quarta-feira, 25 de julho de 2012

Clareira




Entre o meu,
O teu e os teus tus,
Abriu-se uma clareira.
Clareira, deserto, abismo
De sentimentos.
Deserto sem código,
Sem direção, sem rumo.
Deserto.
Silêncios, lacunas...
Sem sentidos certos.
Um vazio invadiu a calma;
Rasgou as almas, fez-se deserto.
Meu coração sangrando,
Morrendo assim, pulsa, apenas.
Não entendo. Sei que não mereço
Tanto vago silêncio. Penso:
De que é feita a dor?
Para onde fugiu o amor?
Se tudo foi sempre tão certo.
Clareira.
Meu coração gritando
Neste deserto não entende
O que foi feito de tudo
Que era tão lindo,
Que era tão n0sso.
Sem calma, no canto
Da parede da minha dor
Encontro-me encolhida,
Assustada, retraída,
Sem tempo, tímida.
Não sei se fui ou quem sou.
Clareira.
Na noite, abandono do ser.
Investigo a trilha que nos desviou.
Não sei mais quem és, mas sei quem sou:
Mãe, amiga, aquela que tanto ama
E sempre amou. Silêncio não é som.
Quando grito, mas ninguém escuta.
Clareira.
Assim me encontro.
Neste deserto estéril, vazio, sem flor,
Areia é como água, garganta seca,
Mãos erguidas, olhar perdido...
O que foi feito da vida?
Do amor? Ai... Não sei mais,
Não sei mais...
Para onde foi a alegria? Os sonhos?
A incerteza mora em meu peito.
Solidão; flor azul que me acompanha
Quando penso no verde que plantei
E não brotou flor.
Clareira é o que me resta.
Silêncio, esquecimento.
Distribuí flores; nasceram espinhos.
Clareira, deserto: meu único ninho.

(Ednar Andrade).