domingo, 3 de abril de 2011

Amores


Não tenho amor,
Tenho amores
E um deles
É este verde,
Este silêncio,
Esta paz...
Que me consome
E come.
Sou areia
Deste chão.
Sou faísca,
Luz,
Negra noite,
Escuridão,
Sou a saudade,
O peito ferido,
Aberto em chaga.
Sou e estou
Na paz
Do que calo
E vivo.
Sou o meu
Próprio desabrigo.
Sou a bailarina
Palha do coqueiro
Para lá e para cá...
Para ali e para lá...
Sou como a criança
Que brinca, festeja
E dança
Em plena guerra.
Sou o desatino
Do barco
Em calmaria.
Sou o veleiro
Que defronta
Com a tormenta.
Sou como o cais
Que espera
Sua âncora
Que desespera
A incerteza
Do que virá.
Aurora,
A última estrela,
O horizonte
Rasgando o dia.
Esperanças,
Calmaria.
Sou o amor,
O flagelo,
A alma
Esculpida
No nada.
Sou como
O rio
Sou a água
Que, irreverente,
Caminha
De encontro
Ao desconhecido
Porto.
Sou o querer,
Sou o desgosto,
Sou a tua
E a minha mágoa.

(Ednar Andrade).