sexta-feira, 30 de julho de 2010

Hoje



Quero da noite o dia,
Quero da boca o beijo,
Da lucidez a loucura mais louca
Até que a fome desta paixão
Me deixe torpe
Que me confunda em delírio
E tudo desague num rio,
Que de mim, lave o prazer.
Quero o livre “negado”
Voar, voar, vida à fora.
Sem presente, sem passado,
Olhar pro simples mais lindo,
Prová-lo com um sabor raro,
Viver da morte deste morto,
Que eu celebre para sempre este velório,
Sentindo na cabeça o gosto que a língua desconhece,
Quero me entregar nua a tudo que sou carente.

(Ednar Andrade)*****.


quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Mare e Tu




Sentir em nós
Sentir em nós
Uma razão
Para não ficarmos sós
E nesse abraço forte
Sentir o mar,
Na nossa voz,
Chorar como quem sonha
Sempre navegar
Nas velas rubras deste amor
Ao longe a barca louca perde o norte.

Ammore mio
Si nun ce stess'o mare e tu
Nun ce stesse manch'io
Ammore mio
L'ammore esiste quanno nuje
Stamme vicino a Dio
Ammore

No teu olhar
Um espelho de água
A vida a navegar
Por entre o sonho e a mágoa
Sem um adeus sequer.
E mansamente,
Talvez no mar,
Eu feita espuma encontre o sol do teu olhar,
Voga ao de leve, meu amor
Ao longe a barca nua a todo o pano.

Ammore mio
Se nun ce stess'o mare e tu
Nun ce stesse manch'io
Ammore mio
L'amore esiste quanno nuje
Stamme vicino a Dio
Ammore
Ammore mio
Si nun ce stess'o mare e tu
Nun ce stesse manch'io
Ammore mio
L'amore esiste quanno nuje
Stammo vicino a Dio
Ammore

(Composição: Dulce Pontes / E. Gragnaniello).



terça-feira, 27 de julho de 2010

Para ser grande, sê inteiro





"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive"


(Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa).

domingo, 25 de julho de 2010

Orquídeas




Um frio que aquece,
Uma saudade que enternece
A minha alma já tão sem certeza da prece
Que reza.
Volto, mas não há em mim sorriso,
Apenas o poema, o gemido da frase que digo,
Com vontade de ficar.
Uma eterna saudade do cantar das aves,
Do coaxar dos sapos, do murmúrio da cachoeira que rola,
Do simples silêncio da lagoa.
E volto e deixo lá a minha alma partida
E trago no meu corpo uma dor
Que me suprime, há tanta saudade...
Uma eterna vontade de ficar, sem partir.
E eu não sei o que reviver para não morrer.
É a memória das noites em que me deito
E como se fosse um barco, flutuo em pensamentos,
Memória viva, da felicidade que perdi.
É um querer-ficar, não ter que partir
É uma dor mais aguçada que um punhal,
Que invade meu peito e traspassa
O meu irreal.
Ai... Que choro e neste gemido
Há muito mais que uma simples dor.
Há um querer-estar na terra,
No abrir de cada flor.
Ai... Há uma tristeza
E uma inevitável certeza
Da felicidade que voou.
Ilhota, casa minha,
Pátria, ilhota,
Como sinto de ti, saudades.
Mãe-pátria, casa minha, como te quero
E como choro, este não-poder-ter-te em mim e voltar...
És a minha aurora, o meu melhor poema, "lual...",
Onde a noite nua, consagra-se com a Lua
E derrama no meu peito
Este afã, desejo de feliz-ser.
Ai, meu Deus, quanto sofrer neste meu calar,
Quanta vontade de ir e ficar,
Sem precisar jamais voltar.
"Verde" que tanto amo... Hoje vi que minhas orquídeas
Preparam-se, como que, numa solene exaltação da natureza,
Agonizam-se para ser vida em plena Primavera que virá.
Como quero, olhar-te vida, subindo pelos cajueiros.
Lilás, lilases sinais, de orquídeas florescidas no amor.
Ai... Como desejo que em setembro, que anuncia a vida,
Que no calendário do meu coração partido
A vida que soa em notas, como uma lilás canção.
Brisa mansa que passa por mim, trazendo memórias
De cravos, jasmins...
Como quero de ti, doce poema, ser a rima
Que em ti tudo encerra neste meu ser
Que vive de amor, em guerra.


(Ednar Andrade).

sábado, 24 de julho de 2010

Seu Nome




Quando essa boca disser o seu nome, venha voando
Mesmo que a boca só diga seu nome de vez em quando
(repete)
Posso enxergar no seu rosto um dia tão claro e luminoso
Quero provar desse gosto ainda tão raro e misterioso do amor...
Refrão:
Quero que você me dê o que tiver de bom pra dar
Ficar junto de você é como ouvir o som do mar
Se você não vem me amar é maré cheia, amor
Ter você é ver o sol deitado na areia
(repete)
Quando quiser entrar e encontrar o trinco trancado
Saiba que meu coração é um barraco de zinco todo cuidado
(repete)
Não traga a tempestade depois que o sol se pôr
Nem venha com piedade porque piedade não é amor
(repete)
Refrão 2x
(Composição: Vander Lee; intérprete: Luiza Possi).

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Em algum lugar




Você que não sei agora,
Você que já foi embora,
Você que eu não sei se dorme
Ou mesmo se está acordado.

Você que eu amo um bocado
Que me faz escrever agora,
Pensar assim com saudade,
Perder o sono...

Você que está ao meu lado,
Você que eu não pude esquecer,
Você que integra meu sonho,
Mas nunca está presente

Me faz sofrer pra danado.
Sentir-me um ser transviado.
Você que me tira do sério
Me faz sentir saudade.

Mentira por que é verdade.
Sorrir, mesmo estando só.
Por tudo que é você,
Talvez eu seja o que sou

E acredito no amor
Que inspira em mim, você
Você, é verbo pra todo lado,
Talvez no dia da morte

Que me ajude a dona sorte,
Seja você o culpado
Da minha causa de morte:
Você.


(Ednar Andrade).

domingo, 18 de julho de 2010

Saber-me não sei, diga-me quem sou



Digam-me, quem sabe,
Quem sou eu afinal. Sabes tu?
Sou por acaso, quem?
Fui ou serei o que ainda nem sei se sou?
Sou tua imaginação fértil,
Sua desgraça ou sorte
Que o tempo abortou.
Sou ciranda, serpentina,
Inquieta, bailarina, sabes tu?
Dizes quem sou.
Não sou de nada,
De ninguém,
Não fui, nem vou,
Além do além.
Diga-me, então se souberes
O que quero ou o que queres.
Sabes tu o que não sei?
O que não digo, nem direi?
Digas-me tu o que não sabes
Deste meu ser o que não cabe
E se derrama nas levadas,
Nos escombros, nas madrugadas
Que me leva a alma errada.
Diga-me, pois não direi
O que até agora não sei.
Estou no vento, na chuva,
Nas flores, no teu olhar escondido,
Num poema esquecido,
No que é morno, no que é feio,
No que dizem bizarro, não sei...
Sou profana, alheia, noite, tarde,
Estou no seio da verdade,
Não me escondo, não sou maldade.
Mas, mesmo assim, não sei,
Sabes tu? Digas, quem sou...


(Ednar Andrade).

sábado, 17 de julho de 2010

Memória (Memory)



Meia noite, nem um som da rua
A lua perdeu sua memória?
Ela está rindo sozinha
Na luz das lâmpadas
as folhas secas se recolhem aos meus pés
e o vento começa a se afligir
Lembrança, totalmente sozinha a luz da lua
Eu posso sorrir nos dias passados
A vida era bonita então
eu me lembro
do tempo que eu conheci o que era felicidade
Deixe a lembrança viver novamente
Todas as lâmpadas da rua
Parecem piscar
Um aviso fatalista
Alguém murmura
E as lâmpadas da rua se apagam
E logo será de manhã
Luz do dia, eu devo esperar pelo nascer do sol
Eu devo pensar em uma nova vida
Eu devo partir
Quando o amanhecer se aproxima
Essa noite será uma lembrança também
E uma nova vida começará
Queimar os fins dos dias esfumaçados
O frio envelhecer cheira a manhã
As lâmpadas da rua morreram
Outra noite se acabou
Outro dia está nascendo
Toque-me, é tão fácil de me abandonar
Sozinha com uma lembrança
Dos meus dias no sol
Se você me tocar
Você entenderá o que é felicidade
Olhe, um novo dia começou.


(Andrew Lloyd Webber).


Tradução de Memory, por Barbra Streisand.

Homo Lupus Homini.



Lobo, perdido na noite...
No eternal inferno
Mora o homem,
Devorando-se e devorando
A tudo e a todos,
Comendo e vomitando
A própria sorte.
Terrível exterminador
Da própria sombra,
Dos recantos vis
Da própria alma.
Poeta, como quem faz versos
Arquiteta a chacina trágica
Da traição.
Este animal que fala,
Beija, sussurra
E diz que ama,
Jura amor,
É réu confesso
De si mesmo é traidor.
Transita entre
A sorte e a paz,
Mas busca a guerra
- Manjar sangrento
Que parece correr-lhe
Nas veias.
Bebe em taça
Coquetel de fel
E brasas de inquietação.
Lobo que uiva (!!!!!!!!!!!!!),
Procurando, no tempo,
Aconchego ao coração.
Vagueia, buscando o nada
Ou encontra-se
Em total devassidão.
Lascivo, busca fora de si
O que não vê ter
Dentro do peito.
Engendra, transgride,
Aflige-se, tudo faz a si.
Dentro da sua noite,
Escura maldade.
Embriaga-se e bebe
A própria sina.
Para depois
Morrer da própria desgraça.


(Ednar Andrade).

Quimera Matinal



Deixa-me sonhar...
Deixa-me divagar
Nas asas da ilusão,
Enquanto posso... 

Deixa-me que eu coma as manhãs
Nesta ceia matinal
Com sabor de vida fresca. 

Deixa-me mergulhar
Neste azul de mar
Que invade minha janela

E que este vento
Possa passear todas manhãs
Na minha face
E beijar toda a manhã
Com essa ternura infinda
Que a natureza premia. 

Deixa que eu esqueça as dores,
O sofrer, as agonias, os dissabores
E me derrame nesta “doce poesia
De cada amanhecer.” 

Ai! que não quero esquecer jamais...
Este azul (quase violeta),
Que desta paisagem brota. 

Das águas doces da lagoa,
Possa eu sempre me banhar.

Que eu deixe neste mergulho
Qualquer desconforto
Da minha carne sofrida.

Deixa-me, mãe natureza,
Que em teus braços,
Assim como um pássaro, eu cante
Sem me queixar... Do que não tive
Ou do que não tenho.

Leva-me, terno sonhar...
Para teus bosques distantes...
Faz de mim flor,
Flor brejeira, flor do campo.

Que eu me sinta feliz
Como orquídea em Primavera,
Enfeitando a vida
Que há na morte e na dor.

Mas não me deixe
Vagar sem sonho,
Sem verde, sem o canto das aves
E sem versejar o amor que canto,
Sem a água deste mar...
Não me deixes.

Quero morar nas frias tardes
E dormir serena e morna nas noites,
No balançar destes ventos,
Nesta rede de contentamentos,
Refrescar meu coração cansado.

Beijar meus netos
E com eles dormir
Um sono sossegado...


(Ednar Andrade).

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Café com Chocolate



Fresca manhã de julho...
Este vício de olhar pela janela, não muda em mim...
(Gosto das janelas,
elas são o medidor do meu estado de espírito).

"Janelas da alma" ,
Que me dão calma ,
São quase um abrigo...
Abro a janela, olho para fora,

O verde, lençol de brisa (coqueirais...),
Nos campos as flores,
Montanhas, pastos,
Penso, revivo,

O vento sopra neste céu de cinza cor,
Deste quase inverno.
Café com chocolate...
Penso na vida,

Enquanto mergulho nesta nostalgia...
Por entre a cortina da chuva fininha
Que suavemente cai...
Remeto-me a pensamentos distantes,

São sombras suaves de um breve tempo,
Que agora passam por mim,
Como um sonho...

O tempo se arrasta como uma serpente,
Sorrateiro e sempre...
Café com chocolate,
Ausências, saudades...

Perfumes no ar...
O frio me invade,
Tem muita saudade neste meu olhar...



(Ednar Andrade).

Tuas Músicas*



"Coloquei aquelas músicas pra tocar, e, percebi como faz falta te amar!*
*Acordei e nem tomei café, tampouco lavei o rosto...
pois queria manter em mim, teu perfume
e o teu gosto!"

(El Brujo).

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Decifra-me



Não venha me falar de razão
Não me cobre lógica!
Não me peça coerência
Eu sou pura emoção!

Tenho razões e motivações próprias
Sou movido por paixão
Essa é minha religião e minha ciência!

Não meça meus sentimentos
Nem tente compará-los a nada
Deles sei eu
Eu e meus fantasmas
Eu e meus medos
Eu e minha alma

Sua incerteza me fere...
Mas não me mata!
Suas dúvidas me açoitam...
Mas não deixam cicatrizes!

Não me fale de nuvens...
Eu sou Sol e Lua!

Não conte as poças...
Eu sou mar... Profundo, intenso, passional!

Não exija prazos e datas
Eu sou eterno e atemporal

Não imponha condições
Eu sou absolutamente incondicional

Não espere explicações
Não as tenho, apenas aconteço
Sem hora, local ou ordem.

Vivo em cada molécula ou o todo e sou UNO.
Você não me vê, mas me sente

Estou tanto na sua solidão
Quanto no meu sorriso

Vive-se por mim
Morre-se por mim

Sobrevive-se sem mim
Eu sou começo e fim

E todo o meio!
Sou seu objetivo, sua razão

Que a razão ignora e desconhece
Tenho milhões de definições
Todas certas...
Todas imperfeitas...
Todas lógicas...

Apenas, em motivações pessoais!
Todas corretas...
Todas erradas!

Sou tudo...
Sem mim, tudo é nada.

Sou amanhecer...
Sou Fênix, renasço das cinzas

Sei quando tenho que morrer
Sei que sempre irei renascer

Mudo protagonista, nunca a história
Mudo de cenário, mas não de roteiro

Sou música...
Ecôo, reverbero, sacudo!

Sou fogo...
Queimo, destruo, incinero!

Ou sou água...
Afogo, inundo, invado!

Sou tempo...
Sem medidas, sem marcações!

Sou clima...
Proporcional a minha fase!

Sou vento...
Arrasto, balanço, carrego!

Sou furacão...
Destruo, devasto, arraso!

Mas sou tijolo...
Construo, recomeço!

Sou cada estação
No seu apogeu e glória!

Sou seu problema... e sua solução!
Sou seu veneno... e seu antídoto!
Sou sua memória... e seu esquecimento!
Eu sou seu reino...
Seu altar...
Seu trono...
Sou sua prisão...
Sou seu abandono...
Sou sua liberdade...
Sua luz...
Sua escuridão...
E seu desejo de ambas...
Velo seu sono...

Poderia continuar me descrevendo
Mas já te dei uma idéia do que sou!
Muito prazer!
Tenho vários nomes!
Mas aqui, na sua terra chamam-me... AMOR!


(Paula Campos).