quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Velhos cadernos:

Poemas, contos, desenhos infantis e notas de compra



Velhos cadernos surrados, batidos, mas lá estão guardados todos os sentimentos: textos elaborados, poemas inacabados, notas de compra, desenhos infantis e “avisos” de que: “fui ao supermercado”. Estes cadernos são mundos..., mundos encantados, onde personagens verdadeiros ou inexistentes descansam e sonham com sentimentos bordados.


Poemas, contos e notas de compra, quase diários ou documentários. Universo particular, onde neles moram, em perfeita harmonia, prosa, verso, pensamentos vagos, e quem não teria em sua gaveta, ou sempre à mão, um destes velhos cadernos?(...)

Meus amigos secretos, silenciosos, (quase antiquários) - pau para toda obra! Poderiam virar uma boa “peça de humor”, em momentos mais tristes um drama, nas horas de euforia uma boa prosa. Como uma comunidade unida, todos moram e todos têm espaço. Em cima da mesa, olham para o computador com um certo ciúme. Em suas amarrotadas páginas, guardam segredos e confissões e ali ficam esquecidos, às vezes, entre a poeira e os dias... Mesmo hoje substituídos pelo teclado e seu ruído, serão sempre bons amigos. Parecem ter alma, depositários e fiéis abrigos de sentimentos vários. Amores novos, amores antigos, saudade, canções, desenhos, enfim... Tudo carregam consigo, atravessando o tempo, guardando tantas histórias, velhos cadernos de memórias.   

(Ednar Andrade).

Um comentário:

  1. acta nupcial

    Nesta Lua Nova, sexta-feira, dia treze do oitavo mês
    Estou em Uruk, meu amor, a vinte e cinco séculos de ti
    E as árvores são as mesmas árvores cuja sombra te abrigou
    Os animais rareiam mas são tão iguais aos que perseguiste
    Excepto aqueles que nunca cheguei a conhecer se extinguiram
    Os mesmos rios correm com idênticas águas sempre outras
    O Tigre e o Eufrates antes cristalinos e insubmissos fluem
    Agora tímidos e sujos e estagnam em barragens avulso
    Os homens e mulheres já não flanam em sedas, linhos e lãs
    E os brocados perderam as figuras geométricas que os esculpiam
    Os losangos, círculos e triângulos da incógnita decimal divina
    Nem inquietas danças balançam sob a sua passagem fugaz.

    Mas esta esquina é a mais frequentada da cidade desde cedo
    E nunca me falta trabalho, às vezes ainda se não vê claro e já
    Tenho agricultores ou ricos negociantes para grafar contratos
    Viúvas que querem mandar cartas a seus filhos e mais parentes
    Nem nunca me faltam as tabuinhas de alabastro e terracota
    E a deusa Inanna protege ciosamente altiva os seus súbditos
    Porque Inanna, deusa do amor e da fecundidade, também é fiel
    Súbdita incansável de Arina cuja luz a todos igualmente ilumina
    Incluindo Gilgamesh, Enkidu ou até o sobrevivente Shuruppak
    De quem o dilúvio quase tornou o único homem sobre a terra,
    Embora se saiba hoje que não foi assim, pois todos aqueles
    E aquelas que ao momento adoravam A Deus nos altos píncaros
    Dos montes se salvaram ilesos e íntegros na carícia do vento
    Como quaisquer frutos altaneiros a que as águas não atingem
    Ou o voo das aves se torna impróprio ante encascada polpa.

    Foi a principal prova do poder e gratidão de A Deus entre nós
    De como o seu louvor é benfazejo e imaculado e são e puro
    E de como nele os netos dos homens se fazem à medida avós
    E de como o mundo todo é seu templo sem cúpulas nem muro.

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