quinta-feira, 28 de abril de 2011

Salsa da praia



Salsa da praia… Uma flor lilás,
Simples, singela.
É comum encontrá-la nos caminhos
Onde mora o mar e nem precisa ser perto.

Salsa da praia… Uma flor linda, simples.
Nasceu para enfeitar o caminho
Dos que nada têm, uma flor para enfeitar
O jardim de ninguém.

Salsa da praia… Uma florzinha terna, frágil,
Mas tão linda, tão natural, assim como Deus fez
Em qualquer quintal.

Flor que abençoa os caminhos de quem mora
Na praia… Como se fossem estrelas que guiam
O caminho de um pescador.

Salsa da praia… Uma flor que até hoje
Enfeita meus cabelos
E me faz lembrar um tempo tão lindo…
Elas nascem com o Sol e morrem no fim da tarde
E permanecem vivas dentro da minha saudade.

(Ednar Andrade).

Néctar





A verdade aproxima-se.
Olha-me com os olhos 
abismados da beleza.

Não sou a mulher
que corta os pulsos e se joga da janela
nem aquela que abre o gás
nem mesmo a loba que entra no rio
com os bolsos cheios de pedra.

Sou todas elas.

Escrever me fez suportar todo incêndio

– toda quimera. 

(Marize de Castro).

terça-feira, 26 de abril de 2011

A sós



Ávida
... A vida,
Café quentinho,
Batata-doce,
Manhã...
O piar
Dos pássaros,
Uma vontade mansa...
De ficar... Nos lençóis.
Manhãs;
Frescas manhãs...
Sem sóis,
A sós,
.
.
.
“Comigo”.
(Ednar Andrade)

sábado, 23 de abril de 2011

Uma dor que não demora



Um olhar,
Um sorriso...
E um silêncio....
Mar, que mar distante...
Areia densa...
Palavra que não falei,
Segredo que não deixei.
Uma saudade e uma fotografia,
Depois, partida...
Partidas, sem adeus!!!
Ausências... Devaneio...
Bordados de medo; “devaneios”...
Medo que se derrama, e derrama em vão.
E seguimos... E na distância
Ou na direção do agora;
Trazemos vivas as lembranças...
Daquele primeiro instante...
E ainda assim, em cada volta
Uma saudade torta, uma vontade morna...
E uma dor... Que não demora.

(Ednar Andrade).

Venenos lentos...


“Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!

Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre”.

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Medo


Ainda me lembro dos dias em que, quando criança, me assustava com a ideia da morte, com a escuridão que meus olhos não conseguiam transpor. Gelavam-me os ossos e o sangue ao imaginar o que poderia surgir daquela escuridão, do monstro que poderia sair de lá e vir em busca de mim.

O medo era meu melhor e único companheiro de todos os dias, quem me cortava a carne e quem também a servia aos convidados do banquete. Todos os dias a carne branca estava à mesa, servida aos abutres que vinham atraídos pelo odor do medo, da podridão que me embriagava as entranhas desde cedo. A imagem serena e clara da carcaça escondia a ausência de qualquer tipo de pureza e beleza interior, mas o espelho me apresentara a face lânguida do meu maior inimigo e com quem eu travaria a mais longa e tórrida guerra.

(Max Araújo).

Singulares dias...


Ao fim da tarde,
O toque do sino,
Anunciando o dia
Que termina,
Alertando a noite
Que começa.
A vida
Parecia grande festa.
Amanhecer...
E o Sol,
Único despertador,
Na fresta, anunciando
Que o dia começa.
O jornaleiro passando
Na porta, anunciando
A notícia que mais importa.
Ímpares manhãs;
Singulares dias,
Onde a dor
Fazia a diferença
Da festa;
Hoje; recordações vagas
Que, de vez em quando,
Me trazem os sinos.

(Ednar Andrade).

terça-feira, 19 de abril de 2011

Não é mágica: é amor!



Um dia lindo, eu observo... 

O colorido ao meu redor; o barulho dos pássaros.  Dá até para falar com o vento, um dos meus companheiros.

De manhã cedo, toco na água cristalina... 
E a coloco dentro de um regador. Parece que quando derramo sobre as flores, em um toque de mágica, elas estão do meu tamanho. 

Mas, não é mágica: é amor.

(Ana Júlia).  

Vó, obrigada por tudo que já me deu e pelo seu amor.TE AMO.   

Reluz


Cintilantes,
Reluzentes...
Diamantes
Bem pequenos...
E o verde, que verde...
Um lençol molhado, 
Com bolinhas cintilantes,
Sutil(antes).
Gotas d'água, gotas d'água...
Amanhece... 
O vento acaricia a natureza;
Depois 
O silêncio diz a prece.
O beija-flor namora as flores;
Poesia e cores...
...Chove...

(Ednar Andrade).
(19.04.2011).

sábado, 16 de abril de 2011

Para mim




Hoje eu li sobre corações e pulmões 
E não importa o quão duro eu tentei 
Tudo o que eu conseguia pensar era seu. 
Seu batimento cardíaco, 
Sua respiração, 
Que bonito é que você está viva, 
E quão trágico é que você não é minha. 
A batida do seu coração 
E como não o seu bombeamento para mim. 
Pensamentos de como eu fiz isso uma vez bater mais rápido 
Para não tem fim. 
Ar correndo em seus pulmões, 
Dentro e fora, 
Dentro e fora, 
Sem perder o ar de mim. 
Lembram-se? Eu ainda posso sentir sua respiração em meu pescoço. 
Mas não, não é meu. 
No entanto, ainda, 
Eu deixei meu coração bater por você, 
Aspiro e respiro por você 
Quando eu digo seu nome em silêncio sob a minha respiração,
Mais e mais. 
Meu coração fica batendo 
E eu continuo respirando, 
Assim por diante. 
Assim por diante.

(Por El Brujo Rock).

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Só hoje



Dia feito para rolar na cama...

Não tenho intimidade com a preguiça, mas hoje a manhã está morna, os lençóis aconchegantes como um abraço de mãe ou de avó...
  
Olho da varanda uma chuva fininha  que me convida a permanecer envolvida nas asas deste sonhar... E recordo os banhos de chuva que tomava na volta da escola quando menina: uma festa, uma enlameada "orgia"... Penso na meninada com uma blusa branquinha... Que a mamãe lavava com tanto zelo, e eu e todos, vínhamos parando nas biqueiras das velhas casas para tomar um triunfal banho nas “cachoeiras” que dos telhados escorriam... Nossa que felicidade! Sapatos na mão, pés nas poças d'água entrando nas correntezas que beiravam as portas e aproveitando o jorro que os carros geravam ao passar por nós, puro barro e lama... Sempre parando para por as mãos nas velhas paredes, pois não me lembro como descobrimos que elas davam choque e quanto maior o choque, maior era  a emoção... Então havia uma  concorrência para provar a coragem; era preciso provar quem a tinha. Seguíamos todos molhados, cabelos cheios de sujeiras que descia dos telhados... Depois ao chegar em casa encarava a bronca e fingia está arrependida: baixava a cabeça e ria... A bronca podia doer, mas o prazer daquele banho (!!!), mais do que tudo, valia... Depois um verdadeiro banho e um prato quente... Humm!!! Que coisa mais linda ver o cinza no céu e o deserto da rua, vestir uma  roupa quente e caminhar nos sonhos, brincar com bilocas na  areia, desenhar peixes na terra molhada, brincar de garrafão e pular corda na calçada e de amarelinha... Santa inocência... Quanto perigo, quanta felicidade! Ser criança é ser anjo, e viver como capeta (fazendo travessuras e rindo delas)... A vida passa, o tempo muda; só os sentimentos e a dor são iguais para todos. Na surpresa desta deliciosa manhã chuvosa e feliz, Júlia me remete à infância... Com olhos bem fechados, gemendo de sono, e preguiça encolhida e linda!!!!!

Ela me disse assim: Vó, hoje não quero ir pra escola, quero ficar aqui... Quero ficar na cama que está quentinha... Deixa vó, só hoje... SÓ HOJE... É TÃO BOM AQUI QUANDO CHOVE.

Eu a abracei e viajei na sua ternura.

(Ednar Andrade).



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dualidade


Para que serve
Esta tristeza
Que rega
Minh’alma
Noite e dia?
Por que sou
Como a sombra
E sigo-te
Sem saber
Do dia?
Para onde
Irei ou irás?
Para que
Seremos
Ou somos
Se o sumo
Deste querer
É distante
E desigual?
Por que
Querer-te,
Oh! Minha dor...
Se és latente
Como
Um mal
E quero-te
Como um bem?

(Ednar Andrade)
(27*02*2011).

Quereres


Silêncios,
Coqueiros,
Sentimentos,
Amor,
Querer,
Quereres,
Desalentos,
Silenciares,
... Silencio...
Noite,
Vento,
Ventania,
Versos
Invento,
São tantos...
Os sentimentos...
Saudade,
Lágrima,
Contento,
Descontento,
Espaço,
A hora,
O tempo,
Eu choro;
Tu olhas.
Eu sinto;
Tu calas.
Escura,
Confusa,
Tal qual
A noite.
Reticente,
Perigosa,
Aflita,
Bendita,
Desdita,
Que busco...
Oh! Calma...
Contento,
Descontentamento...

(Ednar Andrade)
(27*02*2011).


terça-feira, 12 de abril de 2011

E aí?



Pra que tanta bobagem?
Tanta etiqueta, se no fundo tudo é uma faceta
Pra que tanto ódio, tanta agonia?
Tanto corre-corre, em vez de euforia


Se não se leva nada, nem a etiqueta,
Nem o ódio, nem a farsa
Tudo que se leva está na caixa
Vamos amar mais, 


Elevar as mentes para as coisas boas
Porque qualquer dia o sopro acaba
E você meu chapa... O que fez de tudo?
A não ser: Não fez nada?


Não sei por que te falo
E aqui tentando...
Acho que falei,
Mas se ainda tens tempo, faz como te digo


Sejas mais amigo, ame, isto faz bem
Tenha para o próximo um sorriso amigo
Porque qualquer hora vai chegar o trem
E aí? Como é que fica?

(Ednar Andrade)
(02.06.1982).

domingo, 10 de abril de 2011

Memórias...




Lá estava a velha árvore, com galhos tão fortes, um tronco robusto, como uma mãe turca com seios fartos... E braços estendidos como abrigo.

Um alpendre: ali havia uma velha mesa, não existiam cadeiras, seus ocupantes sentavam-se em bancos rústicos, confeccionados com restos de madeiras que sobrara de alguma construção. Pois, além de tanta faceta, o sisudo homem era também pedreiro e erguia com carinho e autenticidade suas moradas...

Mesa aconchegante, onde todos, depois da refeição, permaneciam por puro prazer, prazer de conversar... Contar e ouvir histórias de algum lugar...

Podia ser uma "estória", também fazia bem à alma de quem ali se sentia como num teatro. Eram sempre bem contadas com um tom  colorido de veracidade. Algumas não passavam de velhas e ricas lendas, outras traziam consigo um cheiro real de vida, contadas com tamanha força que trazia seus cheiros e sons.

Um cenário de rica visão: fogão de lenha, onde uma "velha chaleira de ferro  bem pesada" (que ainda guardo comigo), permanecia com uma tépida água para, quem sabe, um bom café ou, na preferência de outros, um calmante chá de canela. Um cesto de vime continha gravetos bem finos,  cortados com capricho para facilitar o acender do fogo, tudo  criado com o descuidado carinho de quem  é "feliz na simplicidade"... Então, família reunida, silêncio durante a refeição, nada se pedia sem dizer "por favor", seguido um satisfeito "obrigado..."

Manhãs de domingo: café bem forte, e na velha mesa, bolo de milho, tapioca e risos... Filhos reunidos, o amor e o pão...

(Ednar Andrade).

sábado, 9 de abril de 2011

Fumaça


Não me ames,
Sou como a fumaça, sumo
E o que deixo
Pode não ter sumo.
Não me queiras,
Sou como a brisa;
Apenas passo por ti
Sem deixar rumo
E o que é trilho: desarrumo;
O que seria norte: desnorteio.
Sou como a tempestade,
Devasto, arrasto, viro, reviro.
Sou como a sombra:
Protejo e parto.
Sou como o mar: água e sal;
Barco e tempestade;
Amor e saudade.

(Ednar Andrade).

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mágoa



E tu não entenderias
O que diz a minha boca,
O que murmura ou sofreja
Meu coração aflito.
Sou como o coração das madrugadas,
Sou como a flor do deserto
Que mesmo abandonada
Enfeita o caminho de quem passa.
Tu não suportarias a minha presença
E a minha mágoa,
Pois assim como a ave
Que busca no deserto a companhia perdida,
Busco o menor gesto,
A salvação da nau perdida.
Tu não suportarias o gemido
Que da minha alma escapa
Dentro da noite.
Sou como o disperso vulto;
O fantasmagórico som que restou
Do amor.

(Ednar Andrade).