segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um grande dia


Um grande dia, um dia lindo, não para todos, na verdade; para quem é avó, para quem é mãe, para quem já viveu muito.

Hoje é um dia muito especial, não para todos, mas para aquela pessoa que criou quase toda nossa família: pai, mãe, tios, às vezes primos, mas é assim, assim é o grande dia.

Feliz Dia da Avó.

Homenagem a vovó Ednar.

(Ana Júlia). 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Coisas da vida


"Já escondi um amor com medo de perdê-lo,
Já perdi um amor por escondê-lo,
Já segurei nas mãos de alguém por estar com medo,
Já tive tanto medo ao ponto de não sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava da minha vida,
Já me arrependi por isso....
Já passei noites chorando até pegar no sono,
Já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos...
Já acreditei em amores perfeitos,
Já descobri que eles não existem....
Já amei pessoas que me decepcionaram,
Já decepcionei pessoas que me amavam...
Já passei horas na frente do espelho, 
Tentando descobrir quem sou,
Já tive certeza de mim,
ao ponto de querer sumir...
Já menti e me arrependi...
Já falei a verdade e também me arrependi....
Já fingi não dar importância as pessoas que amava,
Para mais tarde chorar quieta em meu canto....
Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
Já chorei de tanto rir...
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
Já deixei de acreditar nas que realmente valiam....
Já tive crises de risos quando não podia...
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns,
Outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para desagradar outros...
Já senti muita falta de alguém,
Mas nunca lhe disse.
Já gritei quando devia calar.
Já calei quando devia gritar...
Já contei piadas e mais piadas sem graça,
Apenas para ver um amigo feliz...
Já inventei histórias de final feliz, para dar esperança a quem precisava....
Já sonhei demais,
Ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro,
Hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali"....
Já caí inúmeras vezes,
Achando que não iria me reerguer,
Já me reergui inúmeras vezes, achando que não cairia mais...
Já liguei para quem não queria,
Apenas para não ligar para quem realmente queria....
Já corri atrás de um carro,
Por ele levar alguém que eu amava embora.
Já chamei pela mãe no meio da noite,
Fugindo de um pesadelo, mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda....
Já chamei pessoas próximas de "amigo", e descobri que não eram,
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada,
E sempre foram e serão especiais para mim....
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!...
Não me façam ser o que não sou,
Não me convidem a ser igual,
Porque sinceramente sou diferente!....
Não sei amar pela metade,
Não sei viver de mentiras.
Não sei voar com os pés no chão....
Sou sempre eu mesma,
Mas com certeza não serei a mesma para sempre....
Com o tempo aprendi que o que importa não é o que você tem na vida, mas
QUEM você tem na vida....
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Gosto de cada um de vocês de um jeito especial e único.....

(Clarice Lispector).

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Teu nome é Pedro


Um pedaço de pão,
(Teu alicerce  de vento)                           
Uma bebida forte,
Um gosto amargo
Na garganta e a total
AUSÊNCIA DE FOME
Sussurro... "Silêncios..."
Um gemido, um grito sufocado pelo abismo.
Uma pedra no peito,
Uma ânsia inútil... Buscando na ilusão
O que resta de um afago,
A descrença  da mão.
"A solidez da solidão..."
As chamas, as cinzas...
Que o vento arrasta para além do real...
Lâmina  afiada, coração desfeito,
Sem jeito, partido, morto,
Jogado no chão.
QUE O MEU CALAR TE SEJA PAZ...
Que minha tristeza te seja PRECE...
Que minhas lágrimas sejam teu veneno,
Que delas te alimentes e maldigas tua falsidade...
Eu: olhando-te
Maldigo o sentimento que mais amei...
Quero cuspir ou vomitar... As tuas pedras,
Escarrar sobre o amor que um dia senti por ti,
Quero estrangular as tuas juras de amor,
Depois te ver lentamente em mim morrer
Sepultar-te e ser sepultada também em ti.
E na lápide  escreverei apenas:
JAZ...
Quero arrancar da pele os arrepios  que senti um dia,
Virar do avesso as areias do querer,
Para plantar e cultivar esquecimento.
E... Assim como ser livre... Bater as asas...
Como anjo... Sem remorsos...
Apagar como numa lousa o giz...
E ''desescrever'... O que escrevi.
Desbotar as cores daquela primavera,
Desmascarar o teu rosto, rasgando tua máscara!
(Pintar-te de palhaço.)
APALUDIR TUA CANALHICE.
Rasgar com minhas mãos o teu peito,
Só... Para... Sentir se o teu coração bate,
Se és gente, se és carne... Ou apenas cinismo...
Morder e mutilar teus dedos,
Para não mais escreveres mentiras.
E chamá-las, dúvidas... (...)...
Um instinto animal de mim se adona...
Estou ferida, quase morta;
Ai... Comigo carrego uma certeza:
Teu nome é "Pedro"
"Negas"... Mas não me trais,
A ti traístes...
Por isso te condenas,
UMA BEBIDA FORTE, UM PEDAÇO DE PÃO...


(Ednar Andrade).

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A vida é movimento...


Olhando o espelho, tentei contar as rugas, tentei achar nelas rusgas...

Tentei achar as digitais  dos risos, dos meus desabrigos, questionei, invadi os sonhos já desfeitos, olhei os meus defeitos, se a tristeza mora dentro ou fora de mim... (?).

Ai... Quantas lágrimas derramamos... Quantos desejos temos e não provamos deles o sabor, quantas ilusões... Quantos planos e os sentimentos como se esvaem... Como chuva de verão, como uma estação apenas, passam... Como o calendário que se renova e os outonos com novas e secas folhas que jamais se repetem e no sabor do novo fruto acontecerá uma ilegítima presença do mesmo sabor de outro igual fruto sem poder jamais ser o mesmo, passam... Deixando em cada lacuna um sabor de vazio..., ou uma vontade inacabada de refazer-se neste vazio, porque o homem é sedento de felicidade. E vive na busca de algo novo, insatisfeito, eterno sonhador, buscando na vida o peito materno, um insatisfeito.

Olhei-me longamente... Não consegui contar  as rugas, apenas notei que já são tantas e tive a impressão de que cada uma guarda um registro, assim como digital, como um segredo e a gente nem se dá conta de suas marcas do quanto cada uma custou...

...Os amores, as perdas, despetalados anseios... Verdadeiros vulcões... São terremotos, maremotos... Tempestades d'alma a clamar por vida, por felicidade...

"Felicidade" ,esta mora em algum lugar e ninguém tem seu endereço... Rs... Mas como ser feliz? Passamos a vida a perguntar... E num primeiro passo, ainda bem moços, pensamos erradamente que no outro está... Conclui que é puro engano, esta palavra é "solitária" como cada um de nós... (felicidade...???) nosso maior conflito interior, pensei ao mirar o espelho.

Fiz uma viagem sem passaporte... Clandestina viagem... Traiçoeira viagem de insegura interrogação...Pois não há mais em mim, tempo para mágoas, tempo para dúvidas... É MESMO A VIDA "HOJE".

Sem amanhã e sem tempo... Voar... Voar... E, nas asas do que resta, juntar o que ficou, "somar ao que for agora" a vida, não perguntar nada ao espelho, apenas seguir... Viver sem desejar, sem sofrer, olhar-se no espelho e reconhecer-se no tempo como o conteúdo da moldura.

Ser o verdadeiro editor da  história, sem se arrepender, sem lamentar, esquecer a vã filosofia e repudiar os mistérios... Perguntei ao espelho, se existe alguém que pergunte mais do que eu... Rsrs... Ele permaneceu calado... Eu desisti da questão...
  
Concluí que esta busca é inútil, que tudo assim como vem vai... E nada permanece, pois a vida é movimento... Nada permanecerá no tempo... Que até as lembranças perdem o colorido, e se nos vem, também passam dando espaço para o hoje, como um perfume, um aroma "LAVANDA" com cheiro de frescas  manhãs... Que no penteador só ficou o frasco... Alguns amores caminharão contigo no teu respirar, te serão eternas memórias que te servirão de companhia, mas sem causar incômodo, como uma suave lembrança que te faz gostar de está vivo e havê-lo tido, e deles fazes poemas que jamais serão editados. Passearás com tuas saudades de mãos dadas em plena comunhão, são quase sagradas tuas visões, teus momentos de abstração, gemidos e sussurros, são secretos, como a alma, e nem no espelho conseguirás identificá-los. Carregarás no olhar sem que ninguém  veja os olhares, os risos... Talvez no coração, escutes uma batida diferente e ao sentires a identifiques, como vida ainda em ti. E em seu movimento lembres sem sofrer, mas sem poderes deter uma lágrima. Então a isso chamarás de amor, e para cada amor nomeies uma ruga. E para cada sorriso, outro sorriso.

A vida é movimento... E os espelhos, também, mudam...

(Ednar Andrade).

domingo, 22 de maio de 2011

Tua mão



“Dá-me a tua mão desconhecida,que a vida está me doendo,e não sei como falar - a realidade é delicada demais,só a realidade é delicada,minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas

(Clarice Lispector).


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Infância




Infância...

Idade de querer
Ser adulto.
Por exemplo:
Cozinhar,
Se vestir
Com roupas
De adulto,
Namorar,
Ter filhos.
Assim
É a infância.
É querer imitar
É querer fazer
Tudo
Que um adulto
Faz...
Mas,
Quando
Amadurecemos
Nos arrependemos
Do que queríamos ser.

ASSIM É A VIDA
E O TEMPO TAMBÉM.

(Ana Júlia).

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Camaleoa-olhar...

    Tela de Teresa Robalo.


Invento versos,
Como se fosse poeta , pintando as letras 
E dando asas, brinco de escrever,
Brinco de sentir saudades, de  não chorar...

De não querer,
De não amar,
De  esquecer...
Brinco de brincar:

"De não sofrer"...

Brincar com as flores ,
De infinitas cores e jeitos ,
Pálidas, violetas e rubras em versos de paixão
Invento alegria, ponho em teu lugar...

Ai... Também com as sombras e sons
Da lagoa em pranto e sussurros...

Invento no vento que vem me beijar,
Invento um canto triste e canto a lembrar,
Para não  esquecer esta "tristeza "de amar
Que mora em teu e no meu olhar,

Finjo crer nesta bobagem
Que queres que eu creia.
Faço cara de descaso para esta sen-hora...
Duvido  daquela dúvida ,...

Mas, seco o rio 
De tanto lavar o pranto.
Me banho... Não rio ...
Só, rio..., Rio... Quase mar...

Me escondo no verde ,
Sou camaleoa, rastejo sutil ,
Por entre as folhas Verdes
E sépias, caço..."disfarço",

Pinto de azul uma estrela,
* 

E a mirá-la permaneço olhando o céu...
Assim... Tão distraída, quanto a fria noite...

E tudo faço, tudo desfaço
E permaneço, e silencio...
Interrogo  o pássaro no seu calado ninho...
Ele como eu, não sabe por que ficou tão triste,

E perdeu-se no caminho.
Então, fazendo, do amor, o meu brinquedo,
Sigo-te amando ... E...
Desenhando versos...

(Ednar Andrade).

domingo, 15 de maio de 2011

Simplicidade



Uma simplicidade...

E como se fosse uma fazenda
Com cajueiro e animais,
O papagaio, mato e flores.

Uma rede na varanda,
Uma rede cheia de lembranças...
Era onde o meu avô cantava
Para ninar o bebê:
Ana Júlia.

Mato e...
Simplicidade...

(Ana Júlia).

sábado, 14 de maio de 2011

... O que não me podes dar...

Tela, Sebastiano Ricci.

Segundo as lendas que envolvem sua origem, Diógenes, desprezava quase tudo o que achava ser mundano, perambulava pelas ruas de Atenas vestido em trapos e carregando uma pequena lamparina, dizendo que estava à procura de um homem de verdade, um que vivesse por si só, que não fosse apenas membro de um rebanho. Foi capturado por piratas e vendido como escravo. Foi comprado por um nobre que o fez tutor da instrução de seus dois filhos.

Conta-se que Alexandre, o Grande, após conquistar as cidades gregas e entrar em Atenas, soube da existência de um sábio ateniense, o mais sábio dentre os homens: Diógenes de Sínope.

Ao saber do local onde Diógenes morava (um barril), o imperador foi ter com o sábio e numa tentativa inútil propôs-lhe um “mundo”. Assim falou Alexandre:

“Sou Alexandre, aquele que conquistou todas as terras. Peça-me o que quiser que eu lhe darei. Palácios, terras, honrarias, escravos ou tesouros jamais vistos. O que você quer, ó Sábio?”.

Diógenes, o olhou e secamente respondeu:

“Senhor, eu quero que saias da minha frente, pois eu quero ver o pôr do sol… Não tires de mim o que não me podes dar”.

Percebendo que não ganhara esta batalha, perplexo e admirado ante a sabedoria daquele simples homem nu, de alma e interesses materiais, diz-lhe:

“Se eu não fosse Alexandre, o Grande, eu queria ser Diógenes”

Retira-se e não mais retorna a Atenas.

(Diógenes é considerado o maior dentre os filósofos Cínicos. Alexandre, o Grande, é considerado o maior conquistador da história e mesmo assim não conquistou Diógenes...).

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Doce memória



Um cheiro de charuto permeava o ambiente.

Um cheiro doce de cachaça, no canto do balcão, um vidro que girava e dentro dele deliciosas balas, de sabores, hoje, indecifráveis…, mas doces. “Algo penetrante que ia até vísceras”. Sem contar com um chão vagamente bordado pelas tampas dos refrigerantes. Aquilo tinha um perfume, porque por dentro da tampa havia uma suave camada de cortiça de inesquecível perfume. E eu as pegava e cheirava… Coisa de criança.

Lembro-me bem, haviam tranças de alho caindo do teto sobre o balcão, cebolas brancas e roxas, prateleiras decoradas por poeira e distraídas aranhas… Robustas mortadelas onde as moscas faziam um zumbido, mas de infecção intestinal ninguém nunca morreu. Uma corda pendurada com toucinho de porco, branquinho… Carne de sol, charque… Cachaças… Claro, que deviam ter vários nomes… Ali havia de tudo: balaios cheios de batata-doce, inhames, fruta-pão, jerimum, avoador (um peixe seco que nordestino descobriu para não morrer de fome). Festa no olhar… Poesia na minha inocência…

Um ambiente perfumado por álcool e conversas tantas de homens, de bêbados e também de senhoras e crianças… Entrar ali… Era algo como fazer uma viagem para um tempo que eu desconhecia, algo como hoje posso ler em sépia, que eu nem sabia da existência. Era um presente, um presente vivo da minha infância e me causava uma sensação de velhas fotografias. Um espaço tão vivo, tão autêntico, mas ali tinha algo de nostalgia, que na minha inocência não conseguia tocar. Um abstrato sentimento invadia a minha alma e aquele espaço. Por mim passavam sensações de prazer e medo.

Prazer pela diversidade das informações olfativas: papeis de balas pelo chão, pirulitos e alfenins e vez por outra algum distraído deixava alguma bala cair. Guloseima que eu apanhava calada e punha nos bolsos dos vestidinhos florais e saía para degustar.

Medo por olhar aqueles homens com falas enroladas, vestidos como quem vem da lida, cuspindo pelo chão em total desrespeito que é cuspir a casa de alguém – pensava. E eu os olhava e pensava na falta de higiene, cuspir assim ao pé do balcão… Palitos de fósforos pelo chão, como que decorando o arsenal. Vez por outra parava fixa, olhando para algum deles e já minha mãe me apertava o braço num código todo nosso, pedindo que eu desviasse o olhar.

Fumaças vindas dos charutos e eu com a intimidade que tinha com a dona da mercearia (velha amiga da minha mãe: D. Lenira. Ela tinha até um belo nome, difícil era digerir sem rir o nome do seu marido – como alguém poderia se chamar Lenira e ter um marido chamado Zé Buchudo?) pedia-lhe em segredo que guardasse para mim as vazias e perfumadas caixas de charuto, porque com elas eu faria caminhas para as bonecas. Não me furto a falar que bom mesmo era inalar o cheiro dos charutos que ficava impregnado nas caixas (hummmm…): iguaria de bêbado, pensava eu – aquela sensação de folha seca nas narinas, tabaco envelhecido, não sei definir. Hoje, acho que, por osmose, eu “cheirava charuto”, sem fumar. No chão, lembro-me ainda, feito do próprio tijolo branco que não havia como ser branco, de tanto que os bêbados cuspiam ou pisavam em dias de chuva ou qualquer estação…

Duas portas largas: sendo uma lateral, davam àquele espaço uma sensação de alma, algo quase palpável. Ao centro, um cesto, um antigo balaio coberto com um pano de linho branco, de onde saía um perfumado cheiro de pão fresco, alguns doces, um pão doce que não existe mais, com pedacinhos de côco e baunilha por cima, faziam daquele pão um manjar e uma deliciosa crosta tostada o decorava.

A isso minha mãe chamava de mercearia e eu chamava de festa.
Infelizmente, hoje, não vem à minha memória a música principal, mas sei que todas as vezes que ali entrei (com minha mãe ou meu pai) para fazer as compras, ouvia Nélson Gonçalves. Parecia que o dono da loja gostava apenas de uma música.
Hoje sei que a trilha sonora do ambiente era Nelson Gonçalves. Aqui, bem no final do texto, lembrei-me da música, que era “A flor do meu bairro”.

Talvez seja isso, aquela voz que me causa, até hoje, a memória viva dos doces e dos charutos. Havia pensamentos que me incomodavam: de onde viriam aqueles homens? Por que bebiam? Que prazer teria beber com euforia e gozo um copo de cachaça que eu a julgava amarga? – Mas hoje sei que é doce. O doce que aquelas vidas consolava, seus tédios aplacava. Para entender da vida, é preciso viver.

É preciso inalar não só o cheiro dos charutos, mas também sorvê-la e comer com a boca da emoção o sentido da vida. Degustar o amargo que há nos “incompreensíveis doces”, doces manjares que a dor dos que ali permaneciam a beber e cuspir as mágoas, etílicas mágoas…

São fugitivas as lembranças, são vivas na minha história. E posso sentir com uma alegria de mulher que não se perdeu da menina.

Um tempo lindo, um mágico tempo onde até os vícios disseram poesia.

(Ednar Andrade).


terça-feira, 10 de maio de 2011

Canção do amor-perfeito


Eu vi o raio de sol
beijar o outono.
Eu vi na mão dos adeuses
o anel de ouro.
Não quero dizer o dia.
Não posso dizer o dono.

Eu vi bandeiras abertas
sobre o mar largo 
e ouvi cantar as sereias.
Longe, num barco,
deixei meus olhos alegres,
trouxe meu sorriso amargo.

Bem no regaço da lua,
já não padeço.

Ai, seja como quiseres,
Amor-Perfeito,
gostaria que ficasses,
mas, se fores, não te esqueço. 

(Cecília Meireles).