, do monstro que poderia sair de lá e vir em busca de mim.

O medo era meu melhor e único companheiro de todos os dias, quem me cortava a carne e quem também a servia aos convidados do banquete. Todos os dias a carne branca estava à mesa, servida aos abutres que vinham atraídos pelo odor do medo, da podridão que me embriagava as entranhas desde cedo. A imagem serena e clara da carcaça escondia a ausência de qualquer tipo de pureza e beleza interior, mas o espelho me apresentara a face lânguida do meu maior inimigo e com quem eu travaria a mais longa e tórrida guerra.

(Max Araújo).

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