quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Silêncios...


Dos Silêncios



Assim, como uma canção, um grilo a cricrilar inesgotavelmente, sem rima, sem trova, apenas canta... E soa ao meu ouvido; soa como um verso em que medito e não choro, pois a melodia me fala da noite, do silêncio, e "dos silêncios... Que trago no peito."
Assim, como no peito trago também, amores... Vários amores... São amores... São, sem temores, felizes ou vãos... Agora sinto um cheiro de fruta fresca vinda da pêra que saboreio um “cheiro" sem descrição da taça do vinho na minha mão. Um devaneio sem razão, um perfume em tudo na minha imaginação...

Somente quem sabe canta... O verso desta canção da noite, que mora em mim... Dentro da verdade de cada coração, além do meu... 

Mas, além... A noite desfia uma brisa. Quem sabe eu cantaria ao toque do violão: *"meu coração, não sei porque, bate feliz quando te vê...”

(Ednar Andrade).

Em cada história um papel


Eu olhava atenta os meninos sentados, unidos. Como mudaram... Cresceram...
Mudanças visíveis na voz, nos gestos, nas palavras e também no destino de cada um, ou não seria?... Ou não é destino???
Fiquei olhando e tentando rebuscar a fisionomia deles.
Não havia para mim dificuldades, pois eu os vi pequenos, correndo, felizes, saltarem nos galhos nos rios, pescando...
Mas e agora? Agora que tudo mudou, que eles já não brincam tanto?
Suas vidas caminharam por estradas tão distantes, seus sonhos feitos das tardes de verão, seus sabiás na lagoa, seus barquinhos de papel, peneira na mão, esperando passar na correnteza pequeninos camarões, as escaladas nas montanhas... Entravam na mata com suas gaiolas, com a inocente felicidade de trazer consigo pássaros cantantes. E quando a noite era de luar, acendiam tochas, apenas para andar na escuridão da mata e fingirem-se guerreiros, heróis. Confeccionavam suas armaduras e acessórios, assim como a lanterna de lata, onde uma lata de leite vazia, com um barbante que formava um aro, trazia dentro uma vela acesa e não temiam as cobras, nem os perigos da noite. Inevitável olhá-los, sem perceber neles e em mi a distância que o tempo fez em cada um de nós. 
Agora tudo passou, o verão ficou distante, e eles se olhavam e se faziam perguntas. Ansiosos como que quisessem voltar aos sonhos, à infância que se despede de um modo tão cruel, afastando, às vezes, pessoas que se amam tanto.

Cada um na sua história e em cada história um papel. Sentados ali ficaram a falar... Sorriam... Silenciavam... Eu os via... Sem que soubessem que eu, expectadora daquele encontro, sorvia com alegria e com nostalgia... A aparência de homens e na cabeça ainda meninos, relembrando os sorrisos dados, abstraídos nas suas lembranças frescas, eles olhavam-se com um carinho daqueles que crescem juntos e agora separados, reencontram-se numa tarde para mergulhar no passado.  
Enfim, esqueceram as diferenças, e como eram crianças brincaram, esquecendo as dores.

*(Ednar Andrade).