quinta-feira, 24 de junho de 2010

Se


Quem me entenderia 'se'...
Pudesse entrar em minha cabeça...
Quem afinal me descobre,
Quando me cubro de espanto?
Quem me conhece tanto e a ponto
De reconhecer o pranto,
Quando sutil deixo escapar
A lágrima que teimo em guardar?
O meu sorriso tão rosa,
Quem o fará desbotar?
A quem confio o encanto
Da minha vida revelar?
Sem engolir uma vírgula,
Nem um ponto?
Desta história que estremece
Feito gelatina da cor do juá
Ainda pergunto sem crer
Na resposta de muita gente:
Quem sou? alguém sabe, gente?
Se existir na boca de alguém
A reticência... eu me conheço
Bem mais que muita gente...
Sem me enganar, nem perder
Ponto, vírgula ou parênteses...
Quem me conhecerá?


(Ednar Andrade).

2 comentários:

  1. As estrelícias esculpidas na seiva da voz
    Descem os minutos de pétala em pétala
    Teu voa delas que nem mais um albatroz
    Prestes a escorregar nas algas da fala
    Voo em delta vela de ângulo perfeito
    Esse de seres pêndulo que dentro do peito
    Me navega e marca horas se batendo cala
    Esse outro suspiro que voando me exala.

    É precisamente esse o tempo da reflexão
    Cujo vaivém me balança quando a lança
    E flecha de Cupido me alcança o coração!

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  2. E agora, com a dignidade de cristal a transbordar de gratidão:

    Décimo Terceiro Cálice


    As estrelícias esculpidas na seiva da voz
    Descem nos minutos da pétala à sépala
    Teu nome soa nelas que nem o albatroz
    Prestes a escorregar nas algas da fala
    Voo de vela em delta ao ângulo perfeito
    Esse de seres pêndulo que dentro do peito
    Me navega e marca horas se batendo cala
    Esse outro suspiro que voando me exala.

    É precisamente esse o tempo da reflexão
    Cujo vaivém me balança quando a lança
    E flecha de Cupido me alcança o coração:

    Porque entre as margens do zénite e nadir
    Há um porto de chegar, e outro de partir
    Incrustados no alvar murmúrio da Lua
    Naquele ângulo interno e esquina de rua
    Onde o vogar do crepúsculo mal soa a rasar
    A face tua no nicho que o oceano entoa.

    Balança, reflecte, te pinta, enfim rasga
    Em treze pedaços de mês por cada ano
    Iguais nos quartos como luminosa nesga
    Punhais, sinais de Arina reflexa e acesa
    Virtuais taças em que te bebo e chamo!

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