terça-feira, 5 de abril de 2011

Mágoa



E tu não entenderias
O que diz a minha boca,
O que murmura ou sofreja
Meu coração aflito.
Sou como o coração das madrugadas,
Sou como a flor do deserto
Que mesmo abandonada
Enfeita o caminho de quem passa.
Tu não suportarias a minha presença
E a minha mágoa,
Pois assim como a ave
Que busca no deserto a companhia perdida,
Busco o menor gesto,
A salvação da nau perdida.
Tu não suportarias o gemido
Que da minha alma escapa
Dentro da noite.
Sou como o disperso vulto;
O fantasmagórico som que restou
Do amor.

(Ednar Andrade).

Existir




Às vezes, não basta, existir, é preciso resistir, gritar para sentir que existo, me espetar para sentir que sinto. Às vezes, encher algum espaço com alguma coisa para sentir que contenho algo.

Para matar, para tentar ressuscitar algo, fazer um milagre, me sentir um pouco “Deus”, para não me sentir tão impotente. Enfrentar a angústia com uma lança de dois gumes, para com a medida que me fere o monstro, feri-lo também. Para não me esquecer que ele é parte de mim; me abrir e ver que tenho vísceras, para perceber que não sou só um ser oco e sim pulsante, VIVENTE.

Sentir algo que, por hoje, só hoje, talvez não amanhã, mas hoje me traz a sensação abissal de medo, de me mostrar...

De andar, de correr na direção da morte, abraçá-la (como se isso fosse bom), disfarçada de paraíso mas fedendo a enxofre... Talvez amanhã, talvez amanhã, mas não hoje...

Posto que hoje, existir, não basta........

(Andrey Jack Andrade).