sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tolices


Eu dizia coisas que não sei mais dizer.
Acreditava em sentimentos
Que hoje chamo de tolices.
Amava com um jeito absurdo e inocente.
Chorava quando era pra cantar.
Algumas coisas duras,
Guarda-se na memória
De forma inevitável
E viva, como um vídeo-teipe.
Eu queria como quer uma criança,
O doce da vitrine ou a boneca mais linda,
A felicidade inexistente.
Chorava de emoção ao ouvir
Uma canção de amor
E pensava na vida como quem pensa
Num bosque...
Vivia a primavera como quem faz um poema
E beijava como um beija-flor,
Sugando da vida o néctar.
Um barquinho visto de longe,
Era como uma embarcação
Cheia de sonhos.
Aí, a vida chega, o tempo passa
E o que resta da festa
É o que a ninguém basta.

(Ednar Andrade).
(03.08.2011).

Entender




Não me cabe entender, talvez caiba, quero que caiba, preciso entranhar, desbravar desesperadamente este emaranhado de sentimentos luminosos e sombrios que me compõem. Entender porque nego o que quero tão veementemente, porque beijo este peito tão ferozmente, este mesmo retrato, este espelho. Este “eu” desconhecido, enigmático, este assombro, sombra, sombra. Gostaria de ser convidado a fugir e ir com ela, ser apresentado a este “eu” tão estranho, a descobrir o “eu” desconhecido, mudo, intenso, vestígios deste “eu” impresso em paredes antigas, paredes pedindo por sua descoberta e meu entendimento.


Tolo, acreditas mesmo que entenderás? A parede pede para ser entendida, decifrada porque buscas a ti mesmo, caças a ti mesmo, é atrás de ti que estás, por isso amargas, a incompreensão. É como fel, repulsa, não desce pela goela. Seria fácil soprar a névoa e ela se dissipar, mas assim como tu, teu ser é denso; neblina nos olhos, és assim: entradas, vísceras; és assim: tu mesmo, este espaço impresso no nada, este átomo, esta mistura química perigosa a vós, esta explosão cósmica irreprodutível,mais bizarra do que imaginas. Cabes em um mundo, mas não ele em ti, posto que és o infinito.

Esta poeira pensante, esta paisagem insensata, esta matéria indefinida, este bicho arredio que ataca monstruosamente por medo, simples, mesmo assim não há como explicar. Decodificável.

Temos medo do que não conhecemos por isso ficamos onde estamos.
o desconhecido nos assusta, nos retira deste estado permanente e denso de morte.

Cuspo na moral e bons costumes. À merda com ela, ela me matou no dia em que nasci. O medo é um quarto; conhecer é um horizonte... É noite, mas se tiveres paciência aparecera beleza com o amanhecer. A luz do desconhecido é o que quero, não quero a escuridão, a pútrida e sombria sobriedade. Ela me entorpeceu em meu nascimento, sinto que nasci hoje quando descobri a beleza do dissabor.

(Andrey Jack).