quarta-feira, 30 de março de 2011

Noite



Noite
Que me consome,
Parece eterna,
Tão comprida,
Quanto o mês
De setembro,
Quando começa
A Primavera,
Trazendo-nos
A ansiedade
De ver os jardins
E suas flores,
Com pétalas
Tão suaves
Como a pele
De quem amamos.
Hoje, acontecimentos
Tão reais
São como sonho,
Quando apenas
Ouço tua voz
Que ecoa
Por toda a noite,
Toda a madrugada,
Preenchendo
O vazio
Que antes havia
Em meus pensamentos.
E, por mais uma noite,
Serei insone e não irei
Esquecer o momento
Sublime
De ter sentido
Sua presença
Mesmo de longe,
Por meio da escrita,
Onde encontrei
A forma de expressar
O sentimento
Que arde como chamas
No coração do homem
Que ama.

(Edlercio Patrik Andrade Santos).

Maria


Nasceu Maria...
Depois da Primavera dos “cactos”,
De espinhos feita,
De aroma negado.

Nasceu Maria...
Regada a bálsamo-lágrima.
Nasceu Maria...
No deserto seu.

Maria,
Flor que habitava
O nada.
Nasceu para amar;

Não para ser amada.
Nasceu de uma gota
Perfumada de silêncio
E medo...

Nasceu numa lilás
Primavera...
E espantada
No seu deserto

E fugitivo medo,
Enfeitada de espinhos,
Deu a luz
A uma rubra flor

Que se chamou vida.
Assim nasceu Maria...
Maria, Mar, Amar,
Maria.

(Ednar Andrade). 

terça-feira, 29 de março de 2011

Vida & Movimento


Viver
E apenas
Comer o dia
Com o sabor
Que ele trouxer.
A vida é uma
Mesa farta
De fugazes
Momentos,
De invencíveis
Tentativas de ser
Feliz.
A felicidade é como
Um barco que se vê
De longe,
Mirando o horizonte...
Com eterno anseio
De alcançar a onda
Mais branda...
Assim, como o barco
Que parte e volta
Ao fim de cada dia,
Cada novo dia
Traz diferentes ondas,
Marés e marolas,
Movimento das águas...
O sabor das algas;
Na boca, o gosto do sal;
Nas mãos, as marcas da lida,
No deitar e puxar a rede,
Na esperança do pão;
No olhar, a vaga perdição
No verde.
Altas ondas...
Em cada azul, um novo tom;
Em cada fim de tarde,
A esperança marrom.
A vida é festa, é movimento;
Finita dança...

(Ednar Andrade).

Tons e cores


Você não entenderia os tons de azul e branco gelo que adornam as paredes de minha casa.

O órgão duro que cortava minha carne simbolizava a verdade de meu amor tão latente que existia entre essas paredes. Contra toda a moralidade, nenhuma patética regra maculava o santuário do amor expresso em meus atos... Em MINHA casa não havia necessidade de tanta luz, pois minha alma brilhava... Não havia necessidade de tanta água, pois seu suor supria minha sede; nossa ânsia não bastava, havia uma fome de nossa carne e comíamos um ao outro como em uma última refeição.

A esta fome do ser alheio, chamei amor e tesão... Não me envergonhava das palavras que diziam: quero comer você para te ter em mim e alimentar minha alma com a proteína de tua existência... Aquele momento era de forma egoísta somente meu... Meu canibalismo necessário, minha religião... Meu amor... Era meu de mais ninguém. Talvez tão dele e tão profundamente carnal e erótico quanto o meu, tão esplêndido e lindo quanto o meu... Talvez fosse de fato nosso; tão fácil quanto respirar era me permitir  ser capaz  do que nunca imaginei que um dia fosse capaz de ser: um em dois, mesmo que só no meu mundo e que, de tão meu, só eu pudesse vê-lo e mesmo que só para mim fosse tão incrível e real. Mesmo assim, a isso chamei amor e doença e a dor desta “crônica doença” me fez notar o quanto de fato estou vivo.

A isto que rasga e dói, dói, chamei, capacidade de amar e não entender. Nem quero, pois sei que vai além do que, para  mim, é possível.

(Andrey Jack Andrade).

segunda-feira, 28 de março de 2011

Hoje


 

 
Hoje, especialmente por me sentir incrivelmente sensível e covarde, tentei escrever poesia, na tentativa de me sentir melhor.

 
Na tentativa de fazer dar sentido a alguma coisa... Tentei brincar com palavras, encontrar formas de expressar minha frustração, mas não encontrei nada, só um mar de letras que não dizia nada... Fiquei louco, em desespero por me sentir tão vazio... Sem saber como fazer para não sucumbir, resolvi olhar ao redor e me vi em barco cheio de pessoas que, como eu, não sabiam para onde ir... Olhei para cima e vi um capitão, resolvi subir e perguntar para onde estávamos indo e ele me respondeu com os olhos envergonhados e com a boca seca... Para onde devemos ir? Percebi que não estava perdido sozinho, percebi que muita gente como eu não tinha uma direção... Mas, como ouvi dizer, está perdido também é caminho... Mas não quero estar tão perdido... Em uma nova tentativa por um caminho por mais estreito que seja percebi que meu desespero por uma razão me distraiu e fez com que me perdesse... Notei e anotei na palma da minha mão para não esquecer que meu desespero me desorienta e cega... Não quero mais seguir, porque quando anseio e grito por resposta fico surdo e não escuto o chamado da vida... Na tentativa louca de enxergar, fico cego, porque ansioso olho para todos os lados e perco o ínfimo e grande detalhe; aquele que faz toda a diferença e define o caminho.
 
...Na tentativa de enxergar um grande caminho, perco a visão da fenda que leva a algum lugar. Não quero mais seguir a direção, meu desespero e sede de vida... (Prefiro o silêncio...). Talvez, com ele, eu fique atento e escute alguma coisa...

(Andrey Jack Andrade).

Los colores imposibles de la tarde



Si tuviera que elegir
prefiero la distancia,
los colores imposibles de la tarde.
Prefiero estar perdido en medio de mis sueños.
Si tuviera que elegir,
elegiría tu silencio de amor que nunca llega.
Así no me recordarás a nadie.
Si tuviera que elegir
preferiría la carne de tus labios,
esa mezcla de futuro y de agonía,
ese puñal suave que me clavas
y que yo tan pronto olvido.

(Antonio José Mialdea)

Um poema


A noite cai lentamente,
Como um manto... Que me cobrirá de "silêncios..."
Cai lentamente.... A noite
E o meu coração dirá um poema
Que cantarei até que o sono me envolva
E eu adormeça para contigo sonhar.

(Ednar Andrade).

sábado, 26 de março de 2011

Embriagai-vos...

    (Tela de Courbet). 

“É necessário estar sempre embriagado. Tudo está aí: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta vossos ombros e vos curva em direção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos." 


(Charles Baudelaire).

Renasço


Perdida,
Busco
A luz
Da tua
Cega
Faísca.
Sou como
O vento:
Vagueio,
Sem porto,
Sem tempo
E sem hora.
Sou como
O cão:
Farejo,
Sinto.
Sou como
A cobra:
Rastejo,
Busco,
Guardo
Veneno.
Sou como a rosa:
Amanheço,
Apago,
Durmo,
Morro,
Renasço.

(Ednar Andrade)
(27*02*2011).

quarta-feira, 23 de março de 2011

Poesia


Até parece sonho,
A verdade que componho...
Alma transparente,
“Pele nua”, traduz meus sentimentos
Sem nenhum pudor.
Como verso, pura quimera... Diriam...
... E a vontade de viver.
A rima é o contra-verso... E o re-verso.
Se é para falar, silencio...
Se é para rir, choro...
Se tiver saudades, canto...
Se vier o medo, sigo...
Sem olhar para os lados.
Meu pássaro alado,
Meu mais velho invento...
Assim sigo, segues
Como irmãos e filhos,
Mãe e pai do tempo,
Aprendizes, somos.
Vagos de incertezas;
Plenos desta prosa;
Pobres de ilusão.
Coragem,
Loucura,
(Coração de poeta),
“Corpo de mulher”,
Sentimento em universo.
(Solto dentro da prisão
Abstrata do amar...)
Parece sonhar o poeta,
Quando diz
A mais pura flor da verdade
Em seu sonho.
Esbarro, num caudaloso rio de mim
E, não me banho...
Meu leito vira rio
Para o deleite do espanto (...)
A minha melhor prece é a poesia,
Onde planto versos
E colho rimas.

(Ednar Andrade).

terça-feira, 22 de março de 2011

Cigarra


Cai noite,
Canta cigarra,
Chora meu peito,
Deságua mágoa.

Chora teu canto,
Te desfazes em poema
Te desnudas em  noites claras....
Clara é a Lua

Escura é a mágoa
CANTA OU CHORA CIGARRA?
Se cantas, choro
Se choras , guardo... Aguardo...

Espero.
O  desencanto, a noite, o mistério
Meu doce e sempre
Como és ,canto ...

És sonho, és noite
De escuro céu,
Desabrigo
Em clara noite

CIGARRA;
Deserta mágoa,
Cantar noturno
cantas, eu choro...

(Ednar Andrade).

Retalhos


Hoje… Só a boca fala,
Só o acaso resume
Sobras de alguma alegria.
“Pedaços de partes perdidas”.

Hoje, talvez, as feridas,
Feito um cão, dando lambidas,
Procurando, talvez, sará-las,
“Diminuí-las”… Curá-las.

Retraços deixaram traços,
“Fizeram-se marcas vividas”
Em páginas de minha vida
Tenho um olhar bem marcado,

Manchas que a água não lava
Que nada consegue por luz.
“São sobras de tanta ausência”,
São noites pra sempre perdidas,

Lágrimas gravadas no pano,
Pedaços de tantos sonhos,
Olhar perdido no verde,
Retalhos da minha vida.

(Ednar Andrade).

sábado, 19 de março de 2011

Gaivota

    Quadro Gaivotas, de Jorge Marcovitch.

Infeliz gaivota
Que voava errante,
Perdida no céu...
Sem ter,
Não deu amor.
Mas hoje, velha ave
Que fraqueja:
És triste
E é triste
Ver-te assim:
Lânguido,
Sofrido,
Pois já não voas.
Como uma cobra,
Rastejas.
Lamentas triste,
Perdeste a beleza
E já não cantas,
Nem és sonhador.

(Ednar Andrade).