terça-feira, 10 de setembro de 2013

Descuidada

    (Tela de Steve Hanks).

"Quem nos dera, hein??

“Sentar à sombra de alguma árvore, molhando os pés vez por outra para se refrescar do calor, comer uma fruta caída, morder uma goiaba verdinha, ouvindo o canto dos pássaros e, assoviando, tocar descuidada, os cabelos e tecer uma trança.”

Na mão um livro, no peito um amor, daqueles que faz vibrar a carne, daqueles que faz um dia de chuva ser poesia e/ou de repente sair pela avenida tomando banho nas calçadas sem se importar com os olhares (olhares disfarçados) e sorrisos necessários, necessários como o aplauso na hora final (Rs). Tanto faz. Suponho, pois na hora final nada mais faz sentido a quem, deitado em berço de terra apenas nada é.

As pessoas vivem o hoje e descansam à sombra das saudades que com elas moram, deitam, dormem e fazem imagináveis sonhos assumirem imagens com quase vida. São tantas as saudades que o homem carrega. O calendário é tão curto. Algumas flores nascem e morrem no dia em que desabrocham.

Hoje acordei, mascando pensamentos que o festejo da neblina me trouxe. E eu sei que quem poeta, diz coisas loucas e forasteiras. Fala de sorrisos quando chora, chora quando devia rolar de rir. Eu sei que, como uma ave solitária, a poesia se esconde no olhar calado do homem incrédulo de si, posto que a cada um, tantas blasfemadas dores, roubam-lhes o tempo do sonho, o tempo de permanecer verde e guardar na boca da memória o sabor doce que há nos frutos largados pelos caminhos. Mas o homem precisa de sonhos, de saudades, de fantasias, de amores. E até, dizem, de sofrimento para assim, como o ouro, reluzir perfeito (?) Rs. Dizem.

 *PERFEIÇÃO: palavra tola e torpe. De mim roubaria o direito a tantas loucas façanhas, tantas santas mentiras, que eu suponho ser preciso até um pouco de mentira. mas só aquelas que fazem crer no que não existe, quando é preciso continuar a batida na porta da coragem.

Daí louca e ousada, que insisto ser, paro, abro mais e cada vez mais a janela e ponho-me a mirar as ruas. As pessoas trafegam agitadas, parece-me que cada uma leva um fardo e que saibam todos não é para reclamar (?). Cada um tem na cabeça um mundo bisonho, um feliz e intransitável mundo delas, só delas. Graças a Deus! E ainda bem que nesta coisa de sermos todos cada um, cada um lê o seu livro à sombra do que lhe é sombra.

E eu quero ver o mar num balanço que, num vai e vem, me faz navegar na maravilha que há no infinito azul à sombra do meu pensamento, trançando numa dança avessa ao tempo um desigual contentamento.

(Ednar Andrade). (10.09.2013).