quarta-feira, 22 de junho de 2011

A vida é movimento


    (Lena Gal).


Olhando o espelho, tentei contar as rugas,
Tentei achar nelas rusgas…
Tentei achar as digitais dos risos, dos meus desabrigos..., Questionei, invadi os sonhos já desfeitos,

Olhei os meus defeitos, se a tristeza
Mora dentro ou fora de mim… (?). (..............)
Ai… Quantas lágrimas derramamos…
Quantos desejos temos e não provamos deles o sabor,

Quantas ilusões… Quantos planos e os sentimentos como se Esvaem… Como chuva de verão,
Como uma estação apenas, passam… Como o calendário
Que se renova e os outonos com novas e secas folhas

 Que jamais se repetem
 E no sabor do novo fruto acontecerá uma ilegítima presença
 Do mesmo sabor de outro igual fruto
 Sem poder jamais ser o mesmo, passam… Assim...:

Deixando em cada lacuna um sabor de vazio…,
Ou uma vontade inacabada de refazer-se "neste" vazio.
Porque o homem é sedento de felicidade.
E vive na busca de algo novo, insatisfeito,

Eterno sonhador, buscando na vida o peito materno,
(Um insatisfeito.)
Olhei-me longamente…
Não consegui contar as rugas,

 Apenas notei que já são tantas...
 E tive a impressão "nítida" de que cada uma guarda um registro,
 Assim como digital, como um segredo e a gente nem se dá conta
 De suas marcas do quanto cada uma custou…

…Os amores, as perdas, despetalados anseios…
 Verdadeiros vulcões… São terremotos, maremotos…,,,,
 Tempestades d’alma a clamar por vida, por felicidade…
“Felicidade”:

Esta mora em algum lugar e ninguém tem seu endereço…
 Rs… Mas como ser feliz? Passamos a vida a perguntar… (?)
E num primeiro passo, ainda bem moços,
Pensamos erradamente que no outro está…

 Conclui que é puro engano, esta palavra é “solitária”
 Como cada um de nós…
 (felicidade…???) nosso maior conflito interior,
Pensei ao mirar o espelho.

Fiz uma viagem sem passaporte…
Clandestina viagem… Traiçoeira viagem de insegura interrogação… Pois não há mais em mim,
Tempo para mágoas, tempo para dúvidas…

É MESMO A VIDA “HOJE”.
 Sem amanhã e sem tempo…
Voar… Voar… E, nas asas do que resta,
Juntar o que ficou, “somar ao que for agora” a vida,

 Não perguntar nada ao espelho, apenas seguir…
 Viver sem desejar, sem sofrer,
 Olhar-se no espelho e reconhecer-se no tempo
 Como o conteúdo da moldura.

Ser o verdadeiro editor da história, sem se arrepender,
Sem lamentar, esquecer a vã filosofia e repudiar os mistérios…
Perguntei ao espelho, se existe alguém que pergunte mais do que Eu… Rsrs… Ele permaneceu calado… Eu desisti da questão…

Concluo que esta busca é inútil, que tudo assim como vem vai…
E nada permanece, pois a vida é movimento…
"Nada permanecerá no tempo"… (Já DISSE Gil)
Que até as lembranças perdem o colorido,

E se nos vem, também passam dando espaço para o hoje,
Como um perfume, um aroma “LAVANDA”
Com cheiro de frescas manhãs…
Que no penteador só ficou o frasco…

Alguns amores caminharão contigo no teu respirar,
Te serão eternas Memórias que te servirão de companhia,
Mas sem causar incômodo,
“Como uma suave lembrança que te faz gostar de está vivo"

... E havê-lo tido, e deles fazes poemas que jamais serão editados.
Passearás com tuas saudades de mãos dadas em plena comunhão,
São quase sagradas tuas visões, teus momentos de abstração,
 Gemidos e sussurros são secretos COMO A ALMA,

 E nem no espelho conseguirás identificá-los.
No olhar sem que ninguém veja os olhares, os risos…
Talvez no coração, escutes uma batida diferente
 E ao sentires a identifiques, como vida ainda em ti.

 E em seu movimento lembres sem sofrer,
Mas sem poderes deter uma lágrima.
 Então a isso chamarás de amor,
E para cada amor nomeies uma ruga.

 E para cada sorriso,
 Outro sorriso. (...)
A vida é movimento...
E os espelhos também mudam...

(Ednar Andrade).