No dia em
que decretastes em mim tua morte, chorei, chorei dizendo ao meu sorriso que
estavas mentindo-me.
Chorei, lavei o rosto com lágrimas e lambi delas o sal, depois pus-me a
olhar para minha alma no espelho do quarto da minha inútil e dilacerada
aquarela e lá estavas cego e sem cor dentro do meu olhar.
Perdeste o brilho que o meu ofuscava, perdeste dentro da minha retina
aquele tom azul que sempre nos guiava. E agora as lembranças tão doces eram
como algas luzentes, salgadas, como água viva, queimava-me e minha pele
arranhada, toda marcada, ardia e não não mais te queria, e eu não sei o
nome que dar àquele instante, àquele sentimento no qual me afogavas.
Epitáfios, vários, me socorreram, cada um mais real e forte, cada um
menos belo diante desta sorte.
Assim, fingimos ser parente de cada morte.
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Corri até o chuveiro, tomei um demorado banho, como que querendo lavar
do cérebro teu único e real beijo. É que ele ardia em minha boca como um torpe
sobejo de veneno, me fazia muito mal tocar a boca e sentir nela o resíduo do
aroma que deixaste ficar.
Na tarde morna em que fiz tua vontade suicida, não via mais em nada, nem
em ninguém, motivo para seguir.
Mesmo assim, estraçalhada pela dor que tua morte trouxe, saí do banho,
deitei-me muda e nua no gelado chão, já sem um sequer soluço, levava na mão
fechada um batom vermelho, aquele que usava só para te encantar, aquele que
fazia minha boca ser a rosa que tanto querias beijar.
Virei de lado e sem carecer de olhar-me, desenhei nos lábios um falso
sorriso, um destes que só um palhaço melhor faria. Sequei o pranto, pintei os
olhos como se fosse noite de festa, encolhi-me como aquele caracol que vomitei,
trazia teatro nas palavras, gemia e enfim nos suicidamos.
Desespero e silêncio, usamos como flores. Lembrei-me das orquídeas de um
certo setembro, lembrei da felicidade de havê-las tido um dia, como símbolo do
que chamei de amor.
Durante algum tempo, não sei quanto, estive convulsa, estática e murmurei
teu nome, como quem se vinga e assim rezei:
*Que eu viva para sempre a morte deste amor.*
(Dolores Duran).
Ergui-me, dei alguns passos, tonta, sem saber a direção que tomariam
meus sonhos, e do lado de dentro do meu peito rasgado, saiu um grito que
ninguém mais pode ouvir.
Doei tudo teu que ficaria em mim. Das tuas juras, fiz versos de
mentiras; dos teus sorrisos só um guardei para mim, aquele que não me foi doado
que destes ao vento, mas eu o roubei, este está comigo, foi este teu sorriso
que me fez sorrir.
Hoje ao olhar-te, vejo que havias morrido e jazias dentro de ti mesmo.
Aquele pedido não fora tua hora de morrer, pois quem mata os sonhos,
mata o amor, mata a liberdade, és apenas um fantasma que brinca de viver.
(Ednar Andrade).