sábado, 19 de dezembro de 2009

Vou-me Embora pra Pasárgada




Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá um Existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei nenhum pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando cansado Estiver
Deito na Beira do Rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir uma concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei --
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


(Manuel Bandeira)

Texto inspirado em conversa com Paulinha.

Um comentário:

  1. Ah! Pasárgada... Todos temos um paradise lost, no dizer de Milton, aquele local em que
    nos realizamos, onde somos, em toda plenitude, nós mesmos. Pasárgada para Manuel Bandeira, Ilhota para Ednar Andrade... todos temos um.

    ResponderExcluir